resep nasi kuning resep ayam bakar resep puding coklat resep nasi goreng resep kue nastar resep bolu kukus resep puding brownies resep brownies kukus resep kue lapis resep opor ayam bumbu sate kue bolu cara membuat bakso cara membuat es krim resep rendang resep pancake resep ayam goreng resep ikan bakar cara membuat risoles
A natureza agradece - Projeto de economia solidária idealizado por Dom Ivo Lorscheiter torna-se referência
Em vez de poluir a atmosfera e agravar o efeito estufa, o gás emitido pelo Aterro Sanitário Bandeirantes, na capital paulista, serve de combustível para alimentar uma usina termoelétrica. O Protocolo de Kyoto possibilita receita adicional com a venda de créditos de carbono

Por Ottoni Fernandes Jr... de São Paulo

melhorespraticas53

Foi como achar dinheiro no lixo.Foi isso mesmo o que aconteceu com a Biogás Energia Ambiental.A empresa capta o gás bioquímico (GBQ) produzido no maior aterro sanitário de São Paulo, o Bandeirantes, localizado em Perus,na região metropolitana da capital paulista.O material é vendido para a Unidade Térmica de Energia (UTE) Bandeirantes,o que rende cerca de 700 mil reais por mês.Ali,serve de combustível - o gás move 24 grupos motogeradores capazes de produzir 20 megawatts de energia elétrica,quantidade suficiente para abastecer uma cidade de 300 mil habitantes.Na rede da Eletropaulo,a energia ilumina, entre outros locais,os prédios administrativos do Unibanco,que financiou a construção da usina. É,como se vê,um jogo de ganhaganha, em que todas as partes faturam e a natureza agradece, pois o GBQ gerado no aterro deixou de ser liberado na atmosfera, e o que antes contribuía para o aquecimento global passou a ser combustível.Além disso,uma vez captado e aproveitado,o GBQ proporciona um faturamento adicional graças à venda de créditos de carbono, certificados que comprovam a redução da emissão de gases causadores do efeito estufa (leia quadro Poluição vira mercado).Em abril,a Biogás Ambiental vendeu, ao banco alemão KFW, 1 milhão de toneladas de créditos de carbono pelos gases de efeito estufa (GEE) que deixou de emitir em 2004 e 2005. O banco tratará de repassar os créditos a empresas de países desenvolvidos comprometidas com o Protocolo de Kyoto,que compram os “títulos”para compensar as emissões que não conseguem cortar.

 

O aterro Bandeirantes pode receber reduções certificadas de emissões correspondentes a 16,1 milhões de toneladas de carbono, até que seu gás bioquímico se esgote

 

melhorespraticas_a8

 Vista aérea do aterro sanitário Bandeirantes, cuja capacidade se esgotará no ano que vem, porém continuará fornecendo gás para geração de energia

A prefeitura municipal de São Paulo, que em 2001 deu à Biogás a concessão para explorar o gás do aterro por quinze anos, é mais uma a ficar bem.Metade da renda proveniente da venda dos créditos de carbono será dela e contribuirá para reduzir a conta que paga à empresa Loga,cessionária da operação do aterro, que, por sua vez, subcontratou a Heleno&Fonseca Construtécnica para o serviço. O valor ainda depende da aprovação técnica do Secretariado do Painel da Convenção das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC, da sigla em inglês),aguardada para setembro. Com o sinal verde, o preço de venda será a média dos trinta dias posteriores à autorização - atualmente, a tonelada de carbono é negociada na Europa na faixa de 15 euros,mas atingiu 24 euros em abril.

O banco KFW cobrará comissão de 15% sobre a venda e o restante será dividido entre a Biogás e a prefeitura.O negócio tem futuro.Mesmo depois do início de 2007, quando deixar de receber lixo,o aterro continuará a gerar gás por quinze anos, até o limite de sua capacidade de 35 milhões de toneladas de resíduos.Assim,novos créditos de carbono poderão ser vendidos.A previsão é que, até se esgotar, o aterro renda reduções certificadas de emissões correspondentes a 16,1 milhões de toneladas de carbono.

