Nos dias 25 e 26 de setembro, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) recebeu Helmut Schwarzer, representante da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com sede em Genebra, para apresentar o Relatório Mundial sobre Proteção Social 2024-2026. O documento revela que, pela primeira vez, mais da metade da população global (52,4%) está coberta por proteção social, uma proporção superior aos 42,8% registrados em 2015, ano em que foram adotados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Além disso, Schwarzer participou do Seminário das Quintas, onde, ao lado de outros pesquisadores do Ipea, discutiu o hiato de financiamento necessário para a universalização da proteção social, com foco nas estimativas e estratégias para gerar espaço fiscal em níveis global, regional e nacional.
Em sua fala, Schwarzer destacou a importância do relatório para orientar políticas públicas, especialmente em um contexto de crise global. "Nosso objetivo é mostrar o estado atual dos sistemas de proteção social no mundo e como eles podem ser parte das políticas de enfrentamento às mudanças climáticas", afirmou. O documento, uma das principais publicações da OIT, aborda questões cruciais para os sistemas de proteção social em todo o mundo, e como esses sistemas podem enfrentar desafios como a pandemia de Covid-19 e as mudanças climáticas.
Schwarzer explicou que, no Brasil, a cobertura dos sistemas de proteção social se destacou em relação à média latino-americana, com dados coletados até 2022. O país apresentou avanços em benefícios como aposentadorias e pensões, e o número de contribuintes ativos também aumentou, refletindo maior proteção contra acidentes de trabalho. No entanto, ele apontou que ainda existem lacunas importantes, como a insuficiente cobertura de benefícios para desempregados. Schwarzer ressaltou que Brasil e México são os grandes responsáveis pelo aumento da cobertura na América Latina, devido a políticas recentes que expandiram a proteção social. No México, a universalização das aposentadorias para idosos e a reformulação do sistema de saúde foram ações que contribuíram significativamente para esse avanço.
Carlos Henrique Leite Corseuil, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, mediou o evento e comentou os dados apresentados sobre o seguro-desemprego em diferentes países, destacando dois pontos principais: primeiro, que ao analisar a cobertura do seguro-desemprego entre diferentes grupos de países, categorizados por nível de riqueza, percebe-se que a cobertura tende a ser significativamente menor nos países menos ricos. O segundo ponto é que, ao comparar países mais e menos ricos, a duração máxima do benefício não varia tanto. "Me chamou a atenção o fato de que a cobertura do seguro-desemprego é fortemente dependente do grau de desenvolvimento econômico do país", destacou.
Para encerrar, Schwarzer reafirmou o compromisso da OIT em continuar monitorando e promovendo a expansão da proteção social globalmente, especialmente em países de baixa renda, que ainda enfrentam grandes desafios para alcançar uma cobertura mínima adequada.
Durante o Seminário das Quintas, realizado na última quinta-feira (26/9), Schwarzer ressaltou a importância de abordar as lacunas no financiamento da proteção social. "A criação de um sistema de proteção social universal é um desafio que requer o comprometimento conjunto de países, instituições e da sociedade civil", afirmou. Ele ressaltou que, para alcançar essa meta, é essencial que os países adotem medidas que promovam um aumento substancial nos investimentos em proteção social.
O estudo apresentado no seminário revelou que, dos 177 bilhões de dólares necessários, 66 bilhões são destinados à saúde e 110 bilhões a benefícios monetários. "Curiosamente, na América Latina, essa realidade se inverte, evidenciando que muitos países enfrentam lacunas maiores em benefícios monetários do que em saúde", destacou Schwarzer. A discussão também abordou dados sobre a situação das mulheres na América Latina, indicando que 75% das mulheres em idade de aposentadoria não têm renda própria. "As mulheres têm níveis de cobertura comparativamente mais baixos que os homens", salientou. O gap total de investimento em proteção social na região é de 1,4 trilhão de dólares, sendo 177 bilhões apenas na América Latina.
A presidenta do Ipea, Luciana Santos Mendes Servo, presente no evento, destacou a importância de discutir a centralidade da proteção social nas políticas públicas do Estado brasileiro. "Esse trabalho tem um padrão muito interessante, pois nos permite discutir o que queremos financiar e quais são os marcos estabelecidos. Ele também nos ajuda a enxergar além das fronteiras, reconhecendo que o debate global influencia diretamente os modelos de financiamento que adotamos. O seminário nos oferece uma oportunidade valiosa de refletir sobre essa interação e fortalecer a construção de políticas públicas alinhadas aos padrões internacionais", afirmou Luciana.
Schwarzer ressaltou a importância de desenvolver fontes de receita domésticas para financiar a proteção social. "A ajuda internacional não é suficiente para sustentar os grandes volumes de despesa necessários", alertou, ressaltando que os países devem mobilizar recursos domésticos por meio de impostos e contribuições sociais.
O seminário também enfatizou a luta contra os fluxos financeiros ilícitos e a necessidade de uma reforma na arquitetura financeira internacional. Por fim, Schwarzer concluiu que o fortalecimento da proteção social é fundamental para a construção de sociedades mais justas e equitativas. "Investir em proteção social não é apenas uma questão de justiça, mas uma necessidade para o desenvolvimento sustentável", disse.
OIT
Fundada em 1919, a OIT tem como missão promover a justiça social e o trabalho decente. Schwarzer explicou que, além de apoiar governos, a organização trabalha em parceria com sindicatos e entidades empresariais para desenvolver sistemas de proteção social mais inclusivos e eficientes.
Por meio de sua governança tripartite, que envolve governos, empregadores e trabalhadores, a OIT estabelece normas internacionais que definem padrões mínimos de seguridade social. O compromisso da organização com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente aqueles voltados para a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades, orienta suas ações para os próximos anos.
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Chery do Brasil
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, nesta segunda-feira (30), a Visão Geral da Conjuntura, uma análise do desempenho da economia brasileira. O Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea revisou a projeção de crescimento para 3,3% do produto interno bruto (PIB) brasileiro para 2024. Para 2025, a estimativa passou de 2,3% para 2,4%, conforme a tabela abaixo.
