Demografia. População

Pandemia de Covid-19 acelerou o processo de redução populacional no Brasil

Diminuição da população deve se iniciar a partir da primeira metade da década de 2030

Helio Montferre/Ipea

A população brasileira poderá alcançar cerca de 209 milhões de habitantes em 2040, frente aos atuais 207,8 milhões estimados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), recentemente. A tendência é de crescer até 2030, alcançando em torno de 215 milhões de pessoas, quando então deverá seguir decrescente. O estudo “A Dinâmica Demográfica e a Pandemia: Como Andará a População Brasileira?”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta sexta-feira (12), mostra que esse comportamento resulta da continuidade da redução da taxa de crescimento da população total, que poderá situar-se próxima a -0,5% ao ano no final do período da projeção.

Assinada por Ana Amélia Camarano, coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações no Ipea, a análise mostra que o envelhecimento populacional, verificado no Brasil desde os anos 1980, deve se acelerar, e apenas a população com mais de 45 anos poderá experimentar taxas positivas de crescimento a partir de 2030, em função da pandemia de Covid-19. “Esperam-se taxas negativas de crescimento para os demais grupos etários e um superenvelhecimento da população brasileira”, afirma Camarano. Os resultados sugerem, segundo ela, que o volume populacional permanecerá em queda após 2035 por um período mínimo de 30 anos.

Um dos efeitos da pandemia foi a redução da expectativa de vida de 4,5 anos da população masculina e feminina, entre 2019 e 2021, devido ao aumento do número de óbitos por Covid-19. O diferencial entre homens e mulheres na expectativa de vida ao nascer passou para 7,4 anos, diante do aumento maior da mortalidade masculina pelo vírus. A perda estimada para a população em idade ativa foi de cinco anos e, para a população idosa, de 4,2 e 3,8 anos – homens e mulheres, respectivamente, um quarto e um quinto do tempo de vida ganho entre 1980 e 2019. “Além do aumento das taxas de mortalidade, a pandemia afetou o padrão de causas de morbidade e mortalidade”, explica Camarano. O aumento do número de óbitos deve-se principalmente ao acréscimo acentuado de doenças infectocontagiosas, quase nove vezes a mais.

Camarano constatou que essas tendências impactam as demandas por políticas públicas, gerais e setoriais, a oferta de força de trabalho e a produtividade. “Embora as macrotendências já estejam dadas, a intensidade e o timing dos processos são afetados por eventos externos, como a pandemia de Covid-19”, assinala a pesquisadora, para quem essas mudanças exigem atualização constante das projeções populacionais, visando ao ajuste das políticas públicas. “As transformações demográficas em curso e as projetadas, além de afetarem o ritmo de crescimento populacional, afetarão também, significativamente, a distribuição etária”, avalia Camarano. Segundo ela, esse efeito ocorre de forma defasada, atingindo inicialmente os grupos etários mais jovens e se estendendo aos demais em um momento posterior.

Para a pesquisadora, é improvável uma reversão da tendência de diminuição da população nos próximos 40 anos. Entre as consequências, a curva de oferta de trabalho está se tornando mais inelástica, e os salários e a taxa de desemprego tendem a ficar mais sensíveis aos movimentos de aumento da demanda por trabalho. Os desafios de se ter uma sociedade envelhecida, pontua Camarano, vão além de atender às necessidades da população idosa e passam por assegurar a produtividade dos trabalhadores, independentemente da idade. Para isso, as políticas de educação e saúde são fundamentais, incluídas a saúde ocupacional e a previdência social, além de incentivos à pesquisa e ao desenvolvimento de novas tecnologias que possam assegurar a melhoria nas condições de vida.

Acesse a íntegra do estudo

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