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Turbulência global não tem prazo para terminar

2016 . Ano 13 . Edição 87 - 17/06/2016

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O cenário econômico internacional segue apresentando sinais preocupantes, em especial para os países emergentes. A desaceleração chinesa, a queda nos preços das commodities, a elevada volatilidade dos mercados financeiros e a desvalorização das moedas nacionais tendem a criar dificuldades para uma recuperação no curto prazo

Marcos Antonio Macedo Cintra* – Brasília

* Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

Sete anos após a crise financeira sistêmica, desencadeada pela desvalorização dos ativos associados com as hipotecas de alto risco (subprime), a economia internacional persiste apresentando baixas taxas de crescimento, com elevada instabilidade financeira e tendência à deflação de preços, seja das commodities, seja dos bens industrializados, dado o excesso de oferta de produtos e de capacidade ociosa instalada em diversos setores manufatureiros.

O Fundo Monetário Internacional (World Economic Outlook – Update, 2016) estimou a taxa de crescimento da economia mundial em 3,1% em 2015, com os países desenvolvidos se expandindo 1,9% e os países em desenvolvimento, 4%. Para 2016, projetou uma expansão de 3,4% da economia mundial, de 2,1% dos países desenvolvidos e de 4,3% dos países em desenvolvimento. As projeções reiteram que desde 2012 a economia mundial vem apresentando baixo dinamismo, em torno de 3% ao ano, concentrada nos países em desenvolvimento, sem configurar motores capazes de sustentar um ciclo de expansão com a duração e a profundidade do que ocorreu entre 2003 e 2007, quando a economia mundial cresceu a taxas superiores a 5%.

DIFICULDADES NO CRESCIMENTO

Além das dificuldades em se retomar o crescimento sustentável nas economias desenvolvidas – Estados Unidos, União Europeia e Japão –, a despeito de políticas monetárias muito agressivas – afrouxamento monetário e taxas de juros próximas de zero desde 2008*–, as economias emergentes estão sendo empurradas para o torvelinho da crise: contração da demanda puxada pela desaceleração da China, queda nos preços das principais commodities, elevada volatilidade dos mercados financeiros, desvalorização das moedas, fuga de capitais desde a sinalização de alta da taxa de juros básica nos Estados Unidos, contração do crédito. Esse conjunto de fatores arrasta parte significativa dos países em desenvolvimento para um período de recessão ou de baixo dinamismo econômico. Para o Brasil, o FMI estimou queda de 3,8% em 2015 e de 3,5% em 2016; para a Rússia, a contração foi estimada em 3,7% em 2015 e 1% em 2016. A Índia persiste como exceção: estimou-se crescimento de 7,3% em 2015 e 7,5% em 2016.

*Na verdade, alguns bancos centrais estão adotando taxas de juros negativas nos depósitos realizados pelos bancos, a fim de forçá-los a emprestar: Japão, -0,1% ao ano; Suécia, -0,35% ao ano, Suíça, -0,75% ao ano; zona euro, -0,3% ao ano.

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Segundo documento divulgado pelo Instituto de Finanças Internacionais (Institute of International Finance, 2016), a fuga de capitais de 30 economias emergentes alcançou US$ 735 bilhões em 2015, sendo liderada pela China. Diante de um maior grau de abertura da conta capital da economia chinesa, as incertezas sobre as perspectivas de crescimento, sobre as bolsas de valores e sobre a desvalorização da moeda desencadearam uma fuga de capitais da ordem de US$ 460 bilhões, a despeito de um superávit na balança comercial de US$ 595 bilhões*. Para 2016, as expectativas apontam para uma fuga de capitais dos países emergentes de US$ 448 bilhões. 

*Os dados da Bloomberg Intelligence (2016) sinalizam para uma fuga de capitais da China em proporção muito maior – US$ 1 trilhão em 2015 –, o que ilustra a dimensão da batalha travada pelas autoridades econômicas para sustentar a cotação do renminbi. O estoque de reservas reduziu para US$ 3,33 trilhões, registrando uma perda de US$ 513 bilhões. Sobre as especificidades do processo de desenvolvimento e de abertura financeira na China, ver entre outros Aglietta (2015a e 2015b), Cintra, Silva Filho e Pinto (2015) e Cintra e Martins (2013).

