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Setor agropecuário brasileiro: perspectivas internacionais

2016 . Ano 13 . Edição 88 - 23/11/2016

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Rebecca Lima Albuquerqu e Maranhão
José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho

O Brasil se tornou um dos líderes na economia agrícola do mundo, ao lado da União Europeia e dos Estados Unidos, em razão do grande investimento em tecnologia e do rápido crescimento da demanda por bens agropecuários (alimentos, fibras e energia). Diante da revolução agrícola que ocorreu no país desde a criação da Embrapa, nos anos 1970, até o presente, há espaço para crescimento da produtividade por causa de dois fatores: melhorias em gestão e investimento em infraestrutura logística.

O país atende ao mercado interno com 80% da sua produção e exporta o excedente para mais de 180 países. Seus parceiros comerciais são a União Europeia, a China, os Estados Unidos, o Japão, a Rússia e a Arábia Saudita. Em 2014, o PIB brasileiro atingiu US$ 2,2 trilhões, o que posicionou o país na sétima maior economia do mundo e a mais influente na América Latina. O setor contribuiu substancialmente para a obtenção de divisas, sendo 22,5% do PIB brasileiro provenientes do agronegócio. O saldo do comércio internacional do agronegócio passou de aproximadamente US$ 11 bilhões, em 1989, para US$ 83,9 bilhões, em 2013, exibindo uma taxa de crescimento anual de 8,8% no período.

Embora a primeira metade dos anos 1990 tenha sido extremamente instável para o agronegócio, a segunda metade foi representada pela estabilização macroeconômica, o que contribuiu para alavancar o setor. A expansão dos mercados proporcionou acesso ao crédito e incentivos governamentais, tais como isenções fiscais, financiamento da pesquisa agrícola e melhorias no desenvolvimento dos canais de comercialização e infraestrutura, incentivando a exportação agrícola. Em meados de 2000, com a retomada do crescimento da economia chinesa, cujos reflexos foram importantes para os países emergentes, incluindo o Brasil, fomentou‑se o comércio internacional de bens agropecuários.

O avanço da pesquisa, em especial da Embrapa e de universidades, baseada nas características específicas do território brasileiro, produziu pacotes tecnológicos adaptados e responsáveis pela grande tropicalização da agricultura no país. Algumas tecnologias responsáveis por impactos significativos nos sistemas de produção de alimentos foram o plantio direto, a fixação biológica de nitrogênio, o melhoramento genético de animais e a biotecnologia, que impulsionou o intercâmbio de germoplasma dos principais cultivos e aumentou a resistência genética das plantas ao clima tropical, inclusive com a introdução de organismos geneticamente modificados.

Em 2015, o cenário de recessão no país e de redução no ritmo de crescimento da demanda mundial, influenciado pela desaceleração da economia chinesa, causou desconfiança aos investidores e queda da receita das exportações do agronegócio. O valor da receita foi 10,8% inferior ao registrado no mesmo período de 2014. Apesar da frágil situação política e econômica, o Brasil é um importante ator no mercado de produtos agrícolas. Sua agroindústria é bem desenvolvida, o que contribui para tornar o cenário agropecuário dinâmico e competitivo. Já no ano de 2016, tem‑se uma retomada do crescimento, colocando o agronegócio novamente no topo da lista dos setores mais exportadores.

Entretanto, muitos fatores ainda são apontados como barreiras ao desenvolvimento setorial, dentre os quais se destacam dois: educação voltada aos problemas do campo e adequação da infraestrutura logística. Com relação ao primeiro ponto, os sistemas de alta produtividade requerem investimento em capital. Para transferir tecnologia e, consequentemente, aumentar a produtividade, é necessário investir em treinamento, educação e qualidade do ensino rural, aperfeiçoando o capital humano e os serviços prestados aos produtores. O retorno é traduzido no aumento da capacidade de absorção de conhecimentos externos. A inovação em gestão depende da qualificação do agricultor.

No que diz respeito ao segundo ponto, as exportações de grãos pelos portos não tradicionais do Norte e Nordeste – Itacoatiara (AM), Santarém e Vila do Conde (PA), Itaqui (MA) e Salvador (BA) – cresceram de 13 milhões para 20 milhões de toneladas entre 2014 e 2015. O cenário revela a importância da execução de projetos viáveis ao escoamento da produção por novas rotas, promovendo a melhoria das estradas e a expansão da oferta dos modais hidroviários e ferroviários. O investimento em infraestrutura é essencial para o crescimento e a integração econômica das Regiões Norte e Nordeste com o resto do país. 

O planejamento da educação e da infraestrutura reduzirá não somente os custos produtivos como, também, ampliará a competitividade do agronegócio, notadamente num período de forte ajuste financeiro, como vivenciado pela economia brasileira.

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Rebecca Lima Albuquerque Maranhão é mestre em Geografia pela Universidade de Brasília (UnB) e bolsista PNPD, Ipea

José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho é técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos Regionais, Urbanos e Ambientais (Dirur) do Ipea

 
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