Ao contrário do que se poderia pensar em junho, durante o lançamento da última Visão Geral, os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre o PIB agregado parecem ter se exaurido no curto prazo. Com efeito, os indicadores conjunturais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), talvez por questões amostrais, as enchentes apenas geraram volatilidade ao longo do segundo trimestre, com quedas acentuadas em maio sendo seguidas de fortes crescimentos em junho.
Impulsionado pela boa evolução do mercado de trabalho e por melhores condições de acesso ao crédito, o desempenho das vendas de bens e serviços às famílias manteve a tração ao longo de 2024, e segue como principal driver da economia. Após um ano de 2023 decepcionante, a demanda por bens de capitais também se destacou positivamente, potencializando uma recuperação verificada na indústria de transformação, embora num ritmo ainda modesto. Como consequência, além do bom desempenho da produção interna, as importações seguem registrando expansão, fato também evidenciado pelo crescimento mais acelerado do Consumo Aparente (CA) de bens industriais, em relação à produção física. Já as exportações, com importante contribuição para o crescimento do PIB em 2023, vêm apesentado alguma desaceleração.
Por outro lado, alguns fatores indicam um crescimento menos robusto para o segundo semestre de 2024, em comparação com o primeiro. Enquanto o Banco Central iniciou, em setembro, um ciclo de aumento da taxa de juros, o impulso fiscal por parte do governo tende a ser menor do que o ocorrido anteriormente. Já com relação à situação financeira das famílias, embora a massa de rendimentos continue registrando ganhos reais, a trajetória de alguns índices de preços, notadamente no setor serviços, tem se tornado menos favorável.
A surpresa positiva em relação ao ritmo de crescimento do PIB no segundo trimestre, resultou em um elevado efeito de carregamento estatístico (2,7%) para o resultado de 2024. Em relação à previsão para o terceiro trimestre de 2024, estima-se que o PIB apresente crescimento de 0,4% na margem, com alta de 3,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Pelo lado da oferta, o Ipea projeta uma alta de 0,3% para o setor de serviços na comparação com o segundo trimestre, com crescimento de 3,5% interanual. Ao longo do restante do horizonte de previsão, mesmo num ritmo menos intenso, espera-se que o setor continue sendo um dos principais motores do resultado do PIB, acumulando altas de 3,4% e 2,5% em 2024 e 2025, respectivamente. Em relação à indústria, em um cenário com estoques abaixo do planejado e o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) rodando acima da sua média histórica, a expectativa é de um avanço de 0,8% na margem, com alta de 3,5% em relação ao terceiro trimestre do ano passado. Considerando os efeitos do ciclo de aumento das taxas de juros iniciado em setembro, o Ipea prevê um desempenho mais modesto em 2025, com crescimento acumulado de 2,1%.
Por fim, com base na piora das projeções para o resultado da lavoura em 2024, divulgadas no boletim Levantamento Sistemática da Produção Agropecuária, a previsão é de uma queda de 0,7% do PIB agropecuário no acumulado do ano. Em 2025, os pesquisadores projetam alta de 2,5%.
Pela ótica da demanda, o Ipea prevê mais um bom desempenho da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no terceiro trimestre de 2024, com crescimento de 1,5% na margem, resultado compatível com a alta de 8,7% comparação interanual. Com carry-over de 5,5% para este ano, em um ambiente econômico caracterizado por um mercado interno aquecido e pela recuperação da indústria manufatureira, projetamos aumentos de 6,2% em 2024 e de 3,2% em 2025.
O consumo de bens e serviços deve continuar crescendo, embora com menos folga no orçamento das famílias, em função de um cenário menos benigno para a inflação e da expectativa de um menor impulso fiscal no segundo semestre. Com isso, a projeção de crescimento do consumo é um avanço de 0,6% com ajuste sazonal e alta de 4,3% sobre o mesmo trimestre de 2023. Para 2024, após um semestre que superou as expectativas dos pesquisadores, o Ipea aumentou o resultado acumulado para 4,6%. Com uma taxa de juros prevista para o fim de 2025 maior do que a anteriormente estimada, o consumo de bens de serviços desaceleraria para 2,5% em 2025.
No último trimestre, apesar da surpresa positiva causada pela queda mais acentuada dos preços dos alimentos em julho e agosto, houve uma deterioração do ambiente inflacionário, a partir de uma nova aceleração dos preços dos serviços e o surgimento de fatores de pressão adicionais sobre os preços dos alimentos, da energia e dos combustíveis. A alta de 4,2% do IPCA em agosto repercutiu os impactos da desvalorização cambial, especialmente sobre os preços comercializáveis, além dos efeitos do aquecimento do mercado de trabalho sobre a inflação dos serviços livres.
Embora a inflação em doze meses ainda mostre uma tendência de desaceleração ante à observada em 2023, a conjuntura atual revela que este processo de desinflação tende a ser mais lento que o projetado anteriormente. Por isso, a expectativa para os próximos meses é de leve aceleração da inflação em 12 meses, ainda que inferior aos 4,6% observados em 2023: as projeções inflacionárias passaram de 4,0% para 4,4% em relação ao IPCA e de 3,8% para 4,2% em relação ao INPC em 2024.
Acesse a Visão Geral da Carta de Conjuntura
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Helio Montferre/Ipea
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) marcou presença no 23º Encontro Nacional de Estudos Populacionais (Abep), realizado de 23 e 26 de setembro na Universidade de Brasília (UnB), com apoio técnico do instituto. O evento reuniu cerca de 500 participantes, incluindo pesquisadores, gestores públicos e representantes da sociedade civil, e abordou as complexas interações entre dinâmica demográfica, crise climática e justiça social, discutindo como esses temas impõem novos desafios às políticas públicas brasileiras. Técnicos de planejamento e pesquisa do Ipea estiveram presentes no encontro e contribuíram para debates fundamentais na construção de políticas mais justas e sustentáveis, pautadas por dados recentes do Censo Demográfico de 2022.
