Uma agenda diversa e estratégica, que envolve desde possibilidades comerciais e atração de investimentos, a parcerias e transferências tecnológicas, deverá marcar a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, neste mês. A avaliação, sob a ótica da relação ganha-ganha, foi feita por dois pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Renato Baumann e Marco Aurélio Mendonça, especialistas em relações internacionais, a partir da análise de estudos que compõem o acervo do Instituto sobre esse tema. Essa curadoria de pesquisas sobre o gigante asiático, principal parceiro comercial do Brasil, está em uma nova página especial produzida pelo Ipea. O objetivo é contribuir para o debate público e o diálogo Brasil-China.
A seleção dos textos foi estruturada em cinco blocos temáticos: agricultura; tecnologias; comércio bilateral; transição energética; cooperação, financiamentos e investimentos. A página também traz um artigo inédito de Mendonça sobre como a China está promovendo sua transição energética a partir de fontes renováveis e impulsionando esse setor no Brasil e na América Latina.
Os pesquisadores observam que se trata da terceira viagem presidencial ao exterior no atual mandato. O primeiro país visitado pelo presidente Lula foi a Argentina, principal parceiro regional no âmbito do Mercosul, seguindo-se os Estados Unidos, o maior parceiro continental do Brasil. Agora, a comitiva presidencial, com cerca de 200 empresários, vai à China, principal mercado dos produtos brasileiros na atualidade. O Brasil também é o país da América Latina que mais atrai investimento direto chinês, mas ainda há espaço potencial para a aplicação de novos recursos, afirmou Baumann. Segundo ele, o estoque de capital chinês investido no Brasil alcança cerca de US$ 70 bilhões.
A agenda comercial envolve a expectativa de retomada das exportações brasileiras de carne bovina, recém-liberada pela China, e de outros alimentos, além do minério de ferro, observou Baumann. A seu ver, o Brasil está apostando na recuperação econômica do gigante asiático, com impacto favorável ao produto brasileiro. Nessa agenda, completou Mendonça, também está o agronegócio, para além das exportações de soja e carne, e alcançando outros setores com potencial para ampliar essa participação brasileira no mercado chinês, entre eles, as indústrias de laticínios, que têm potencial de exportação para China.
Outra agenda relevante é a de investimentos, concordam os pesquisadores, ao explicarem que o Brasil precisa de recursos de poupança externa para financiar o seu desenvolvimento, pois ainda há gargalos a serem superados. O leque é amplo e diverso. Há expectativa de investimento chinês em setores como transporte, telecomunicações, energia, saúde e produção de semicondutores. No setor de saúde, especificamente, a pandemia de Covid-19 mostrou a necessidade de se investir em equipamentos, insumos e infraestrutura de hospitais, afirmou Baumann. “Também há interesse da China em ferrovias e investimentos em agricultura sustentável”, disse.
“O capital chinês, assim como de outros países que queiram aportar recursos no Brasil, é bem-vindo”, disse Mendonça. Ele e Baumann concordam que essa viagem poderá favorecer a reativação de fundos chineses, capazes de inversões no Brasil, e a criação de novos fundos. Baumann lembrou do Fundo Brasil-China, da ordem de US$ 20 bilhões, que ficou “em banho-maria” no governo anterior e, agora, tende a ser reativado.
Conforme os pesquisadores do Ipea, outra agenda mescla parcerias e transferências tecnológicas, que podem gerar resultados favoráveis ao Brasil, pois já existe um canal de cooperação com a China no setor aeroespacial que pode ser incrementado. O Brasil tem interesse também em cooperação tecnológica, particularmente no setor aeroespacial, tendo em vista a conclusão do sexto satélite conjunto com a China e o virtual início da discussão relativa ao sétimo satélite, instrumentos que monitoram a Amazônia e o desmatamento na região.
Somam-se os setores de geração e transmissão de energia, além de energia solar e equipamentos para energia eólica. Na área de transição energética também há algumas possibilidades, avaliou Mendonça, ao lembrar a aquisição de empresas brasileiras por grupos chineses. “A China tem potencial, por se líder mundial, para desenvolver o setor de energia renovável no Brasil, por meio de parcerias e transferências tecnológicas, o que também geraria empregos”, disse o pesquisador do Ipea.
“A pauta de infraestrutura é importante para a integração regional”, acrescentou Mendonça. Uma demanda do Centro-Oeste é o Corredor Bioceânico, que requer investimentos em infraestrutura, pois, além de recursos, a China tem expertise em construção civil, que gera empregos. Os chineses também seriam beneficiados se o escoamento da produção do interior do Brasil ocorresse por meio do Oceano Pacífico e não pelo Oceano Atlântico, como ocorre com a maioria das exportações brasileiras, assinalou o pesquisador.
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