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A ameaça do desmatamento

2015 . Ano 12 . Edição 84 - 16/10/2015

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Estudo revela aumento de doenças epidêmicas como consequência da derrubada da floresta

Mariana Paulino

Para cada 1% de floresta derrubada anualmente na Amazônia, há um aumento de 23% na incidência de casos de malária e de 8% a 9% na de casos de leishmaniose. Essa é a principal conclusão de pesquisa realizada pelo Ipea que confirmou um relevante efeito colateral da derrubada de nossas matas nativas: a proliferação de doenças epidêmicas. O trabalho, conduzido pelos pesquisadores Nilo Saccaro, Lucas Mation e Patrícia Sakowski, revelou uma preocupante relação entre o desmatamento e o aumento de doenças na Amazônia, especialmente a malária e a leishmaniose em suas duas formas, a visceral e a cutânea, ou tegumentar.

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Para cada 1% de floresta derrubada anualmente na Amazônia, há um
aumento de 23% na incidência de casos de malária e de 8% a 9% de casos
de leishmaniose

Em 2014, 4.848 km2 da Região Amazônica foram desmatados. O índice apurado no ano passado, apesar de alto, foi comemorado como um sinal da eficiência dos programasde combate ao desmatamento, sendo o segundo menor registro da história. A maior conscientização da importância de preservação das matas, seja na esfera pública, seja nas iniciativas coletivas promovidas pela sociedade civil, revela uma nova percepção sobre a ecologia no Brasil. E essa virada ecológica tem efeitos que vão muito além da preservação da cobertura florestal.

A percepção de que a redução da cobertura florestal amplia o risco de contágio nas populações próximas à floresta existe há muito tempo e isso vem sendo investigado por pesquisadores em todo o mundo. No caso da malária, alvo de uma das mais intensas políticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) em todo o planeta, multiplicam-se as análises que sugerem uma influência ambiental em sua proliferação. “Já havia consenso dentro dos estudos de que essa relação positiva entre desmatamento e malária existia. Mas o que se tinha eram estudos pontuais”, conta Nilo Saccaro. A novidade da análise brasileira é a sua amplitude e o método utilizado para criar um sistema capaz de ser aplicado em vários municípios com diferentes fatores locais, o que permitiu uma constatação mais clara do impacto na proliferação da doença. “O que existia até agora era um achado qualitativo e não essa tentativa de quantificação do efeito que a gente fez”, esclarece o pesquisador.

Divulgação
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Nilo Saccaro, técnico de Planejamento
e Pesquisa do Ipea

Os dados finais, de que para cada 1% de perda da cobertura florestal há um acréscimo de 23% na incidência de casos de malária na Região Amazônica, mostram que quase um quarto das infecções causadas pelo mosquito Anopheles poderia ser evitado com a manutenção das florestas. No caso da leishmaniose, a elevação no número de casos de 8% a 9% para cada 1% de mata derrubada na Amazônia em um ano também é preocupante.

A pesquisa cruzou dados coletados por diversos sistemas oficiais entre 2002 e 2012, completando uma década de material analisado para chegar aos resultados da influência do desmatamento. Os principais dados vieram do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. Mas muitos outros fatores foram analisados, como dados de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e relativos à meteorologia dos municípios pesquisados. A elaboração do estudo levou um ano e foi um trabalho conjunto da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur), da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset) e da Assessoria de Planejamento e Articulação Institucional (Aspla) do Ipea.

O ponto de partida para a análise foi a lista nacional de notificação compulsória de doenças e agravos, definida pelo Ministério da Saúde. A partir daí foram pesquisados os registros de dengue, doença de Chagas, esquistossomose, febre tifoide, leptospirose, sarampo e rubéola. Também foram tabulados os dados de acidente por animais peçonhentos. Em todos os casos foi constatado um aumento do agravo com a perda da cobertura florestal, embora do ponto de vista estatístico a correlação desse fator com o número de registros de saúde só pode ser constatada, inequivocamente, para a malária e leishmaniose.

Reprodução
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A dengue, por exemplo, que tem atingido municípios do Sudeste
e Centro-Oeste, é tradicionalmente uma doença urbana e seu vetor,
o Aedes aegypti, é bem menos resistente do que o Anopheles,
que transmite a malária

O estudo não busca os motivos por trás do comportamento dessas doenças especificamente, mas um dos aspectos que pode explicar a expansão em detrimento de outras doenças também transmitidas por mosquitos é a resistência das espécies transmissoras e a relação mais próxima com o ambiente florestal. A dengue, por exemplo, que tem atingido municípios do Sudeste e Centro-Oeste, é tradicionalmente uma doença urbana e seu vetor, o Aedes aegypti, é bem menos resistente do que o Anopheles, que transmite a malária. Enquanto uma fêmea de Aedes consegue percorrer uma distância de 2.500 m2, o raio de alcance de um mosquito da malária pode chegar a 7 km.

Além dos resultados relevantes para o sistema de saúde brasileiro sobre o avanço das doenças epidemiológicas nas áreas atingidas pelo desmatamento, o trabalho de Saccaro, Mation e Sakowski estabelece um modelo sem precedentes para análise dos impactos ecológicos em grandes áreas. Os pesquisadores analisaram cada um dos 773 municípios que compõem a Amazônia Legal, algo nunca antes feito. “A contribuição desse artigo é apresentar uma estratégia empírica mais limpa dos fatores que poderiam confundir a análise. São poucos os estudos que usam tantos controles como o que fizemos”, afirma Lucas Mation, responsável pela econometria do estudo. Apesar da vasta literatura sobre doenças tropicais, nenhum estudo analisou tantos municípios com uma metodologia padrão. Um dos mais amplos, citado no artigo, é uma recente pesquisa realizada em 27 vilas da Indonésia. O estudo indonésio, de 2014, encontrou a mesma relação entre o desmatamento e o aumento de registros de malária, embora o índice verificado seja bem menor, de 2% a 4,5%, o que torna o estudo brasileiro mais impressionante.

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A intenção dos pesquisadores é colaborar com a tomada de decisão nas
políticas de saúde e ambientais na Região Amazônica, oferecendo dados
claros sobre os efeitos do desmatamento para além das áreas já amplamente
analisadas, como o aumento na emissão de carbono

A intenção dos pesquisadores é colaborar com a tomada de decisão nas políticas de saúde e ambientais na Região Amazônica, oferecendo dados claros sobre os efeitos do desmatamento para além das áreas já amplamente analisadas, como o aumento na emissão de carbono, por exemplo. “O problema é quando você desconhece o efeito. Se você não conhece o efeito do desmatamento em várias áreas, pode acabar tomando a decisão que não seria a ideal”, analisa Mation. O sistema de análise de dados elaborado pelos pesquisadores pode ser usado para um monitoramento contínuo, auxiliando no estabelecimento de estratégias que mitiguem a expansão das doenças ou mesmo colaborando nos projetos de alocação de verbas e materiais de saúde nos municípios amazônicos. “A gente ganha conhecimento e um conhecimento mais exato da influência do desmatamento. O estudo mostra que é um exagero dizer que atinge todas as doenças e que também é um exagero dizer que não há influência nenhuma do desmatamento”, avalia Saccaro. “Mas é importante saber que continua sendo um impacto muito grande.”

 
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