A presidenta do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo, participou da mesa intitulada “Dinâmica demográfica, crise climática e justiça social: novas questões, velhos desafios”. Durante sua fala, ela reforçou a necessidade de construir uma agenda estratégica que coloque o desenvolvimento inclusivo e sustentável como prioridade. “Para promover o desenvolvimento, é preciso considerar aspectos além dos econômicos. Colocar o desenvolvimento inclusivo e sustentável no centro, juntamente com a discussão econômica, é a forma de estruturar a agenda que o Ipea está trabalhando hoje”, afirmou, enfatizando a importância de abordar questões como mudanças climáticas e inclusão social de maneira integrada.
Luciana também destacou os desafios que o Brasil enfrenta em relação à mudança climática e ao financiamento de políticas de adaptação. “Não existe desenvolvimento econômico viável sem considerar as questões de gênero e raça. O desenvolvimento que ignora essas dimensões é inconsistente, pois exclui grande parte da força de trabalho e do potencial do país das oportunidades”, explicou. Além disso, ressaltou a necessidade de repensar a estrutura de financiamento internacional para políticas públicas, especialmente em áreas críticas como a adaptação climática, que tem recebido menos atenção e recursos do que a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
O evento também contou com a participação de outros representantes do Ipea em diversas mesas-redondas. Rafael Pereira, pesquisador e coordenador de Ciência de Dados do instituto, discutiu as desigualdades regionais e o crescimento econômico, apresentando propostas para políticas que promovam o desenvolvimento regional com base em diagnósticos precisos das disparidades socioeconômicas.
A programação do encontro também contou com um debate dedicado aos Cadernos ODS do Ipea, no qual foram apresentadas análises sobre o progresso brasileiro em relação às metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), elaboradas em colaboração com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A coordenadora do Comitê ODS do Ipea, Enid Rocha, conduziu o debate, que incluiu avaliações sobre pobreza, saúde, trabalho e clima. A mesa também trouxe a proposta do ODS 18, apresentada por Tatiana Dias Silva, do Ministério da Igualdade Racial, que visa promover a igualdade racial como um objetivo adicional à Agenda 2030.
A presença do Ipea no evento ressaltou a relevância de articular diferentes frentes para construir políticas públicas fundamentadas em dados e orientadas para a justiça social. Ao integrar a análise demográfica, o combate às desigualdades e a adaptação climática, o instituto reforça seu papel na busca por soluções inclusivas para os desafios do Brasil. “A transversalidade dessas agendas exige um esforço coletivo e constante para repensar o desenvolvimento econômico de forma mais justa e sustentável”, concluiu a presidenta Luciana.
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Para celebrar os 60 anos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) promoveu, na última segunda-feira (30/09), o seminário “O Papel do Grupo de Conjuntura da Dimac nos 60 anos do Ipea”. O evento destacou a trajetória dos especialistas e técnicos que, ao longo dessas seis décadas, contribuíram para qualificar o debate público sobre políticas econômicas no Brasil. As apresentações abordaram as principais análises e contribuições do grupo para a formulação de políticas públicas que atendam às demandas da sociedade brasileira, especialmente diante dos desafios econômicos do país.
“O documento de conjuntura, a carta e o blog são resultado de um esforço gigantesco de vários profissionais e colegas, que realizam o trabalho com dedicação ímpar. O debate sobre conjuntura está na origem do Ipea, e não é por acaso que aparece na celebração dos 60 anos de sua fundação. Desde o início, o instituto promove uma reflexão e diálogo, inclusive com os ministérios, sobre o que estava acontecendo na economia brasileira e os rumos que a política macroeconômica tomava em cada momento”, enfatizou Claudio Roberto Amitrano, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas, na mesa de abertura do evento
O envolvimento do Ipea com a análise da conjuntura econômica data do final da década de 1970, quando técnicos do instituto ficaram responsáveis por organizar reuniões regulares para debater o desempenho de curto prazo da economia. Amitrano ressaltou a importância da contribuição dos 16 coordenadores da Carta de Conjuntura ao longo da história: “Comemorando 60 anos de legado, estou convencido de que continuaremos a contribuir significativamente para o Brasil, orgulhando o governo e a sociedade brasileira”, concluiu.
A diretora-adjunta de Estudos e Políticas Macroeconômicas, Mônica Mora, mediou o debate durante o evento e enfatizou a inter-relação entre a teoria econômica e a análise conjuntural: "A macroeconomia se depara com a realidade, onde a teoria nos ajuda a antecipar as oscilações cíclicas que caracterizam a economia, além dos movimentos de longo prazo, como se o presente, passado e futuro se entrelaçassem.” Para ela, os desafios percebidos na conjuntura dialogam com a Teoria Econômica, levando a avanços teóricos na discussão sobre o ciclo e o crescimento de longo prazo.
Fábio Gambiagi, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, destacou o desafio de comunicar todo o material produzido pelo grupo, incluindo também os leigos no assunto, uma tarefa sempre difícil, mas fundamental. Já Paulo Levy abordou a necessidade de consenso após períodos turbulentos e enfatizou a importância de superar divergências para favorecer uma compreensão mútua: "Após esses anos tão turbulentos na vida do país, cada um de nós deveria tentar identificar o que era possível concordar minimamente. O acirramento das divergências muitas vezes leva a uma linguagem completamente envolvente, e isso é algo que, na medida do possível, deveríamos deixar para trás em benefício da melhor compreensão do ponto de vista do outro”, concluiu.
Exaltando o trabalho de toda a equipe por trás de cada publicação, Estêvão Kopschitz, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, destacou a agilidade necessária na produção de análises conjunturais: "A conjuntura é uma publicação que precisa ser lançada rapidamente, senão perde sua atualidade. Ao longo dos anos, o grupo de conjuntura manteve um ritmo trimestral, mesmo hoje sendo totalmente digital. Seguimos utilizando modelos de previsão, construindo indicadores e contribuindo com análises institucionais que informam as decisões da diretoria e da presidência, além de servir como referência para o governo e a sociedade”.
