Em 2022, mais de 40 milhões de pessoas trabalhavam em situação de informalidade no Brasil, representando 42,1% da população ocupada. Entre 2016 e 2019, a taxa de informalidade subiu de 40,4% para 42,8%, caindo 2 pontos percentuais em 2020. Essa queda foi causada pela pandemia de Covid-19, quando houve uma maior redução relativa dos trabalhadores informais em comparação com a queda observada nos trabalhadores formais. Em 2021 a informalidade voltou a crescer.
O marcador de raça/cor é bastante expressivo neste indicador. Enquanto a diferença na taxa de informalidade entre mulheres e homens ficou abaixo de 2 pontos percentuais entre 2016 e 2022, a desigualdade entre pessoas negras e brancas foi bem mais significativa. Em 2016, a diferença era superior a 15 pontos percentuais (47,8% para homens negros e 32,4% para mulheres brancas). Em 2022, essa diferença ainda era alta, mas reduziu para 12,7 pontos percentuais (47,8% para homens negros e 35,7% para mulheres brancas).
Se tivéssemos que escolher um Retrato para representar a informalidade no Brasil, ele seria composto por pessoas negras. Em 2022, 62% da população brasileira em situação informal era composta por pessoas negras. Homens negros representavam quase 36,7% desta população, seguidos por mulheres negras (25,3%), homens brancos (20,8%) e mulheres brancas (17,2%).
Em 2022, quase 10 milhões de pessoas estavam desocupadas no Brasil, representando 9,5% da força de trabalho, a menor taxa desde 2016. Entre 2016 e 2021, a desocupação aumentou de 11,4% para 13,9%, mas teve uma redução expressiva de mais de 4 pontos percentuais entre 2021 e 2022. O recuo na taxa de desemprego neste período foi observado para todos os grupos de pessoas, considerando sexo e raça/cor. A maior queda observada ocorreu para as mulheres negras (de 20,6% em 2021 para 13,9% em 2022) e a menor para os homens brancos (de 9,2% em 2021 para 6,2% em 2022).
Analisando a série histórica, destaca-se que a interseccionalidade de gênero e raça é bastante relevante para a compreensão da desocupação. As mulheres negras são as mais vulnerabilizadas, apresentando as maiores taxas de desocupação ao longo de todo o período. Em contraste, os homens brancos têm as taxas mais baixas.
Um indicador importante, mas menos conhecido do que as taxas de desemprego e informalidade, é a taxa de subutilização. Esse indicador engloba a situação de desemprego, de subocupação por insuficiência de horas trabalhadas e a força de trabalho potencial. Altas taxas de subutilização indicam problemas estruturais no mercado de trabalho e uma elevada concorrência deste com as atividades não remuneradas de cuidado e afazeres domésticos, por exemplo. Isto afeta o bem-estar social e a qualidade de vida da população.
Em 2022, mais de 23 milhões de pessoas foram subutilizadas no Brasil, representando 20,5% da força de trabalho ampliada. Nesse mesmo ano, 30,4% das mulheres negras estavam subutilizadas no mercado de trabalho, uma taxa significativamente alta. Para os homens brancos, a taxa de subutilização foi bem menor, atingindo 19,2%. Para todos os quatro grupos a taxa de subutilização aumentou de 2016 a 2021, sendo mais acentuada para as mulheres negras. Entre 2021 e 2022, houve uma redução desta taxa em todos os grupos.
A taxa de subutilização oferece uma visão mais abrangente do mercado de trabalho, refletindo as diferentes realidades e desafios enfrentados pelas pessoas que vivem do trabalho. Esse indicador é extremamente relevante para compreender os desafios e oportunidades do mercado de trabalho, orientando ações para torná-lo mais inclusivo, sustentável e robusto economicamente.
Por fim, é importante ressaltar que localizar-se fora da força de trabalho ampliada responde a diversos fatores. Para os homens brasileiros, a idade figura como o principal motivo para deixarem o mercado de trabalho. Já para as mulheres brasileiras, o trabalho não remunerado em afazeres domésticos e de cuidados é o fator primordial que as leva à inatividade laboral.
Em 2022, 32,4% das mulheres brasileiras saíram da força de trabalho para se dedicarem às tarefas de cuidados da casa, dos filhos e demais dependentes. Para os homens, este motivo levou apenas 3,5% a saírem da força de trabalho. Isso representa uma diferença de quase 29 pontos percentuais.