Todo esse mecanismo pôde ser desencadeado porque o aterro Bandeirantes tem características peculiares.É planejado.Trata- se de uma obra de engenharia em que os resíduos são depositados,em camadas,sobre a terra impermeabilizada por mantas plásticas.Há drenos verticais e um sistema que leva o chorume (líquido produzido pela decomposição anaeróbia da matéria orgânica) para lagoas de contenção localizadas num nível inferior e dali a estações de tratamento de esgoto.Cada camada é coberta com terra e impermeabilizada.Quando o aterro parar de receber lixo, será uma montanha tratada de até 150 metros de altura, coberta por árvores e arbustos.

melhorespraticas1_08

Poluição vira mercado

Invisível e vital para o planeta Terra, o mercado criado em torno dos gases poluentes contribui para diminuir as emissões de gases, o conseqüente aquecimento global e a previsível catástrofe ambiental, com aumento do nível dos oceanos e trágicas alterações climáticas. Também abre novas frentes de negócios, gerando empregos em países em desenvolvimento. Em 2005, esse universo movimentou a respeitável quantia de 10 bilhões de dólares, segundo recente relatório do Banco Mundial - valor que poderá triplicar neste ano.

A mercadoria - os créditos de carbono pelos gases de efeito estufa (GEE) - já é commodity. Pode ser gerada com a produção de energia elétrica de forma limpa, com a queima de biomassa, como bagaço de cana, ou com o gás produzido em aterros sanitários, ambos combustíveis que emitem muito menos GEE do que os de origem fóssil, como carvão mineral e diesel.As reduções certificadas de emissões (RCE), decorrentes da implantação de projetos desse tipo, são medidas em toneladas equivalentes a emissões de dióxido de carbono (CO2). Os compradores são grupos empresariais que poluem a atmosfera com GEE, com sede nos 35 países desenvolvidos que se comprometeram em diminuir, até 2012, 5,2% das emissões desses gases, tendo por base os níveis registrados em 1990, conforme estabelece o Protocolo de Kyoto, da Organização das Nações Unidas (ONU).

As leis ambientais desses 35 países determinam o volume de redução para cada tipo de empresa. A Convenção das Nações Unidas, que regulamentou o Protocolo, permite que companhias ou governos que superem suas metas de corte comprem créditos gerados por projetos de redução instalados em países em desenvolvimento. Assim, estabeleceu-se uma maneira de minorar o estrago provocado pela poluição e, ao mesmo tempo, criar uma fonte de receita para países menos desenvolvidos. Na avaliação de Richard Kinley, chefe do Secretariado do Painel das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, os mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL), baseados em projetos aprovados pela organização, podem evitar que 1 bilhão de toneladas de GEE poluam a atmosfera até 2012, o que equivale à soma das atuais emissões desses gases por Espanha e Reino Unido.

Segundo o levantamento das Nações Unidas, 27 países desenvolvidos - Estados Unidos, Europa Ocidental, Austrália e Nova Zelândia - aumentaram as emissões anuais de GEE de 12,7 bilhões de toneladas em 1990 para 13,9 bilhões de toneladas, alta de 9,4%, muito distante dos compromissos firmados no Protocolo de Kyoto - não ratificado pelos norte-americanos. Essa realidade impulsiona a demanda por RCE e movimenta o mercado de troca dos títulos.A principal bolsa de negociação está na Europa. É a European Climate Exchange (ECX), que responde por 80% do total transacionado.A bolsa de mercadorias de Chicago também movimenta RCE em seus pregões, e a Bolsa Mercantil & Futuros de São Paulo se prepara para aderir ao mercado.

Só são negociados títulos gerados por projetos aprovados pela UNFCCC, por meio do MDL, que audita e controla a redução das emissões. Até julho, o MDL aprovou 253 projetos, com potencial de eliminação de 72,6 bilhões de toneladas de gás atualmente emitido na atmosfera por ano. Com doze projetos aprovados, somando redução das emissões da ordem de 35%, a China é líder internacional nessa nova frente. Sua maior obra está sendo realizada na cidade de Zibo, na província de Shangdong. Lá, uma indústria química está instalando equipamentos para evitar o despejo do gás trifluorometano (HFC 23), cujo potencial de aquecer a atmosfera é 9,1 mil vezes superior ao do CO2 - é o mais danoso de todos os GEE. Com a reforma, a atmosfera ficará livre de 10,1 milhões de toneladas de veneno emitidos pela empresa por ano.