Júlia Braga, subsecretária de Acompanhamento Macroeconômico e Políticas Comerciais do Ministério da Fazenda, também elogiou a força de todo o Grupo que elabora a Carta de Conjuntura: “A Carta de Conjuntura do Ipea é uma fonte segura para embasar discussões econômicas, sempre trazendo uma visão equilibrada e livre de interesses específicos”. Para ela, a conjuntura é uma fonte confiável, isenta e preciosa, com excelência de conteúdo técnico reconhecida não apenas no Brasil, mas internacionalmente.
Entre os debatedores estavam Cláudio Hamilton Matos dos Santos, atual coordenador de Acompanhamento e Estudos da Conjuntura do Ipea. Também participaram os ex-coordenadores do Grupo de Conjuntura: Paulo Mansur Levy (participação online), técnico de planejamento e pesquisa aposentado do Ipea; e Miguel Bruno, professor e pesquisador da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Grupo de Conjuntura
Criado em 1987, o Grupo de Conjuntura acompanha indicadores macroeconômicos que refletem o comportamento da economia do país. Além disso, o grupo produz boletins e relatórios periódicos com análises e projeções sobre a economia brasileira, abrangendo itens como PIB, inflação, mercado de trabalho, finanças públicas, setor agropecuário, economia mundial e comércio exterior. Entre suas principais publicações está a "Visão Geral", uma análise trimestral da economia brasileira, publicada no dia 30 de setembro.
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Helio Montferre/Ipea
Com 60 anos de experiência dedicados à pesquisa para a formulação e avaliação de políticas públicas em um amplo leque de temáticas, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) capacita profissionais da administração pública desde seus primórdios, com as atividades do Centro de Treinamento para o Desenvolvimento Econômico e Social (Cendec). Atualmente, com o Mestrado Profissional em Políticas Públicas e Desenvolvimento do instituto, 134 alunos já se formaram e 66 alunos estão em processo de formação. O seminário "A Pós-Graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento do Ipea: Passado, Presente e Futuro", realizado nesta sexta-feira (27), destacou-se a relevância do programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento (PPPD). Coordenadores, egressos e especialistas participaram do evento, que ressaltou como o mestrado do Ipea é essencial para capacitar profissionais frente aos desafios do setor público e fortalecer o planejamento estratégico no Brasil.
Na abertura do evento, a presidenta do Ipea, Luciana Mendes Santos Servo, ressaltou que o programa de mestrado atua como uma ferramenta estratégica. “O Ipea mantém uma estrutura de pesquisa contínua que apoia o planejamento e a execução de políticas públicas. O PPPD é uma peça fundamental nesse processo”, afirmou. Ela observou que o programa reflete a retomada do planejamento nacional, especialmente em um momento de reestruturação do Ministério do Planejamento e Orçamento. “Este mestrado é mais do que um programa de capacitação; é um instrumento estratégico que reforça nosso compromisso com a qualidade e a efetividade das políticas públicas”, concluiu.
Almir de Oliveira Junior, coordenador do PPPD, destacou que o programa não apenas forma profissionais qualificados, mas também cria uma rede de especialistas que contribuem diretamente para o aprimoramento da gestão pública. “O Ipea tem como missão principal produzir e disseminar conhecimento para aperfeiçoar as políticas públicas. Isso se concretiza de forma viva através dos nossos egressos do mestrado”, ressaltou Almir, evidenciando a tradição do Instituto em capacitar profissionais para o desenvolvimento econômico e social.
Na mesa que discutiu a trajetória dos egressos, Francirley dos Santos Oliveira, coordenador-geral no Ministério da Educação (MEC), apresentou as contribuições do programa na melhoria da governança e no monitoramento de políticas públicas. Ele destacou que o mestrado do Ipea ajuda a diminuir a assimetria de informações e a descontinuidade de programas governamentais, a partir dos argumentos técnicos que são construídos. Cristina Borges Mariani, coordenadora-geral no Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, enfatizou a interdisciplinaridade do curso: “A combinação de diferentes áreas do saber com a aplicação prática proporcionou uma experiência acadêmica e profissional enriquecedora”, pontuou.
Antônio Lassance, técnico de planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos Internacionais do Ipea e professor do PPPD, ressaltou a importância do planejamento estratégico no mestrado. “É fundamental mostrar o grau de dificuldade e a necessidade de pensar estrategicamente. Ao ingressar no mestrado, é preciso traçar um plano claro que justifique sua presença aqui”, explicou. Lassance enfatizou que, ao final do curso, os alunos devem apresentar uma contribuição que vá além do diploma. “Essa contribuição deve ser uma retribuição ao Estado brasileiro e ao povo que possibilitou essa oportunidade. Estamos falando de melhoria, avanço e inovação nas políticas públicas”, destacou.
Daniel Pitangueira de Avelino, coordenador substituto do PPPD, frisou a singularidade do programa. “O que nos diferencia é que o mestrado profissional em políticas públicas e desenvolvimento é o único na área de economia entre os programas de pós-graduação oferecidos pelos órgãos do governo federal”, explicou. Segundo ele, oficinas recentes reforçaram a necessidade de integração do programa com outras áreas de estudo, visando uma formação cada vez mais completa e inovadora.
Ronaldo Coutinho Gracia, ex-diretor do Cendec, finalizou o seminário abordando a importância da pesquisa contínua no desenvolvimento profissional. “A pesquisa é sistemática; não se para nunca, assim como um técnico de planejamento deve estar sempre aprendendo coisas novas. O Ipea é uma instituição que se capacita o tempo todo”, afirmou.
Mestrado do Ipea
O Mestrado Profissional do Ipea existe há mais de dez anos e já capacitou 134 servidores e empregados públicos federais, estaduais e municipais, sendo que 66 estão realizando o curso. O curso é gratuito e tem como ênfase a atuação profissional e a pesquisa aplicada. As aulas são estruturadas para que o aluno tenha a oportunidade de interagir com pesquisadores de alto nível, com expertise em questões de governo, e acessar os dados e informações disponíveis no Ipea. Todos os professores e orientadores do mestrado pertencem ao quadro do instituto e desenvolvem pesquisas sobre temas centrais da agenda contemporânea de políticas públicas.