Quais são as razões para tamanha diferença? Por que são as mulheres que se sobrecarregam com este tipo de trabalho (não remunerado)? Políticas públicas voltadas à valorização do trabalho reprodutivo são fundamentais para a promoção da equidade, diversidade e inclusão, além de liberar o tempo das mulheres para oportunidades educacionais, de trabalho e participação na vida pública.
Título | Autoria | Ano |
---|---|---|
Situação social das catadoras e dos catadores de material reciclável e reutilizável : Brasil | Sandro Pereira Silva, Fernanda Lira Goes e Albino Rodrigues Alvarez | 2013 |
Mulheres catadoras de materiais recicláveis : condições de vida, trabalho e estratégias organizativas no Brasil | Adriana Cristina Xavier, Deiga Ferreira, Ronalda Barreto Silva e Roberto Marinho Alves da Silva | 2023 |
Desemprego e relações familiares em regiões metropolitanas : condições de vida e estratégias de acesso a recursos | Vitor Matheus Oliveira de Menezes | 2023 |
Trabalho, população negra e pandemia : notas sobre os primeiros resultados da PNAD Covid-19 | Tatiana Dias Silva e Sandro Pereira Silva | 2021 |
Impacto do desemprego e da informalidade sobre a empregabilidade e a renda futura do jovem | Maria Cristina Cacciamali e Fabio Tatei | 2017 |
A sustentação da vida inclui inúmeras atividades que não são reconhecidas como trabalho. Isso permeia as conversas mais corriqueiras:
“Você trabalha?”
“Não, atualmente estou ficando em casa para cuidar dos meus filhos.”
Frequentemente, consideramos que apenas o trabalho remunerado no mercado é digno de ser chamado de “trabalho”. Entretanto, cuidar da casa, de nós mesmos, dos filhos, dos pais idosos, dos doentes ou pessoas com deficiência, requer muito trabalho, além de carinho, atenção e paciência.
O trabalho de cuidado, de afazeres domésticos ou para o próprio consumo, toma tempo e requer habilidades físicas, gerenciais e psicológicas. Este trabalho é majoritariamente realizado pelas mulheres, o que as deixa menos disponíveis para o trabalho no mercado.
Estar menos disponível para o mercado de trabalho não é ruim em si. Porém, como apenas o trabalho remunerado é valorizado, isso deixa as pessoas que não podem participar do mercado vulneráveis, diminuindo sua autonomia financeira e poder decisório. Quanto maior o acesso à renda e aos serviços públicos e privados que possam assumir parte das atividades de sustentação da vida, mais as mulheres estarão disponíveis para buscar trabalho remunerado.
Esse é o fenômeno da divisão sexual do trabalho. Ele gera discriminação e desigualdade entre homens e mulheres, afetando de forma mais intensa as mulheres negras e pobres, que mais assumem o trabalho não remunerado e são as mais desfavorecidas no mercado de trabalho
Em 2022, 63% da população com idade para trabalhar (16 anos de idade ou mais), participava da força de trabalho. Isto significa que elas estavam ocupadas (empregadas) ou estavam tomando providências efetivas para achar uma ocupação e estavam disponíveis para trabalhar no mercado, apesar de, naquele momento, estarem desocupadas (desempregadas). Aqui já vemos a primeira desigualdade: apenas 52% das mulheres negras e 54% das mulheres brancas participavam do mercado de trabalho remunerado. Entre os homens esse percentual era de 75% para os negros e 74% para os brancos.
Além da desocupação, o IBGE passou a coletar informações para dois novos agregados do mercado de trabalho, e os motivos que impedem quem deseja, de participar de forma plena do mercado. Entre aquelas ocupadas, o IBGE coleta a informação sobre as pessoas subocupadas por insuficiência de horas: pessoas que estão trabalhando no mercado menos de 40 horas, mas que gostariam de trabalhar mais horas e que estavam disponíveis para isso. Entre as pessoas fora da força de trabalho, o IBGE também coleta a informação sobre quem tem potencial de participar da força de trabalho: pessoas que realizaram busca efetiva por trabalho, mas não se encontravam disponíveis para trabalhar, bem como as que não realizaram busca, mas gostariam de ter um trabalho e estavam disponíveis (desalentadas).