Outro indicador do aumento da aversão ao risco das economias emergentes constitui a redução nas operações de carry trade, nas quais investidores captam recursos em países com taxas de juros mais baixas (iene, euro ou dólar) e aplicam em papéis de países com retornos mais atrativos (real brasileiro, peso mexicano, rand sul-africano ou lira turca, entre outras). Como envolve investimentos em ativos lastreados em moedas locais, o risco da operação corresponde a uma valorização da divisa de financiamento em relação às que recebem essas transações. O índice UBS V24 Carry – que mede os retornos das operações de carry trade de uma cesta com 24 moedas – caiu 14,14% desde o pico recente, em agosto de 2014, segundo levantamento do economista José de Castro. Desde a máxima de maio de 2010, registrou queda de 27,37% (gráfico 1).

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Neste cenário de elevada instabilidade dos países emergentes, cresce o risco de uma desaceleração nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, desencadeada pelas perspectivas de alta das taxas de juros americanas (em dezembro de 2015, a taxa básica foi elevada em 0,25%) e de valorização do dólar. Assim, a deterioração dos mercados financeiros, os impactos da desaceleração na China, a queda do preço das commodities, sobretudo do petróleo, no início de 2016, introduzem o risco de uma nova recessão global. A Grande Recessão, como tem sido denominada a dinâmica da economia mundial desde a crise financeira sistêmica de setembro de 2008, deve se prolongar ainda mais, revelando-se mais longa do que muitos poderiam imaginar.

PERSPECTIVAS PREOCUPANTES

Neste início de 2016, as perspectivas para os países em desenvolvimento se deterioram ainda mais diante das transformações estruturais em curso na economia mundial, tema extremamente debatido no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça, no evento de meados de janeiro. Para Klaus Schwab (2015), a Quarta Revolução Industrial promove uma “fusão de tecnologias, borrando as linhas divisórias entre as esferas físicas, digitais e biológicas”. Ela fomenta a inteligência artificial, a robótica, a impressão 3D, os drones, a nanotecnologia, a biotecnologia, a estocagem de dados (big data) e de energia, os veículos autônomos, os novos materiais, a internet das coisas etc.

Relatório do banco de investimento suíço UBS (2016, p. 3), por sua vez, defende que a Quarta Revolução Industrial está ancorada em duas forças. “A primeira é a automatização extrema, produto de um crescente papel para a robótica e a inteligência artificial nos negócios, governo e vida privada. A segunda, extrema conectividade, aniquila a distância e o tempo como obstáculos à comunicação cada vez mais ampla e mais rápida entre os seres humanos, entre seres humanos e máquinas e entre máquinas e máquinas”. Com efeito, a criação da plataforma Uber, por exemplo, somente foi possível pelo aumento explosivo de aparelhos portáteis conectados à internet. Facebook, WhatsApp, Snapchat, Twitter e Instagram passaram a desempenhar papel crucial na interação dos cidadãos em todo o mundo.

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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

O secretário-geral adjunto da Cepal Antonio Prado (2015) destaca os potenciais da inteligência artificial: “Um grupo de pesquisa descobriu uma nova proteína para o combate de determinados tipos de câncer, apoiado pelo sistema Watson [da IBM]. O supercomputador fez uma revisão de mais de 100 mil estudos sobre o assunto e descobriu a nova proteína, posteriormente confirmada pelos cientistas humanos. Vejam, um software e um supercomputador fizeram a descoberta. Mais do que jogar xadrez ou ser um grande especialista em charadas televisivas, Watson faz ciência. Nenhum grupo de cientistas seria capaz de revisar uma literatura tão ampla para chegar a essa conclusão. Esses sistemas hoje fazem traduções simultâneas, respondem perguntas em celulares, substituem médicos, advogados, contadores, policiais, economistas, operadores de mesa de bolsas, professores, assistentes on-line. Mas isso é apenas o começo”.

O aumento da capacidade de processamento e, simultaneamente, de redução de custos das análises dos supercomputadores se revela, por exemplo, no custo para o sequenciamento de um genoma: de US$ 100.000 em 2001 caiu para US$ 5.000 em 2014 e US$ 1.400 em 2016 (UBS, 2016, p. 12). A capacidade de armazenamento de dados digital tem dobrado a cada dois anos. O universo digital deverá atingir 44 zetabytes (ZB) até 2020, um aumento de 50 vezes o montante de 2010. Isso equivale a 318 iPhones (32 GB) por família (UBS, 2016, p. 30).