Com base nos dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Mestrado do Ipea alcançou o 5° lugar nacional entre os programas profissionais de pós-graduação.
Para mais informações sobre o Mestrado Profissional do Ipea, acesse aqui.
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Helio Montferre/Ipea
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou nesta quinta-feira, 26/9, as projeções atualizadas para a inflação brasileira em 2024. A análise elevou as estimativas do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,0% para 4,4%, e do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 3,8% para 4,2%, conforme as tabelas abaixo:
A análise da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea é de que o ambiente inflacionário brasileiro vem se tornando menos favorável, gerando, assim, um aumento das expectativas de inflação. Diante de um desempenho mais forte do nível de atividade e seus impactos sobre um mercado de trabalho aquecido, a aceleração dos preços dos serviços livres, aliada aos efeitos da desvalorização cambial sobre os bens comercializáveis e novos focos de pressão sobre os preços dos alimentos, da energia e dos combustíveis, sinalizam que o processo de desinflação da economia brasileira tende a ser mais lento que o projetado no último trimestre.
Em agosto, a inflação brasileira registrou alta de 4,2% em 12 meses, repercutindo, sobretudo, os reajustes de 5,2% dos serviços livres e de 5,6% dos preços administrados. Em relação aos preços administrados, os reajustes da gasolina (8,7%), dos planos de saúde (8,7%) e dos medicamentos (6,0%) podem ser apontados como os principais focos de pressão inflacionária no período.
Ainda que em menor intensidade, as altas apontadas pelos alimentos e pelos bens industriais refletem a aceleração dos preços, agrícolas e industriais, no atacado, refletindo o aumento dos custos de matérias primas, originados tanto pela aceleração das cotações das commodities no mercado internacional, quanto pela forte desvalorização cambial.
No caso dos serviços livres, há pressão inflacionária por conta de uma demanda aquecida e pelo aumento dos custos relativos à mão de obra, ambos provenientes de um mercado de trabalho mais dinâmico.
A partir deste contexto mais desafiador, mesmo diante de um cenário de menor pressão de preços de alimentos, a piora na trajetória dos serviços livres, dos bens industriais e dos preços administrados, em relação à projetada anteriormente, gerou uma elevação das projeções para a inflação em 2024.
Em relação à alimentação no domicílio, considerando a pressão causada pelos efeitos da seca sobre a produção de cereais, carnes, frutas e legumes, a taxa de inflação prevista passou de 5,9% para 5,6%, refletindo o alívio inflacionário vindo da queda de 2,3% observada no bimestre julho-agosto. Já as taxas de inflação dos bens industriais e a dos serviços livres, projetadas para 2024, aceleraram de 2,1% e 4,6% para 2,4% e 5,0%, respectivamente, refletindo, em ambos os casos, o aumento nos custos de produção, aliado à manutenção da demanda em patamar elevado.
Por fim, a estimativa para a inflação dos preços administrados em 2024 também foi elevada, avançando de 4,0% para 4,7%, impulsionada pelo aumento dos combustíveis e da energia elétrica, efeito, no primeiro caso, do aumento do preço do petróleo e à desvalorização cambial, e no segundo caso, da estiagem sobre o nível dos reservatórios, gerando a necessidade do acionamento de bandeiras tarifárias de maior sobrepreço.
Diversos fatores contribuem para cenários de riscos para a inflação no curto prazo: o acirramento dos conflitos internacionais e seus efeitos sobre as cotações das commodities no mercado externo, além de novas desvalorizações cambiais originadas pela piora do ambiente fiscal e do prolongamento dos efeitos da seca sobre a produção de alimentos e energia podem desencadear uma piora no cenário inflacionário.
Ainda assim, para 2025, as projeções do Grupo de Conjuntura do Ipea indicam que o processo de descompressão inflacionária pode ocorrer, diante de uma apreciação cambial derivada deste diferencial de juros. Conjugada à melhora das condições climáticas, com a possibilidade da trajetória de inflação mais benigna para os bens industriais e os alimentos, as previsões de projeções de inflação para 2025 feitas pelos pesquisadores, são de 3,9%, medida pelo IPCA, e de 3,8%, medida pelo INPC.
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Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que, após sete anos de interrupção, o Censo de Grupos de Pesquisa (DGP) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) voltou a ser realizado, evidenciando um aumento expressivo no número de instituições e grupos de pesquisa cadastrados no Brasil, bem como no total de pesquisadores vinculados a esses grupos. A pesquisa intitulada Revelando Tendências: Análise dos resultados do Censo dos Grupos de Pesquisa de 2023, aponta que, em 2023, o número de instituições cadastradas no Censo cresceu mais de 160% em relação ao ano 2000, saltando de 224 para 587. O número de grupos de pesquisa também teve um aumento significativo, subiu de 11.760 para 42.852, uma alta de 264%.
A análise dos dados mostra um crescimento significativo no número de pesquisadores e doutores no Brasil entre 2000 e 2023. Nesse período, o número total de pesquisadores vinculados a grupos de pesquisa aumentou de 199.566, em 2016, para 247.455, em 2023, representando uma elevação de aproximadamente 24%. A pesquisa também revela uma evolução importante na distribuição por gênero: em 2023, a participação das mulheres nos grupos de pesquisa chegou a 52% (129.090 pesquisadoras), superando a dos homens, que representaram 48% (118.358 pesquisadores).
“Esses indicadores são fundamentais para a formulação de políticas públicas eficazes de ciência e tecnologia, pois permitem identificar tendências e mudanças significativas no sistema de ciência e tecnologia brasileiro, embora os dados precisem ser analisados com cautela, pois um pesquisador pode estar vinculado a mais de um grupo”, comenta Tulio Chiarini, analista em ciência e tecnologia no Centro de Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) do Ipea e um dos autores do estudo, juntamente com Márcia Siqueira Rapini, professora associada do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Emerson Gomes dos Santos, professor adjunto da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Em 2000, as mulheres representavam 44% (21.252) dos pesquisadores vinculados aos grupos do CNPq, enquanto os homens constituíam 56% (27.394). Esse cenário mudou ao longo dos anos, e em 2010, pela primeira vez, o número de pesquisadoras superou o de pesquisadores, com 64.712 e 63.956, respectivamente. “Esse foi um marco importante na representatividade das mulheres na comunidade de pesquisa, refletindo maior inclusão e participação feminina nas atividades científicas, tecnológicas e artísticas”, afirma Chiarini.
