Caminho novo na pesquisa sobre o câncer |
2004. Ano 1 . Edição 1 - 1/8/2004 por Mônica Teixeira
Sobre genomas e seu papel na vida, reprodução e morte das células, há mais mistérios do que a cobertura triunfalista das mídias deixa entrever. Um dos territórios misteriosos cerca a pergunta sobre quais funções podem desempenhar certos pedaços dos genes removidos pela maquinaria celular. A remoção acontece durante o intrincado caminho que vai do DNA (matéria-prima dos genes), até a formação das proteínas, verdadeiras rainhas da vida das células. Financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Sérgio Verjovski-Almeida e seu grupo de pesquisa do Instituto de Química da USP acabam de botar um tijolinho na desconstrução do mistério. O grupo usa microarrays como ferramenta de análise - chips de vidro sobre o qual um robô dispõe material genético. No curso de sua investigação, Sérgio decidiu montar microarrays justamente com aqueles trechos postos de lado. Estudando material coletado em células de tumores de próstata, seu grupo encontrou uma correlação significativa entre o grau de malignidade desses tumores e a atividade dos trechos desprezados - mas não desprezíveis, como se sabe agora. Pela primeira vez ficou demonstrada a relação entre eles e o câncer, doença hoje vista essencialmente como derivada de defeitos genéticos celulares. Os trechos cuja função o grupo da USP estudou são chamados, na linguagem técnica, de não-codificantes e antisense- palavra inglesa que indica a particularidade de serem lidos pela máquina bioquímica no sentido contrário ao habitual. Uma patente para a proteção do método está sendo depositada, e há uma empresa interessada em explorá-lo comercialmente, dado o seu potencial de informar sobre a evolução da doença. O artigo foi publicado na revista Oncology, disponível no endereço www.nature.com/onc. |