Helio Montferre/Ipea
O Comitê Organizador do Think 20 Brasil (T20 Brasil) foi instalado oficialmente nesta terça-feira (30), em Brasília, com a presença das presidentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). O evento ocorreu no auditório Anna Peliano, na sede do Ipea. O T20 reúne centros de pesquisa e é responsável pelo pensamento estratégico do G20, grupo das maiores economias globais, com 19 países-membros e a União Europeia. O comitê do Brasil vai mobilizar think tanks nacionais e estrangeiros para produzir estudos e recomendações durante a presidência brasileira do G20, a partir de 1º de dezembro deste ano.
Luciana Servo, presidenta do Ipea, considerou “um bom desafio” a inserção do Instituto no debate internacional em função da liderança brasileira do T20 e da agenda global da presidência do G20. “O trabalho começa mais fortemente agora, com desafios temáticos para o debate, como o empoderamento feminino, o fim da pobreza, o fortalecimento da democracia, entre outros, de modo a qualificar o debate e influenciar a discussão internacional”, disse Servo, acrescentando que a Agenda 2030, das Nações Unidas, está sendo retomada no Brasil.
A presidenta do Ipea destacou a importância dos grupos de engajamento do T20 – como o de mulheres e o de negócios –, para garantir maior representatividade no Think20. Servo ressaltou também o fato de quatro países em desenvolvimento presidirem o G20 em sequência: a Indonésia (2022), a Índia (2023), o Brasil (2024) e, posteriormente, a África do Sul (2025), o que, segundo ela, contribui para a agenda Sul-Sul e para as conexões que precisam ser feitas na governança global.
A embaixadora à frente da Funag, Márcia Loureiro, afirmou que, além de um desafio, as propostas do T20 ao G20 são uma oportunidade para avançar em temas de interesse global. Segundo ela, o debate colocado pelo comitê indiano terá continuidade com a liderança do Brasil. Loureiro citou a “multiplicidade de crises”, como a pandemia de Covid-19, a recuperação econômica e os conflitos armados, bem como transição energética, a transformação digital e a mudança climática, que, a seu ver, exigem ações coletivas. “O objetivo é fortalecer a cooperação internacional para o desenvolvimento”, disse, ao destacar a relevância do Brasil, que retoma seu protagonismo na cena mundial, o que sua responsabilidade dos grupos de trabalho do T20.
Conforme Loureiro, o fato de o Brasil ser o terceiro de uma série de quatro países em desenvolvimento a assumir a presidência do G20 “é uma oportunidade única para o olhar do mundo e a voz dos países em desenvolvimento ser ouvida”. Ipea, Funag e Cebri vão manter abertos os canais para contribuição dos centros de conhecimento e pesquisa no Brasil e no exterior, facilitando a produção de policy briefs, afirmou. A presidência brasileira do G20, ressaltou Loureiro, acontece no ano que antecede a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30) em 2025, em Belém (PA), e abre possibilidades de ações para o T20, estimulando políticas públicas e ideias para reformas que atendam a demandas sociais, econômicas e sustentáveis da Agenda 2030.
A diretora-presidente do Cebri, Júlia Dias Leite, explicou que o Centro possui um histórico de interação com o T20, tendo participado da cúpula do G20 na Índia. Até o final de 2024, a participação no T20, segundo Leite, será pauta prioritária do Cebri. Ela enfatizou que o momento global é desafiador e o que o Brasil poderá sair para um novo patamar na inserção internacional, a partir da janela de oportunidades gerada pelo G20 e pela COP30.
Por sua vez, Adriana Erthal Abdenur, assessora especial do presidente da República, falou sobre a amplitude dos desafios colocados pela governança global, assim como os riscos aos países em desenvolvimento, diante das crises e da nova geopolítica mundial, o que valoriza a tradição brasileira de multilateralismo. “O G20 é um meio, e não um fim”, disse, ao explicar que se trabalha de um espaço de cooperação para obter mecanismos mais eficazes para uma trajetória mais inclusiva, voltada à sustentabilidade, e menos desigual. Segundo ela, o papel do Estado também começa a assumir novos contornos, tornando-se menos liberal.
O diretor de Organismos Internacionais e Desenvolvimento da Secretaria de Assuntos Internacionais e Desenvolvimento do Ministério do Planejamento e Orçamento, João Luís Rossi, manifestou o apoio ministerial ao Comitê Organizador do T20. Ele explicou que a agenda internacional em sua diretoria está focada em bancos multilaterais regionais. Segundo Rossi, o G20 discute como alavancar mais recursos para aplicar em projetos que vão gerar maior inclusão, transição energética e uma economia descarbonizada. “O T20 tem o papel de alimentar a discussão e possibilitar que propostas sejam levadas adiante”, disse.
O evento foi mediado pela jornalista Leila Sterenberg, senior fellow do Cebri. Ela chamou a atenção para a relevância do comitê organizador, que, junto a centros de pesquisa brasileiros e estrangeiros, vão eleger os temas prioritários a serem apresentados para a tomada de decisões estratégicas pelo G20, e para o fato de três mulheres estarem à frente das instituições que lideram o comitê.
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