Em termos de áreas do conhecimento, o estudo mostra uma alteração na composição dos grupos: em 2000, as Ciências Duras e as Ciências da Vida representavam 31% e 42%, respectivamente. Já em 2023, passaram a representar 20% e 31%, enquanto as Ciências Humanas aumentaram passaram de 27% para 48%
Além disso, o estudo também mostra mudanças regionais. A participação relativa de outras regiões, especialmente o Nordeste que cresceu, em termos de instituições, grupos de pesquisa e pesquisadores. Enquanto a participação relativa da região Sudeste no total de pesquisadores caiu de 54% em 2000 para 37% em 2023, o Nordeste aumentou sua participação de 16% para 27%.
O Censo de 2023 destaca a importância de políticas públicas voltadas ao avanço da ciência, tecnologia e inovação. No entanto, os desafios permanecem. Os autores sugerem medidas para modernizar o conceito do Diretório dos Grupos de Pesquisa (DGP), tornando-o mais adequado ao contexto atual de plataformização da ciência e potencializar seu uso como uma ferramenta de ciência, tecnologia e inovação no Brasil, com propostas que incluem a inserção de novas funcionalidades, maior integração com subplataformas do Sistema Lattes, uso de ferramentas de Inteligência Artificial para preenchimento automático de dados e facilitação de interações e colaborações entre pesquisadores.
“Essas estratégias sugerem um uso mais dinâmico e proativo do DGP, expandindo seu papel para além da validação e avaliação de desempenho e transformando-o em um instrumento fundamental para a inovação e o desenvolvimento de políticas públicas baseadas em evidências no Brasil”, conclui Chiarini.
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Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada participaram, nesta terça-feira (17), do webinar ‘Transformando a dinâmica e promovendo uma transição comercial e industrial verde e justa’ (Changing the dynamics and advancing a just green trade and industrial transition). O evento foi realizado a partir da parceria entre o Ipea e o Overseas Development Institute (ODI), think tank do Reino Unido e membro do Conselho Consultivo Internacional do T20. Especialistas buscaram explorar as perspectivas dentro do G20, com foco específico nos interesses africanos, enquanto buscaram alternativas para reconfigurar as dinâmicas atuais e avançar em uma agenda de comércio verde mais equitativa.
A embaixadora Amina Mohamed, presidente do Fórum de Negociações Comerciais e Investimentos (TNIF), acredita que todos enfrentarão muitos desafios quando se trata de transição verde e fragmentação da política global, mas está convencida de que, se trabalharmos juntos de boa-fé e na mesma direção, seremos capazes de enfrentar os desafios que estão surgindo com a transição que já começou e que, obviamente, está avançando mais rapidamente em algumas regiões do que em outras. “Devemos enfrentar esses desafios juntos, e também observar as medidas unilaterais que estão sendo implementadas. Ao enfrentarmos esses desafios, acredito que devemos fazê-lo de uma maneira que permita a todos nós aproveitar as novas oportunidades que se apresentam”, completa.
Já o professor Faizel Ismail, diretor da Escola Nelson Mandela de Governança Pública da Universidade da Cidade do Cabo, exalta que o próximo G20 oferecerá à África do Sul uma grande oportunidade para focar nas questões de extrema importância para o continente: “O próximo G20 será em solo africano e será um G20 africano, portanto, ele deve se concentrar na crise, talvez a maior crise que a humanidade enfrenta atualmente, que é a crise climática”.
Fábio Veras, da Diretoria de Estudos Internacionais do Ipea, reforçou a todos que o G20 não possui um secretariado e que cada presidência é responsável por definir as suas prioridades de acordo com a presidência anterior e a futura. Para ele, os grupos de engajamento, em particular o T20, têm o papel de manter a memória dos líderes do G20 e mostrar para eles o que foi prometido e o que foi entregue. O diretor lembrou também que o comércio é visto como o motor de crescimento, sendo muito importante para a redução da pobreza.
“Uma outra prioridade que encontramos na Índia e que pode ser reaproveitada na África do Sul e que não foi tão priorizada na presidência brasileira é reconhecer os desafios de micro, pequenas e médias empresas para se engajarem no comércio internacional” explicou, citando o chamado do T20 da Índia para a ação de Jaipur, com o intuito de melhorar o acesso das micro, pequenas e médias empresas à informação e promover sua integração ao comércio internacional. Veras também citou a adoção do Quadro Genérico do G20 para Mapeamento de Cadeias de Valor Globais (GVC) para ajudar os membros a identificar riscos e construir resiliência.
O diretor destacou que no documento final da reunião ministerial de comércio e investimento do G20 Índia, os países do G20 reconheceram o papel essencial da cooperação multilateral para enfrentar de maneira eficaz os desafios comuns relacionados ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável e se comprometeram a se engajar em discussões adicionais sobre comércio e sustentabilidade. Deste modo não surpreende que uma das quatro prioridades do Grupo de Trabalho sobre Comércio e Investimento da presidência brasileira do G20 seja exatamente Comércio e Desenvolvimento Sustentável e que a principal entrega do grupo seja um conjunto de princípios-chave acordados e que sirvam como diretrizes para a formulação e implementação de políticas nacionais que impactam o comércio. Na reunião de ministerial a ser realizada em 24 e 25 de outubro saberemos o quão abrangentes serão estes princípios.
Fernando Ribeiro, pesquisador e coordenador de estudos de comércio internacional do Ipea, citou as discussões sobre o processo do T20 Brasil e as interações produtivas com o G20 e de como as questões de desenvolvimento sustentável, transições justas e sua relação com as regras comerciais e a governança global como um todo estão no centro das atenções.
