Helio Montferre/Ipea
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Fundação de Previdência Complementar FIPECq, em parceria com o Ipea, realizaram nesta segunda-feira (20) o seminário ''Violência Contra a Mulher'', parte da campanha ''Elas Fazem Assessoria, Pesquisa e Patrimônio Cultural'' e das comemorações pelo Mês da Mulher. O evento foi aberto pela presidenta Luciana Servo no auditório Anna Peliano, sede do Ipea, em Brasília. Ela lembrou uma pesquisa publicada pelo Instituto no começo do mês, que indica a ocorrência de cerca de 822 mil casos de estupro no Brasil a cada ano, o equivalente a dois por minuto. Apenas 8,5% dos crimes são registrados pela polícia e 4,2% pelo sistema de saúde.
''Temos que trazer a discussão para dentro das instituições. E também trazermos os homens para dentro do debate'', disse a presidenta, acrescentando que o tema vem sendo pesquisado pelo Ipea há muitos anos. Para o presidente do Iphan, Leandro Grass, este é um novo tempo do Estado brasileiro, que se esforça para colocar o protagonismo feminino na agenda pública. ''Esse não é um debate só das mulheres. Temos que reconstruir nosso papel masculino. Isso implica diálogo entre homens e mulheres'', afirmou Grass.
O Iphan criou um grupo de trabalho que organizará a Comissão de Equidade e Diversidade de Gênero para acolher as servidoras públicas que sofrem violência doméstica ou no ambiente de trabalho. Esse projeto dará seguimento às denúncias feitas por elas. O Ipea também lançará, nesta terça-feira (21), um grupo de trabalho para abordar o tema da equidade de gênero e elaborar uma proposta de plano de ação.
A pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) Carla Antloga palestrou sobre a violência contra a mulher. Ela comentou que, quando mergulhou na realidade e conversou com as mulheres vítimas de violência, viu que muitas delas iam trabalhar no dia seguinte ao estupro. Com esse exemplo, Antloga quis mostrar como a mulher não é acolhida em sua dor e a naturalização que se faz do tema. Ela citou o livro ''A Criação do Patriarcado: história da opressão das mulheres pelos homens'', de autoria de Gerda Lerner, e disse que, ao longo do tempo, a história da humanidade foi contada por homens. De acordo com Antloga, isso significa que a sociedade está imersa no paradigma patriarcal, que é machista, e esse sistema se infiltra na consciência das pessoas.
Antloga destacou ainda três aspectos que precisam ser analisados quando se fala em violência contra as mulheres: a naturalização, a banalização, e saber de quem é a responsabilidade. E lembrou que a violência sistêmica também se reflete no trabalho. Citou, como exemplo, que muitas vezes os homens se apropriam das ideias de mulheres e interrompem discursos delas. Outro ponto relevante na palestra foi a questão de como a mulher é silenciada. Se ela sofre e comunica isso, é silenciada ou ignorada porque, de acordo com a pesquisadora, o sistema patriarcal só dá voz aos homens.
''O sistema diz que a mulher tem que obedecer a estereótipos, tem que agradar ao homem. A mulher tem que aceitar o sofrimento. A felicidade plena não é dela. Falar da violência contra a mulher é falar do tapa e do estupro que ela recebe, mas também é falar sobre o sistema que colapsa a saúde mental dela. A mulher precisa de autonomia para usufruir de sua liberdade. Sem autonomia, ela está vulnerável. Ter autonomia é tomar livremente decisões que afetam a nossa vida. A mulher sofre pressão social. É cobrada por gentileza, ter bom humor e capacidade intelectual. Ela deve estar disponível emocionalmente o tempo todo. É uma violência ter de estar afetivamente disponível'', completou Antloga.
Em seguida, o público assistiu a uma mesa de conversa com a mediação da coordenadora-geral substituta de Cooperação Nacional e servidora do Iphan, Maíra Corrêa. As participantes do debate foram a pesquisadora do Ipea Joana Alencar e a coordenadora do Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade de Gênero e Raça do Senado Federal, Stella Maria Vaz.
Alencar falou sobre a importância de uma rede de apoio e citou, especificamente, a necessidade de se criar, nas instituições públicas, um local de acolhimento e orientação às mulheres vítimas de violência de gênero, principalmente se esse problema ocorrer no trabalho. A pesquisadora do Ipea mencionou, ainda, o trabalho que é realizado, pela Justiça, com homens agressores que são obrigados a participar de grupos para reflexão, uma espécie de reeducação e reabilitação social. Essa ação é realizada, em Brasília, para homens com histórico de agressão doméstica. Alencar sugeriu que essa metodologia seja aplicada em casos com outros tipos de violência.
Vaz comentou sobre a importância da Ouvidoria no ambiente de trabalho e disse que foi criado, há um ano, no Senado Federal, um programa pró-equidade do qual fazem parte 11 órgãos públicos federais. Esse comitê está aberto a novas parcerias com governos municipais e estaduais. ''A estrutura social é machista. A instituição tem obrigação de reparar essa estrutura. Cada pessoa deve ter o compromisso de desfazer essa estrutura machista'', afirmou a coordenadora. Na parte da tarde, houve a inauguração, no pátio de entrada das sedes do Ipea e do Iphan, da exposição ''Elas Fazem Patrimônio Cultural'', com registros da fotógrafa Mariana Alves, e a apresentação musical do Trio à Brasileira.
Como denunciar
Central de Atendimento à Mulher: 180
Polícia Militar: 190
Polícia Civil: 197
Na delegacia física
Pela internet (quase todos os estados adotaram o boletim eletrônico de ocorrência)
Acesse a íntegra do seminário
Comunicação - Ipea
(21) 3515-8704 / (21) 3515-8578
(61) 2026-5501
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.