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O Brasil não é a Índia... ainda bem!

2005. Ano 2 . Edição 17 - 1/12/2005

O mercado brasileiro movimenta valores comparáveis aos da Índia, mas concentra-se no atendimento ao mercado interno. Nossa indústria de software é organicamente ligada a uma estrutura produtiva complexa e diversificada

José Eduardo Roselino

A atividade de software parece ter entrado definitivamente na agenda nacional, figurando entre os setores eleitos como prioritários pela Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE). Ainda é cedo para uma avaliação da performance dessa política, mas a inclusão do software como prioridade sinaliza a identificação de sua importância. Essa indústria é o “sangue vital” das tecnologias da informação e da comunicação, ocupando papel central nas atuais transformações produtivas.

Outra motivação é a percepção das oportunidades de conquistar presença em um mercado internacional em franca expansão. Os casos de sucesso de países periféricos no desenvolvimento dessa indústria alimentam ainda mais essas esperanças. O caso indiano é o mais chamativo. Os números bilionários são largamente propalados e sempre impressionam os mais desavisados. Não são poucos os que, seduzidos, colocam o modelo indiano como referência a ser seguida. Aqui reside o maior perigo.

Um estudo mais acurado sugere sempre uma boa dose de cautela com as estatísticas sobre software, e prudência redobrada quando se trata de comércio internacional. Não há metodologia que garanta a produção de dados confiáveis sobre o comércio desse produto/serviço tão peculiar, e os números indianos são contestados por muitos especialistas. Além disso, uma avaliação qualitativa dessas exportações revela um quadro bem menos animador. A despeito de avanços recentes, a Índia permanece especializada nas funções inferiores da “divisão internacional do trabalho”, concentrando-se nos serviços de baixo valor agregado.

Parte crescente das atividades de software é realizada diretamente por subsidiárias de empresas estrangeiras sem vínculos tecnológicos locais, restringindo os potenciais transbordamentos tecnológicos e outros efeitos sobre o sistema produtivo local. Os esforços das empresas indianas em avançar para atividades mais complexas e rentáveis são minados pela sangria anual de mais de 10% de sua mão-de-obra especializada, que migra principalmente para os Estados Unidos.

O mercado brasileiro movimenta valores comparáveis aos da Índia, mas concentra-se no atendimento ao mercado interno. Diferentemente do caso indiano, nossa indústria de software é organicamente ligada a uma estrutura produtiva complexa e diversificada.

O software impulsiona a produtividade e a competitividade em virtualmente todos os setores da economia. Sua presença como “elo” essencial em diferentes cadeias produtivas reforça a pertinência de mirar o fortalecimento dessa indústria como parte de uma estratégia de desenvolvimento nacional. Antes de ser visto como uma desvantagem, esse viés “voltado para dentro” pode ser uma oportunidade. O atendimento desse vigoroso mercado, sofisticado e exigente, é a plataforma para a obtenção de vantagens de escala e ambiente propício para uma produção diversificada e competitiva.

A política industrial deve reforçar as virtudes da estrutura existente, proporcionando condições para a preservação e para a consolidação das empresas bem-sucedidas no enfrentamento de um ambiente crescentemente competitivo e internacionalizado. Os avanços no front externo aparecerão com o desenvolvimento e o amadurecimento dessa indústria. Ainda que os números projetados estejam muito aquém dos valores bilionários dos indianos, temos a possibilidade de conquistar espaços mais virtuosos.

É preciso voltar o olhar com mais zelo para as qualidades e as potencialidades já existentes da indústria brasileira, evitando-se a sedução por “modelos” importados. Talvez seja mais um sintoma da patologia que Nelson Rodrigues sabiamente identificou como “narciso às avessas” do brasileiro: uma irresistível propensão a cuspir na própria imagem refletida.

A indústria brasileira de software exibe uma configuração complexa que se reproduz numa dinâmica muito diferente da indiana. Ainda bem!


José Eduardo Roselino é economista e pesquisador do Grupo de Estudos em Economia Industrial (GEEIN) e do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (Unisal)

 
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