Segundo ele, os principais desafios atualmente dos países em desenvolvimento em relação ao enfrentamento das mudanças climáticas, promoção de uma transição verde justa e reconciliação do comércio com o desenvolvimento sustentável – ou, ainda, o uso do comércio como uma ferramenta para promover práticas produtivas mais sustentáveis – podem ser separados em três questões principais.
A primeira é que conflitos comerciais e unilateralismo estão causando o desmantelamento dos sistemas de comércio e investimento baseados em regras, com a Organização Mundial do Comércio (OMC) em seu núcleo. Isso prejudica principalmente os países menos desenvolvidos. A segunda questão é que os países em desenvolvimento frequentemente carecem de recursos adequados – financeiros, humanos, institucionais, tecnológicos – para projetar e implementar planos de transição sustentável a longo prazo. Por fim, a transição global em direção a um sistema mais multipolar está gerando uma série de tensões políticas, econômicas e sociais sobrepostas e em cascata. Combinada com a mudança climática e a transformação digital, a transição está contribuindo para o aumento da volatilidade e incerteza geopolítica.
Para o pesquisador, as recomendações para o G20 enfatizam o fortalecimento da OMC como o principal fórum para negociações multilaterais e a aplicação de regras, incluindo questões ambientais, garantindo a resolução de disputas e práticas comerciais justas. Elas pedem cooperação em comércio, meio ambiente e política climática, evitando a exportação de padrões regulatórios ou sanções. No comércio agrícola, é necessário equilibrar a expansão da produção com medidas contra a mudança climática, assegurando a segurança alimentar e protegendo o comércio de tensões geopolíticas. Além disso, propõem a reforma do Acordo sobre Subsídios da OMC para evitar distorções comerciais e criticam a proliferação de regulamentos ambientais que criam barreiras comerciais e favorecem práticas neo-protecionistas.
Fernando também sugere o desenvolvimento de instrumentos para apoiar os países menos desenvolvidos na construção de capacidade institucional para criar e implementar planos de transição liderados nacionalmente. Elas também destacam a importância de aumentar a cooperação Sul-Sul e Norte-Sul para facilitar a transferência de tecnologias existentes e o desenvolvimento de novas tecnologias de baixo custo, promovendo a industrialização verde em países em desenvolvimento de baixa renda e dependentes de commodities. Por fim, propõem a criação de mecanismos de financiamento baseados em subsídios e créditos concessionais, com critérios de alocação que priorizem países vulneráveis, de baixa renda, grupos desfavorecidos e pequenas empresas.
Dentre as prioridades do G20 Brasil estão o comércio e desenvolvimento sustentável, a maior presença de mulheres no comércio internacional, a inclusão do desenvolvimento sustentável em acordos de investimento e a reforma da OMC e o fortalecimento do sistema comercial multilateral. A presidência brasileira propõe que os membros do G20 trabalhem em direção a um entendimento comum sobre princípios-chave a respeito do comércio e do desenvolvimento sustentável, que sirvam como diretrizes para a elaboração e implementação de políticas nacionais com impacto no comércio internacional.
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Helio Montferre/Ipea
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizou, nos dias 17 e 18 de setembro, um seminário que abordou temas como desenvolvimento regional, federalismo, governança metropolitana e desigualdades territoriais em tempos de crise climática. O evento integrou a agenda comemorativa pelos 60 anos de criação do instituto e reuniu especialistas, acadêmicos e autoridades governamentais para discutir os desafios e as oportunidades que moldam o futuro do país.
Na abertura das atividades, a presidenta do Ipea, Luciana Servo, destacou a necessidade de políticas públicas intencionais para enfrentar as desigualdades regionais. “O Estado é fundamental para a formação de políticas públicas, principalmente quando falamos de desigualdades. As desigualdades territoriais precisam de políticas focadas e intencionais para serem movidas estruturalmente”, afirmou. Ela alertou que, sem esse foco, as políticas correm o risco de permitir retrocessos, como os observados na implementação da Agenda 2030.
Mauro Borges Lemos, assessor da Presidência da Caixa Econômica Federal, sublinhou a importância da concentração regional da indústria brasileira, destacando que a centralização em algumas regiões-chave é fundamental para impulsionar o desenvolvimento econômico. Ele frisou o papel do Ipea na análise territorial e no desenvolvimento de metodologias de regionalização, fundamentais para compreender e fortalecer as áreas com maior potencial de crescimento. José Aldemir Freire, diretor de planejamento do Banco do Nordeste do Brasil, seguiu destacando o crescimento promissor de regiões fora do eixo Sudeste, como o Centro-Oeste e o Nordeste, reforçando o potencial dessas áreas.
Na mesma linha, José Farias Filho, coordenador de planejamento territorial da Sudene, defendeu a ampliação do enfoque do desenvolvimento regional para incluir as regiões imediatas do IBGE – áreas próximas e interligadas aos centros regionais principais. Ele explicou que, ao expandir a análise para essas regiões, é possível identificar melhor oportunidades de desenvolvimento em áreas que, apesar de próximas a polos econômicos, ainda carecem de atenção. Virgínia de Ângelis Oliveira de Paula, secretária nacional de Planejamento do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), complementou, ressaltando a importância de uma visão territorial integrada para garantir uma gestão pública orientada por resultados.
Encerrando a mesa de abertura, Adriana Melo Alves, secretária nacional de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), reforçou a relevância de uma agenda territorial robusta para enfrentar as heterogeneidades estruturais de um país de dimensões continentais como o Brasil.
No primeiro painel, intitulado A Agenda Territorial Brasileira: Dinâmicas, Interações e Fricções Contemporâneas, a professora Tania Bacelar, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), trouxe à tona a complexidade interna do Brasil. “O Brasil é muito complexo, e entendê-lo em sua totalidade é o maior desafio para quem faz política pública. No momento atual, o país está pleno de crises, mas carregado de oportunidades”, afirmou. Ela elogiou o terceiro volume da série Desenvolvimento Regional no Brasil, que dialoga diretamente com os temas da agenda territorial.