O Brasil ocupa a vice-liderança nesse ranking, com potencial de reduzir as emissões de GEE em 13,6 milhões de toneladas equivalentes de CO2 por ano (18,8% do total) em 58 projetos, sendo o maior o da fábrica da Rhodia Poliamida Especialidades, em Paulínia, no interior de São Paulo.A Rhodia poderá reduzir emissões de GEE equivalentes a 6 milhões de toneladas de CO2 graças ao processo de decomposição térmica de óxido nitroso (N20), com poder de aquecer a atmosfera 310 vezes mais que o dióxido de carbono. Projetos como esse, além de benefícios ambientais, garantem bons rendimentos, embora, no momento atual, o mercado seja, por assim dizer, volátil.

O Brasil tem potencial para gerar redução de 130 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa até 2012 - e uma receita de até 2 bilhões de euros

Parcerias Até a Biogás começar a operar, os drenos verticais jogavam na atmosfera toda a carga de GBQ,composto,em média, de 52% de metano, 43% de gás carbônico e 5% de outros gases.O metano tem poder 21 vezes maior do que o gás carbônico para elevar a temperatura da atmosfera. Sua liberação, portanto,agrava o efeito estufa.O engenheiro Antonio Carlos Delbin,diretor técnico da empresa, explica que, numa primeira fase, a instalação de 60 quilômetros de tubos de polietileno de alta densidade (Pead), conectados por cabeçotes aos 230 drenos verticais, tornou possível levar o gás a dois queimadores.A Biogás investiu 20 milhões de reais na montagem, valor dividido entre os três sócios:Arcadis Logos Energia, que estruturou o negócio, Heleno&Fonseca Construtécnica,que opera o aterro, e a empresa holandesa Van der Wiel Stortgas,que forneceu os equipamentos e a tecnologia.

melhorespraticas2_8

 melhorespraticas3_8

melhorespraticas4_8

Engenheiro Antonio Carlos Delbin, da Biogás, mostra as instalações de tratamento de gás da empresa. Ao lado, os queimadores onde é destruído o excedente de gás sem produção de metano. Por último, Richard Fazzani, gestor do projeto pelo Unibanco, diante do conjunto dos motogeradores da Unidade Térmica de Energia

Desde o início, o projeto contou com outro parceiro,o Unibanco,interessado por razões ambientais e estimulado pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa),do Ministério de Minas e Energia - implantado durante o apagão de 2001 para incentivar a produção de energia elétrica de fontes alternativas -,em cujo escopo os investimentos na montagem de pequenas centrais elétricas com combustível limpo ficavam isentos do recolhimento de impostos (como ICMS, PIS e Cofins) sobre a energia comercializada, além das taxas de transmissão e distribuição de energia.Como lembra o economista Richard Fazzani, gestor do projeto pelo Unibanco,o banco financiou a construção da UTE Bandeirantes, ao custo de 40 milhões de reais,com a intenção de funcionar como produtor independente e usar a energia para abastecer suas agências e prédios administrativos.Na realidade, a energia seria repassada à Eletropaulo e o Unibanco ficaria com créditos, a serem debitados da conta de eletricidade gasta em suas instalações.Tudo foi implantado em toque de caixa, pois o gás deveria ser fornecido para a UTE entrar em funcionamento até o final de 2003, o que garantiria os benefícios do Proinfa.

