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Bicicleta está na moda, mas não é prioridade

2012 . Ano 9 . Edição 71 - 08/05/2012

Claudio Oliveira da Silva

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É de Eduardo Vasconcellos, um dos maiores especialistas brasileiros em mobilidade urbana, o seguinte pensamento: a ideologia das elites domina as decisões políticas no Brasil (visão histórica e sociológica) e elas, as elites, não estão dispostas a abdicar do projeto de desenvolvimento voltado para o uso do automóvel. Ele fez essa reflexão no “Fórum: cidades, bicicletas e o futuro da mobilidade”, realizado em São Paulo em julho deste ano. O objetivo foi enfatizar que não existe hoje no Brasil grupo político influente a ponto de fazer valer o projeto de desenvolvimento voltado para o uso de transportes não motorizados, dentre eles a bicicleta.

A realização do Fórum, idealizado por David Byrne para acontecer em mais sete cidades da América Latina, e a quantidade de pessoas presentes – 700 sentadas e 150 bicicletas do lado de fora – dão a mostra de como o tema tem ganhado relevância diante da opinião pública.

Iniciativas dos mais diversos segmentos da sociedade também reforçam a tese de que a bicicleta está na moda. São exemplos de políticas públicas locais, ações do meio acadêmico, empresas, ONG’s e sociedade civil. Uma das últimas telenovelas da Rede Globo de Televisão, com grande influência no aculturamento da população, apresentou tramas que giravam em torno da personagem de três atletas ciclistas.

Edson Musa, da Caloi, reconhece que “Antes, ter carro era sinônimo de ser rico e de país desenvolvido. Isso está mudando. Hoje, país moderno, de vanguarda, é país que anda de bicicleta”. Não à toa essa citação faz parte da estratégia da empresa de investir na produção de modelos mais confortáveis, sofisticados e de alto valor de venda.

Para além da moda, defendo que somos sim um país das bicicletas. A pesquisa Sistema de Indicadores de Percepção Social – Mobilidade Urbana, do Ipea, mostra que o percentual médio nacional de uso da bicicleta, dentre todos os outros modos, é de 7%. Para efeitos de comparação, esse percentual coloca o Brasil seguramente entre os dez países do mundo onde mais se usa a bicicleta. A Holanda tem 27% de uso e uma infraestrutura destinada ao ciclista 13 vezes maior do que a nossa.

No Governo Federal temos o Programa Bicicleta Brasil, do Ministério das Cidades, que foi instituído em 2004 com objetivo de fomentar o uso da bicicleta como meio de transporte e dar apoio de forma indireta para implantação de sistemas cicloviários no Brasil.

Desde então realizamos diversas atividades de apoio técnico e institucional, sendo que o apoio financeiro, esse indireto, não tem sido muito significativo. Sobre dados da Caixa Econômica Federal é possível verificar que foram investidos R$ 5.459.876,44 do Orçamento Geral da União (OGU) em ciclovias e obras cicloviárias de 2004 a 2011. Esse montante permite a construção de aproximadamente 30km de ciclovias, algo insignificante perto dos três mil quilômetros reservados para pavimentação de vias na primeira fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC – Pavimentação), além dos outros quatro mil quilômetros da segunda fase a ser implementada no horizonte do próximo Plano Plurianual de Investimentos (PPA).

Por incrível que pareça, o ato mais recente e relevante de política cicloinclusiva praticado pelo Governo Federal não veio do Ministério das Cidades e sim do Ministério da Educação com o Programa Caminho da Escola. Em maio deste ano foi anunciada a doação de trinta mil bicicletas para municípios com até cinco mil alunos matriculados na rede pública de educação básica. O objetivo é dar aos estudantes nova alternativa de acesso às escolas e a meta é chegar a doação de cem mil bicicletas até o final de 2011.

A Presidenta Dilma Rousseff, ao comentar a iniciativa, falou em “criar uma cultura do ciclismo no Brasil: é isso que queremos” e “se as prefeituras adotarem essa prática, construindo ciclovias, eu tenho certeza que veremos muitas outras bicicletas circulando pelas ruas”. Considerando que as prioridades de investimento do Ministério das Cidades em mobilidade urbana são os PAC’s (Copa 2014, Pavimentação e Grandes Cidades) e que esses não contemplam o incremento da infraestutura cicloviária do pais, é de se esperar que os prefeitos se virem para construir ciclovias. Enquanto isso ficamos com a estrutura operacional precária do Programa Bicicleta Brasil realizando eventos e fomentando a cultura do ciclismo, mesmo acreditando que sem infraestrutura cicloviária nada pode dar certo.

O principal desafio nesse momento é tornar a mobilidade por bicicletas prioridade na agenda política e inverter recursos significativos para sua implementação. Será fácil? Definitivamente não. Trata-se de um caso de fragilidade da democracia e distanciamento entre o povo e as decisões políticas.

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Claudio Oliveira da Silva é mestre em Arquitetura e Urbanismo, professor e Arquiteto do Ministério das Cidades.

 
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