Outro destaque do evento foi o lançamento da plataforma Infere (Investimentos Federais Regionalizados), que mapeia a distribuição dos investimentos federais no Brasil entre 2001 e 2020, detalhando os dados por estados e regiões. Apresentada durante o painel Políticas Públicas Territoriais na Agenda Governamental Atual: Atores e Instituições em Interação, a plataforma oferece uma visão mais precisa dos gastos federais, superando as limitações de sistemas como o Siafi. Desenvolvida pela Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) do Ipea, a Infere utiliza algoritmos avançados para reclassificar dados antes registrados como "não informados" ou "nacionais", melhorando a regionalização dessas informações.
Na sessão sobre Federalismo e Coordenação de Políticas, um rico debate se debruçou sobre o esforço do atual governo federal para restabelecer o diálogo federativo que havia sido interditado no governo anterior. O papel do Conselho da Federação e dos consórcios intermunicipais rendeu uma intensa discussão analítica. Vicente Trevas, especialista em relações federativas e presidente do Instituto Sul-americano para a Cooperação e Gestão Estratégica de Políticas Públicas, um dos convidados, comentou que “um dos grandes desafios e uma das grandes tarefas do Conselho da Federação é o de criar condições políticas para o surgimento de consensos sobre os rumos do desenvolvimento nacional de longo prazo”.
No segundo dia do evento, a sessão O Nó da Governança Metropolitana em Tempos de Emergência Climática destacou a urgência de ações coordenadas para enfrentar a crise climática global. Carlos Nobre, pesquisador colaborador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), alertou para o agravamento do aquecimento global. “Pela primeira vez desde o período interglacial, atingimos a temperatura de 1,5 grau acima do início do aquecimento global. O mês de agosto deste ano foi o mais quente já registrado, e setembro continua nesse ritmo”, afirmou. Nobre destacou os impactos catastróficos desse fenômeno, como o derretimento acelerado das calotas polares e o aumento do nível do mar entre 6 e 10 metros, que terão impactos tremendos sobre as grandes cidades costeiras brasileiras, ressaltando a necessidade urgente de políticas públicas voltadas para a mitigação da crise climática.
A quarta e última sessão, Uma Agenda de Pesquisa para Políticas Territoriais: Consensos e Dissensos no Debate Atual, foi coordenada por Aristides Monteiro, diretor da Dirur. Ele fez uma síntese dos principais pontos discutidos ao longo dos dois dias, reforçando a importância da reflexão intelectual para o desenvolvimento de uma agenda de pesquisa sólida. “O momento atual, marcado por incertezas e múltiplas crises, exige uma profunda reflexão sobre os temas essenciais que devem compor essa agenda, que pode, por sua vez, se transformar em um importante suporte para a formulação de políticas públicas governamentais. O território é dimensão constitutiva da vida humana, logo, precisa ter centralidade na análise de tais políticas”, concluiu.
Confira os slides apresentados no seminário:
A Nova Política Nacional de Desenvolvimento Regional – mudanças estruturais em tempos de crise - Adriana Melo
Políticas Públicas Territoriais na Agenda Governamental Atual: atores e instituições em interação - Aristides
Monitoramento e Avaliação da Política Regional e Novos Instrumentos - Bruno Cruz
Novas Dinâmicas Regionais e o Papel Recente das Cidades Médias - Diana Mota
Conselho da Federação – diálogo que constrói -Elaine Lício
Arranjos Federativos: o que podem os consórcios regionais e municipais? - Joanni
Arranjos Federativos: o que podem os consórcios regionais e municipais? - Paula Losada
Consórcio Brasil Central - José Eduardo
O Nó da Governança Metropolitana em Tempos de Emergência Climática - José Pólice
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O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou nesta terça-feira (17) a plataforma Infere (Investimentos Federais Regionalizados), que mapeia a distribuição dos investimentos federais no Brasil, abrangendo os estados e regiões com base nos orçamentos Fiscal e da Seguridade Social entre 2001 e 2020. O lançamento ocorreu durante o painel no Seminário Políticas Públicas Territoriais na Agenda Governamental Atual: Atores e Instituições em Interação, evento que faz parte das comemorações dos 60 anos do Ipea.
O objetivo principal do projeto é proporcionar uma visão mais precisa e detalhada dos gastos federais com investimentos, superando as limitações dos sistemas tradicionais, como Sistema Integrado da Administração Financeira (Siafi) e nos sistemas que o usam como base, como o Sistema Integrado de Dados Orçamentários (Sidor) e SIGA Brasil do Senado Federal. A plataforma utiliza uma metodologia de algoritmos desenvolvidos pela Diretoria de Estudos Regionais, Urbanos e Ambientais (Dirur) do Ipea para aprimorar a regionalização dos dados, reclassificando informações que antes apareciam como "não informadas" ou "nacionais", utilizando dados adicionais do Siafi.
A iniciativa oferece dois produtos principais para a sociedade: um painel com foco na localização dos investimentos, como obras, ou na destinação geográfica de máquinas e equipamentos adquiridos pelo Governo Federal. Além disso, um visualizador de dados, que organiza os dados e facilita a interpretação por meio de mapas, gráficos e tabelas.
Nelson Fernando Zackseski, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, comentou sobre a importância do projeto. “Este projeto foi originalmente solicitado pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, uma demanda antiga, e existe um trabalho por traz do painel que é melhorar a informação regional do está presente no Siafi. Simplificando, quem navegar pelos dados poderá observar onde está a gasto com a obra, equipamento ou máquina e também o conjunto do investimento nos estados e regiões pelos campos que são comparáveis ao longo do período”, disse ele.
Por meio dessa plataforma, o Ipea busca avançar na estimativa da Formação Bruta de Capital Fixo dos estados brasileiros, um indicador essencial para a elaboração de modelos de simulação macroeconômica. As publicações do instituto dão embasamento a temática e estão disponíveis para consulta: a Nota Técnica sobre o investimento federal regionalizado em 2020 e Gastos públicos federais regionalizados: exercícios de comparação temporal 1995-1998 e 2002.
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