2006. Ano 3 . Edição 21 - 4/4/2006
Luis Alberto Moreno
À primeira vista, os números parecem compor um quadro encorajador. Nas economias da América Latina e do Caribe, o desempenho macroeconômico é o melhor registrado em 30 anos. O crescimento é forte, o endividamento caiu e o investimento direto está em ascensão. Inflação e déficits orçamentários estão sob controle. Os mercados de ações estão em alta. Esse desempenho, no entanto, não resultou em benefícios para a maior parte da população da região. De fato, a desigualdade de renda e o número de pessoas que vivem na pobreza são maiores, hoje, do que eram em 1960.
Por que as vantagens do crescimento falharam em alcançar a maioria da população latino-americana? A história nos ensina que os benefícios do sistema de mercado dependem da qualidade das instituições - as regras, as leis, os regulamentos que norteiam a atividade econômica. Onde essas instituições funcionam bem, as empresas privadas vinculam sua performance à valorização das capacidades humanas. Isso resulta em inovação e criação de oportunidades para todos. Quando as instituições são fracas ou deficientes, o sistema não tem como oferecer degraus de oportunidade ou colocar os bens ao alcance da maioria.
Em nossa região, disfunções do sistema legal e regulatório relegam muita gente ao setor informal, em que se gasta a vida trabalhando em negócios sem registro, em propriedades freqüentemente não legalizadas. Para os trabalhadores informais é difícil, se não impossível, construir uma companhia, assinar contratos ou poupar para a aposentadoria. Como resultado, raramente podem aproveitar as oportunidades oferecidas pelo mercado. Para eles, não há dúvida, ser pobre custa caro. Além de instituições fortes e da ordenação legal, os trabalhadores e os pequenos empreendedores precisam ter uma vasta gama de habilidades para alcançar sucesso.
"Quando uma companhia oferece a um consumidor de baixa renda um serviço de qualidade a preço justo, seu objetivo de lucro não é incompatível com a justiça social"
Aos que aspiram empreender, é essencial o acesso a treinamento em ferramentas básicas de administração, como contabilidade, marketing e tecnologia da informação. Negócios de maior porte requerem trabalhadores bem formados e recursos de pesquisa e desenvolvimento que universidades e escolas técnicas podem prover. Uma economia de mercado em bom funcionamento cria incentivos para que companhias atendam mesmo aos cidadãos mais pobres. A América Latina ainda tem muito a aprender nesse sentido. Abriga um enorme contingente de pessoas de baixa renda ávidas por pagar por produtos e serviços que supram suas necessidades.
Embora esse mercado se caracterize pela baixa renda e por reduzida produtividade, permanece inexplorado e potencialmente lucrativo em áreas como bens de consumo, construção civil e serviços. Quando uma companhia oferece a um consumidor de baixa renda um serviço de qualidade a preço justo, seu objetivo de lucro não é incompatível com a justiça social. Os governos latino-americanos deveriam buscar maneiras de assegurar que o setor privado tivesse um papel mais ativo no atendimento às carências dos pobres.
A necessidade de parceria entre as esferas pública e privada nunca foi tão grande. Em junho deste ano, o Banco Interamericano de Desenvolvimento promoverá uma conferência cuja proposta é buscar novos caminhos para a multiplicação de oportunidades e para o fortalecimento da democracia financeira entre os menos privilegiados. Não podemos continuar a excluir a maioria dos cidadãos dos frutos do crescimento econômico - a escada das oportunidades deve se tornar acessível a todos.
Luis Alberto Moreno é presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
|