A UTE começou a jogar energia na rede da Eletropaulo em março de 2004,mas a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), órgão regulador do setor, não autorizou o fornecimento para as agências do Unibanco, pois a maior parte delas consome, individualmente,menos de 500 quilowatts.“ Quando decidimos implantar a usina movida a biogás, nos baseamos na Lei n.° 10.762 (de 11/11/2003),que permitia comercializar a energia de usinas enquadradas no Proinfa para um conjunto de consumidores reunidos por comunhão de interesses, com carga maior ou igual a 500 quilowatts,dentro da área de concessão da distribuidora de energia.Esse era o caso das agências do Unibanco na Grande São Paulo”, explica Fazzani.No entanto, ele esclarece:“ Até agora,a Aneel não regulamentou a lei,e não tivemos autorização para abastecer as agências,mas apenas os prédios administrativos, que consomem somente 30% da eletricidade produzida pela UTE Bandeirantes”. O planejamento do Unibanco previa corte de 20% em sua conta de luz.Como ainda não pode se beneficiar diretamente do investimento feito, 70% da energia da UTE Bandeirantes é vendida no mercado atacadista, por meio da Câmara de Comercialização de Energia (CCE).“Ao entrar no projeto,o banco tinha motivação socioambiental. Pretendia abastecer suas instalações com energia de fonte limpa. Diante das dificuldades,desistiu de outras iniciativas do mesmo tipo, embora continue interessado na montagem de operações de financiamento a produtores de energia elétrica com biomassa”, conclui o economista do Unibanco.

Exemplo A regulamentação do uso da energia de centrais alternativas, incentivadas pelo Proinfa, está na pauta do colegiado da Aneel, segundo informa Ricardo Vidinich, superintendente de regulação e comercialização da entidade,que envolve o caso de consumidores individuais reunidos em consórcio com gasto inferior a 500 Kw.

“O parecer da área técnica é favorável ao pleito do Unibanco,mas temos de ser cuidadosos. Esse tipo de utilização deve ser muito bem controlado,pois garante subsídio de 50% a 100% no valor das taxas de transmissão e distribuição da eletricidade, valor que acaba sendo compensado por outros consumidores”, pondera Vidinich.

Segundo ele, restarão dificuldades mesmo com a aprovação. Cada consumidor do consórcio - uma agência do Unibanco,por exemplo - terá de instalar um medidor eletrônico de eletricidade, interligado por modem à CCE, e o alto custo do investimento pode não ser compensador se o consumo for pequeno.

Apesar dos problemas regulatórios,Fazzani acredita que projetos semelhantes merecem a atenção de autoridades de outras cidades com problemas para dispor seus resíduos, pois, em vez de despejá-los em lixões, que poluem o lençol freático e são foco de doenças, podem, desde que colocados em aterros sanitários,gerar energia limpa e virar uma fonte de receita para o município.A geração de créditos de carbono pode ser um estímulo adicional.A empresa de consultoria ambiental Environmental Resources Management (ERM), com sede em Londres,na Inglaterra,calcula que o Brasil tenha potencial de gerar redução de emissões de 130 milhões de toneladas de GEE até 2012,em projetos aprovados pela ONU,o que poderia garantir uma receita, a preços atuais, da ordem de 2 bilhões de euros. E existem investidores privados interessados, como prova o caso do aterro Bandeirantes, montado em prazo recorde.

Embora o Unibanco tenha desistido de novos projetos de produção independente de energia elétrica,a Biogás pretende seguir em frente.Delbin informa que a empresa já tem concessão para explorar o Aterro Sanitário São João, da prefeitura paulistana, localizado no bairro de Sapopemba. Instalará outra usina termoelétrica de 20 MW.Um exemplo a ser replicado, em benefício do meio ambiente e das gerações futuras.

 

Saiba mais

Biogás Energia Ambiental
www.biogas-nergia.com.br

Unibanco S.A
www.unibanco.com.br

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
www.aneel.gov.br

Painel da Convenção das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC)
www.unfccc.int

Environmental Resources Management (ERM)
www.erm.com

PointCarbon
www.pointcarbon.com

Relatório do Banco Mundial sobre o Mercado de Carbono em 2006
http://carbonfinance.org/Router.cfm?Pag e=DocLib&CatalogID=27336

 
Copyright © 2007 - DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação sem autorização.
Revista Desafios do Desenvolvimento - SBS, Quadra 01, Edifício BNDES, sala 1515 - Brasília - DF - Fone: (61) 2026-5334