Ciência & inovação |
2006. Ano 3 . Edição 29 - 11/12/2006 Pesquisa Lia Vasconcelos
Internet Longe da universalização Os primeiros resultados da 2ª Pesquisa sobre Uso da Tecnologia da Informação e da Comunicação no Brasil, a TIC Domicílios 2006, comprovaram que o país ainda está longe de universalizar o acesso à tecnologia. Os dados, divulgados pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mostram que mais da metade dos brasileiros (54,4%) nunca usou um computador e apenas um terço da população já navegou na Internet. Entre aqueles que tiveram acesso à rede mundial nos últimos três meses, 40% o fizeram da própria casa, 30% em centros públicos pagos (as LAN houses) e 24,4% conectaram-se no local de trabalho. Os que ainda estão à margem do mundo da informática explicam que não conseguem romper a barreira por causa do alto custo dos computadores e da conexão. Mais informações no endereço www.nic.br/indicadores. Astronomia
Olhando do alto No dia 19 do mês passado, um imenso balão de 500 mil metros cúbicos de volume subiu aos céus a partir da base do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em Cachoeira Paulista (SP). Ele carregava um telescópio de 8 metros de comprimento e 800 quilos de peso.O balão subiu a 38 quilômetros de altura, de onde o telescópio pôde produzir imagens de alta resolução de objetos astronômicos e transmiti-las para a Terra. Os principais objetivos científicos desse experimento são a detecção de mecanismos de aceleração de partículas no universo, medidas diretas da emissão de buracos negros, e a compreensão do ciclo de reprocessamento de elementos químicos no universo. Depois de 12,5 horas de vôo, o telescópio se desprendeu do balão e caiu sobre o mar, com o auxílio de pára-quedas, no litoral do Rio de Janeiro.Toda essa operação tem o nome de experimento Sumit (sigla em inglês para SuperMirror Imaging Telescope experiment) e foi realizada pelo Inpe em parceria com a Universidade de Nagoya e o Institute of Space and Astronautical Science (Isas), do Japão. Sementes Cultura resgatada A cultura é algo tão abrangente e, ao mesmo tempo, abstrato que pode ser encontrada nos lugares mais surpreendentes, como dentro dos frigoríficos das unidades de Brasília da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Foi exatamente aí que um grupo de cinco membros da comunidade indígena guarani M'bya, da ilha de Cotinga, município de Paranaguá, no Paraná, foi em busca de suas antigas tradições. Nas câmaras frias da Embrapa, estão sementes originais de abóbora,moranga, batata-doce, mandioca, inhame, pimentas, hortaliças e sorgo sacarino, capazes de produzir os vegetais como eles eram antigamente, antes que o manuseio, o uso de agrotóxicos, os enxertos e as modificações genéticas alterassem as sementes. Não é a primeira vez que a Embrapa desenvolve esse tipo de trabalho. Nos anos 1990, ela devolveu aos Craôs, do Tocantins, o seu milho tradicional, que havia se perdido. Para os índios, as sementes são sagradas, porque foram um presente de Tupã para que os homens tivessem alimento na Terra. A missão dos indígenas é guardar as sementes, gerar novos frutos e impedir que elas se percam. Monitoramento Quem está fazendo o quê Uma das grandes dificuldades na hora de criar políticas públicas de incentivo à pesquisa é saber exatamente o estágio atual do desenvolvimento no país e fora dele: quem está fazendo o que e onde. Para responder a essas perguntas, o Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (DPCT-Unicamp), em parceria com a Elabora, empresa do núcleo Softex, está trabalhando na criação de um sistema de monitoramento em ciência e tecnologia. O projeto atende a um pedido da Coordenação Geral de Biotecnologia e Saúde, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e por isso a área escolhida como alvo do acompanhamento é justamente a biotecnologia. Para isso, além de discussões de cunho conceitual e metodológico, foi desenvolvido um software para acesso, obtenção e tratamento de informações que permitiu a coleta de mais de 32 mil patentes e de quase 9 mil artigos, entre 1973 e 2003. Os primeiros resultados mostram uma grande planilha com vários tipos de busca. Análises de dados coletados revelaram, por exemplo, o destaque da Austrália em patentes na área de biotecnologia, entre os anos 1970 e 1980, e o gasto bem maior com pesquisa e desenvolvimento desse país, quando comparado ao Brasil. Na segunda fase do projeto, ainda em andamento, serão refinados os instrumentos de monitoramento, incluindo atualizações, expansões das redes de dados, capacitação de profissionais,ampliações da rede de busca, aperfeiçoamentos dos procedimentos computacionais e aplicações da metodologia no campo da genômica.
Energia Fusão internacional À medida que a ameaça de escassez de energia aumenta,qualquer iniciativa visando diversificar a matriz energética é bem-vinda. Por isso foi muito comemorada a formalização da Rede Nacional de Fusão (RNF), ocorrida no mês passado. Os objetivos da rede são o avanço dos experimentos em fusão nuclear controlada e a participação em projetos internacionais, como o do Reator Termonuclear Experimental Internacional (Iter, na sigla em inglês), que será construído na França em colaboração com países da Comunidade Européia,Estados Unidos,Japão,Rússia, China, Índia e Coréia do Sul. A RNF será formada por quinze instituições de pesquisa, abrigando inicialmente setenta cientistas. A coordenação ficará por conta da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Inovação Pesquisa subestimada O empresariado brasileiro ainda não acordou para a importância do investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) dentro das empresas. É o que mostra o livro Inovação Tecnológica no Brasil: a Indústria em Busca da Competitividade Global, publicado pela Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei).Segundo os autores,das empresas que fizeram pelo menos uma inovação de produto ou processo em 2000, apenas 24,2% consideravam altamente importante a realização de atividades internas de P&D, porcentagem que caiu para 17,2% em 2003. No outro extremo, 79,3% dessas empresas consideraram baixa a importância da P&D interna. Computadores A fórmula 1 dos processadores Um computador de propriedade brasileira acaba de ingressar no Top 500, ranking dos 500 computadores mais rápidos e potentes do mundo. Ele é o terceiro computador com endereço no Brasil a constar na lista, mas é o primeiro de uso acadêmico, já que os outros dois pertencem à Petrobras. O novo supercomputador, fabricado pela IBM, foi adquirido pela Universidade de São Paulo (USP) e é composto de um aglomerado de 448 processadores que trabalham simultaneamente, efetuando a incrível quantidade de 2,9 trilhões de operações por segundo. O cluster, como é chamado esse conjunto de processadores, ficará instalado no Centro de Computação Eletrônica da USP e deverá entrar em operação no dia 15 de dezembro. O novo computador, que ocupa a 363ª posição no Top 500, custou 650 mil dólares,mas os cientistas acreditam que seu preço de mercado chegue a 1 milhão de dólares. Ele foi vendido por um valor inferior porque o fabricante achou interessante ter o equipamento na lista dos 500 mais. Veterinária
Vacina celular O Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), ligado à Secretaria de Estado da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior, começou a produzir uma nova vacina anti-rábica de uso veterinário por cultivo celular. Não tem efeito colateral,produz mais anticorpos e imuniza os animais por prazo mais longo do que a vacina tradicional. Foi desenvolvida no Japão em 1961, mas até agora não era fabricada no país."A inovação coloca a Tecpar no estágio dos laboratórios mais avançados do mundo", diz Mariano de Matos Macedo,presidente do instituto. Sua previsão é de que os criadores brasileiros comprem 33 milhões de doses em 2007. E que também haja interesse pelo produto no Mercosul.
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