2004. Ano 1 . Edição 5 - 1/12/2004
Maysa Provedello
Ninguém mais se surpreende ao ouvir a afirmação, já bastante conhecida, de que a cidade não pára. No caso de São Paulo e de cidades vizinhas, que formam a maior região metropolitana da América Latina, a frase é mais do que apropriada - chega a ser uma espécie de definição. São Paulo é a cidade que não pára e não pode parar. Cercada de contrastes urbanos por todos os lados, a região vive um cotidiano marcado, ao mesmo tempo, por um permanente processo de reestruturação de ambientes e por um paradoxal caminho marcado por permanências, também chamadas pelos especialistas em urbanismo de "persistências".
Numa tentativa de mapear os ciclos atravessados pela metrópole paulistana desde a década de 1950, sobretudo entre os anos 1980 e o presente, as professoras Regina Maria Prosperi Meyer e Marta Dora Grostein, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade de São Paulo (USP), e Ciro Biderman, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), também da USP, sistematizaram uma série de pesquisas já realizadas acerca do assunto. Os trabalhos foram desenvolvidos desde o ano 2000 pelos pesquisadores do Laboratório de Urbanismo da Metrópole (Lume), ligado ao CEM, e organizados de forma a apresentarem uma grande radiografia de cada um dos principais movimentos de transformação percebidos no período.
Mas o conteúdo da publicação, repleta de textos, fotografias, mapas e gráficos, busca mais do que ser um painel do passado. Analisa a convivência conjunta, tanto do ponto de vista espacial quanto do temporal, de dois mundos opostos, que se caracterizam por dois padrões de ocupação. De um lado está o modelo chamado de moderno, relacionado aos novos modos de vida e produção, e suas demandas funcionais. No outro extremo é apresentado o padrão denominado precário, remanescente do estilo predominante no ciclo industrial, que determinava um certo desordenamento. Trata-se de um novo formato de organização social. A análise de temas metropolitanos contemporâneos é feita simultaneamente à pesquisa sobre questões relativas à economia urbana, sobretudo no que se refere ao papel da metrópole na nova etapa produtiva do capitalismo, que passa da predominância industrial para a ampliação de sua vocação para a prestação de serviços.
Também está reservado aos leitores um espaço para um estudo mais aprofundado sobre os arranjos territoriais que o atual processo sócio-econômico instala na região metropolitana de São Paulo. E o interessante é que os autores propõem uma abordagem através da qual se compreende que o espaço construído na cidade não deve ser visto como um simples reflexo do que acontece nos setores produtivos, mas que ele é, também, ator dessas transformações.
O livro se apresenta, em geral, como um instrumento de estudo para a formulação de políticas públicas urbanas nas grandes cidades, desvendando as dinâmicas emergentes dos novos tempos, como a necessidade de integração dos transportes em uma grande malha. Por outro lado, revela como a São Paulo metropolitana vem conseguindo administrar a convivência entre o futuro e o passado revisitado pelos novos rumos econômicos.
A cartografia econômica da metrópole é apresentada não apenas como registro neutro da realidade mas como uma atividade de análise que visa à constituição de uma agenda que contemple o planejamento metropolitano e o projeto urbano, no intuito de criar mais racionalidade no uso do território.
Não se imagine, no entanto, que os estudos e pesquisas, e o livro em si, servem apenas para os especialistas do ramo ou para os formuladores de políticas públicas. A literatura produzida pelos autores é do interesse do leigo, daqueles que vivem nas grandes cidades e gostam de entender o que se passa a seu redor.
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