Helio Montferre/Ipea
A presidenta do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Luciana Servo, debateu sobre o papel da entidade como órgão de apoio para a formulação de políticas públicas brasileiras, durante o ciclo de debates promovido pela revista Piauí, nesta terça-feira (13/06), em Brasília. As dificuldades com um Poder Executivo menos transparente no passado, a importância de ações afirmativas e o fato de Servo ser a primeira presidente negra do Instituto, onde é servidora desde 1998, foram alguns dos temas pautados pelas jornalistas Flávia Lima e Patrícia Campos Mello.
Servo afirmou que a participação de mulheres negras no serviço público não reflete proporcionalmente sua participação na população, assim como ainda é proporcionalmente pequena a participação de mulheres em geral e de mulheres e homens negros em cargos de direção e de natureza especial. Somente agora o debate para enfrentar a questão foi retomado. Para ela, a presença na presidência do Ipea é um exemplo prático de uma mudança de rumo na conquista de espaço. No caso do Ipea, em particular, entre os processos mencionados pela presidenta para reverter esse quadro estão a criação de grupo de trabalho sobre discriminação e equidade e a possível realização do primeiro concurso da instituição em que se aplicará a reserva de vagas para cotas raciais. Outra mudança prática é discussão sobre a seleção de bolsistas e colaboradores considerando a pauta da inclusão.
Como pesquisadora do Ipea há 25 anos, ela relata que sua indicação foi uma decisão política. “Não deixei de ser pesquisadora em um dia e virei presidenta no outro. Há uma invisibilidade para olhar a mulher como capaz de assumir a presidência do Ipea. Uma instituição que teve 30 presidentes em 60 anos de história, eu ser a terceira mulher e primeira negra evidencia isso”. E lembra que assumiu o cargo por uma decisão política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin, implementada como estratégia de política pública pela ministra Simone Tebet.
Durante o encontro, Servo explicou que a missão do Ipea de produzir conhecimento para assessorar decisões é afetada quando as fontes de informação ou a produção de dados sofrem com corte orçamentário, exemplo, como aconteceu no governo anterior. Outra dificuldade enfrentada é a fragilização de órgãos que produzem informação por falta de valorização do servidor público, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o departamento de informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS). “A falta de informação de qualidade e continuada afeta a vida de todos e o trabalho do Ipea, como o desmonte do CadÚnico, que deve virar estudo de caso”, disse.
A presidente defendeu o papel técnico e a reputação de excelência dos estudos elaborados pelo Instituto como uma barreira contra o uso político indevido. Como exemplo da valorização e qualificação do serviço público, Servo citou o lançamento do livro "Desmonte e Reconfiguração de Políticas Públicas (2016 – 2022). “A nossa agenda não é de governo é de Estado, olhar para os principais problemas, os problemas prioritários e alguns deles podem não estar na pauta do governo”, defendeu.
O evento promovido para debater a natureza da máquina pública, contou ainda com a participação de diferentes personalidades como a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco; o secretário-executivo do Ministério da Fazenda e indicado para assumir o cargo de diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo; além do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes e o analista ambiental do Ibama Roberto Cabral Borges. Os vídeos devem ser publicados em breve no canal do YouTube da Revista Piauí.
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