Ciclo de Debates Ano Internacional dos Afrodescentes - eventos realizados Imprimir

O evento, que ocorreu na sede do Instituto, em Brasília, encerrou o Ciclo de Debates sobre igualdade racial

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) promoveu o seminário As Ações Afirmativas e a População Negra na quinta-feira, dia 8, na sede do Instituto, em Brasília. O encontro encerrou o Clico de Debates sobre igualdade racial realizado pelo Ipea e reforçou a discussão sobre os diferentes sistemas de cotas nas universidades e no setor público brasileiro. José Jorge de Carvalho, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCT) da Universidade de Brasília (UnB); e Márcio Rebouças, primeiro-secretário do Instituto Rio Branco e do Ministério das Relações Exteriores, foram os debatedores convidados.

Márcio apresentou os resultados do Programa de Ações Afirmativas do Instituto Rio Branco, que oferece uma Bolsa-Prêmio de Vocação para a Diplomacia no valor de R$ 25 mil a candidatos negros selecionados. O prêmio ajuda a investir em material didático e no curso preparatório para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata. Desde sua criação, em 2002, o programa aprovou 17 candidatos afrodescendentes no curso.

Rebouças completou dizendo que, desde a criação do concurso público para diplomatas em 1946, o objetivo é melhorar os níveis de acessibilidade e por isso, o concurso tem passado por diversas reformas.  Hoje, são quatro as etapas em que os candidatos devem passar para ter aprovação. “O concurso começa a espelhar melhor o Brasil. Algumas cidades esse processo ainda está devagar, mas conseguiremos avançar aumentando a representação dos diplomatas”, comentou.

Sistema de cotas nas universidades brasileiras
José Jorge de Carvalho, autor do livro Inclusão ética e racial no Brasil, apontou que o percentual de afrodescendentes nos concursos públicos e nas universidades continua o mesmo ao de muitos anos atrás. “Conseguimos incluir durante cem anos de historia somente de 1 a 2% da população negra em todos os setores e de todos os profissionais existentes no Brasil”, alertou.

O professor explicou que as universidades estão aplicando diferentes modelos de sistemas de cotas. Enumerou quatro tipos de ações afirmativas existentes: cotas, subcotas, vagas e bônus. Dessas, sete categorias se abrem: estudantes de escola pública, indígenas, negros, deficientes, residentes das regiões, baixa renda e quilombolas. Segundo ele, a falta de um padrão faz com que exista essa diversidade de tipos cada vez mais amplos, que fogem ao conceito e a busca pela igualdade racial.

Ao final, José Jorge questionou se de fato entrará algum aluno negro através do serviço de cotas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pois não há número de quantos negros entraram no sistema de cotas desde sua criação. Apontou também que na Universidade de São Paulo (USP) apenas 5% de estudantes negros foram aprovados no sistema de cotas. “Só haverá discurso correto sobre igualdade racial, quando tivermos igualdade entre as raças e as cotas levam a isso”, defendeu.

A mediadora do debate e coordenadora de Igualdade Racial do Ipea, Tatiana Dias Silva, apresentou uma análise do Ipea sobre a relação entre o setor público e a população afrodescendente. Segundo a avaliação, a mulher negra recebe menor percentual de rendimento médio mensal que uma mulher branca com igualdade de função e escolaridade. E ambas tem menor salário que o homem negro na mesma ocupação e anos de estudo. A pesquisadora informou que o Ipea vem atualizando dados e estimativas sobre o perfil afrodescendente no país.

Veja a apresentação sobre ações afirmativas na administração pública