Agência Brasil
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Um dos impactos mais importantes da Quarta Revolução
Industrial deverá ser no mercado de trabalho

A venda mundial de robôs atingiu 255 mil unidades em 2015, 12% a mais do que no ano anterior, segundo a pesquisa World Robotics, da Federação Internacional de Robótica (International Federation of Robotics – IFR). Espera-se um salto nas vendas para 400 mil em 2018. A Ásia, em especial China e Coreia do Sul, responde por 60% das vendas. Japão, Estados Unidos e Alemanha completam o grupo dos que mais incorporam robôs nas linhas de produção (Rodrigues, 2016). O advento dos cobots, ou robôs colaborativos, capazes de se “movimentar” e de interagir sem a necessidade de posições fixas, tem potencial para trabalhar muito mais nas cadeias produtivas do que os trabalhadores humanos menos qualificados.

Dessa forma, um dos impactos mais importantes da Quarta Revolução Industrial deverá ser no mercado de trabalho. Relatório preparado pelo Fórum Econômico Mundial, com base em pesquisa em 15 grandes economias desenvolvidas e em desenvolvimento, projeta uma perda líquida de 5 milhões de empregos até 2020, sendo a perda de 7,1 milhões de empregos compensada pela criação de 2,1 milhões de empregos em áreas mais especializadas, tais como computação, matemática, arquitetura, engenharia, mídia e entretenimento, indicam estudos de Assis Moreira, Daniel Ritt e Oliver Cann.

Para se ter uma ideia da revolução em andamento, o aplicativo WhatsApp gerou retornos impressionantes para um pequeno grupo de fundadores e investidores quando a Facebook pagou US$ 22 bilhões pela empresa em fevereiro de 2014, a despeito de ser operada por apenas 55 funcionários. A companhia aérea United Continental, capitalizada de forma semelhante em dezembro de 2015, possuía 82.300 trabalhadores (UBS, 2016, p. 16).

Por conseguinte, a Quarta Revolução Industrial deve favorecer os países mais desenvolvidos, em face do maior acesso à tecnologia, à capacidade de inovação, à mão de obra qualificada, à cultura de integração, à infraestrutura e ao capital necessário para gigantescos investimentos, em detrimento daqueles mais intensos em mão de obra barata, que tenderá a ser substituída por sistemas computacionais e robôs. Além disso, a passagem do comércio físico para o “virtual” pode ter impacto nos motores de crescimento das economias emergentes.

CADEIAS PRODUTIVAS CURTAS

Isso significa que as cadeias produtivas tenderão a se encurtar, desencadeando outro período de verticalização da produção de alta tecnologia e de distribuição das tecnologias mais simples. Já se observa, por exemplo, um retorno de fábricas (onshoring) para os Estados Unidos. Projeta-se ainda que este novo cenário econômico pode fortalecer o dólar, como moeda de pagamentos e de reserva internacional, em razão das vantagens competitivas detidas pelos Estados Unidos com as tecnologias – e a propriedade intelectual – da Quarta Revolução Industrial.

Enfim, baixo dinamismo no curto prazo e mudança estrutural no médio e longo prazo constituem desafios gigantescos colocados aos países em desenvolvimento: alguns poderão avançar; outros se distanciarão ainda mais dos países desenvolvidos; uns provavelmente sucumbirão. A China, por exemplo, planeja se transformar na maior produtora de semicondutores em 2030, com investimentos estimados entre US$ 100 bilhões e US$ 150 bilhões anunciados em 2014, para dominar a tecnologia de design, de fabricação e de empacotamento de chips, informa The Economist.

A secretária executiva da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), Alícia Barcena, argumenta que “vivemos não uma época de mudanças, mas uma mudança de época” (Prado, 2015). Isso significa transformações das estruturas, dos paradigmas técnico-científicos, da dinâmica econômica global. Enfim, mudanças que ocorrem dentro das estruturas e que transformam a própria
estrutura.

 
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