Somando esses três agregados – pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas e força de trabalho potencial – temos a medida de subutilização, que mostra um contingente de pessoas que desejam ativamente ter uma ocupação no mercado ou trabalhar mais horas nele. Essa medida resume as desigualdades de acesso, que são reproduzidas em cascata pela divisão sexual e racial do trabalho.
Em 2022, 18% das mulheres negras, 15% dos homens negros, 12% das mulheres brancas e 10% dos homens brancos em idade para trabalhar não foram absorvidos de forma plena pelo mercado de trabalho, mesmo desejando trabalhar.
Título | Autoria | Ano |
---|---|---|
As características do mercado de trabalho e as origens do informal no Brasil | Mario Theodoro | 2005 |
Diferenciais salariais no Brasil: um breve panorama | Allexandro Mori Coelho e Carlos Henrique Corseui | 2002 |
Ações afirmativas nos estados brasileiros : o caso da reserva de vagas para população negra em concursos públicos | Tatiana Dias Silva | 2023 |
Mulheres negras no mercado de trabalho | Daniela Luciana da Silva, Ionara Talita Silva, Jaqueline Fernandes, Juliana Nunes, Paula Balduíno, Sabrina Faria e Uila Gabriela | 2012 |
Perfil racial do serviço civil ativo do Executivo federal (1999-2020) | Tatiana Dias Silva Felix Lopez | 2001 |
Trabalho, população negra e pandemia : notas sobre os primeiros resultados da PNAD Covid-19 | Tatiana Dias Silva e Sandro Pereira Silva | 2020 |
Um retrato de duas décadas do mercado de trabalho brasileiro utilizando a Pnad | Gabriel Ulyssea e Ana Luiza Neves de Holanda Barbosa | 2013 |
O trabalho na produção para o próprio consumo abrange uma variedade de atividades, como plantar, criar animais, pescar, coletar lenha, produzir carvão, fabricar móveis, costurar roupas ou calçados, fabricar cerâmicas e construir, ampliar ou fazer reparos na moradia, tudo destinado ao consumo das pessoas que vivem no domicílio ou de parentes. Essas atividades são fundamentais para a agricultura familiar, especialmente para as mulheres rurais, que dedicam muito tempo ao cuidado da horta, à confecção de produtos de uso doméstico e ao beneficiamento de alimentos.
No Brasil, se nas áreas urbanas o peso relativo da produção para consumo próprio é pequeno, nas áreas rurais ela ainda é significativa. Em 2022, 30,3% da população rural com 16 anos ou mais estava envolvida nesse tipo de trabalho, enquanto nas áreas urbanas essa proporção era de apenas 3,3%.
Enquanto os homens, em especial os homens negros, têm uma participação maior em atividades que exigem elevado esforço físico, como a produção de carvão ou a construção de tipo predial, as mulheres, em maior proporção as mulheres brancas, estão mais envolvidas naquelas vinculadas à fabricação de bens de uso doméstico, como roupas, cerâmicas, alimentos etc. Os idosos acima de 60 anos são os que mais se dedicam ao trabalho para o próprio consumo.
O trabalho voluntário é aquele realizado de modo não compulsório por pelo menos uma hora semanal, sem remuneração em dinheiro ou benefícios. Seu objetivo é produzir bens ou serviços para terceiros. Em 2016, 3,9% da população brasileira de 16 anos ou mais realizava trabalho voluntário, aumentando para 4,3% em 2022. São as mulheres, especialmente as mulheres brancas, que mais contribuem com o trabalho voluntário.
Título | Autoria | Ano |
---|---|---|
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios : principais mudanças conceituais referentes ao tema trabalho | Elizabeth Belo Hypólito | 2010 |
O Mundo rural no novo século (um ensaio de interpretação) | Zander Navarro | 2016 |
Esfera produtiva e reprodutiva : dimensões e desafios para as mulheres | Cíntia Liara Engel | 2020 |
Marcha das Margaridas : perfil socioeconômico e condições de vida das mulheres trabalhadoras do campo e da floresta | lexandre Arbex Valadares, Claudia Mara Pedrosa, Brancolina Ferreira e Marcelo Galiza Pereira de Souza. | 2013 |