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Crianças na mídia - Os resultados positivos alcançados pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância

2004. Ano 1 . Edição 5 - 1/12/2004

Os resultados positivos alcançados pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância, premiada internacionalmente.

Por Maysa Provedello*, de Brasília

 

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 Crianças da Escola Municipal 7 de maio, de Jurema, Mato Grosso, com trabalhos manuais feitos a partir de material reciclado.

No dia 29 de janeiro de 2004, os mais importantes líderes da sociedade civil mundial estavam reunidos em Nova Déli, na Índia, na 5ª Conferência Anual de Desenvolvimento Global, promovida pela Global Development Network, organização ligada ao Banco Mundial. Na ocasião, eles tinham os olhos voltados para o Brasil. Mais precisamente, para Brasília, onde fica a sede da organização não-governamental (Ong) Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). A instituição foi considerada, por uma rigorosa comissão julgadora, como um dos três projetos sociais mais inovadores do mundo, na 5ª edição do Prêmio Japão Para o Projeto Mais Inovador de Desenvolvimento. O reconhecimento é oferecido às iniciativas sociais com elevado grau de criatividade e potencial de disseminação em outras regiões. Pode ser comparado ao Oscar das Ongs.

A agência promove os direitos das crianças e adolescentes por meio do uso dos recursos de comunicação. Numa comparação superficial, a Andi cumpre o mesmo papel que uma assessoria de comunicação para seus clientes só que, no caso, o cliente são meninos e meninas. Divulga fatos e assuntos especiais para os jornalistas, desenvolve publicações, promove encontros com profissionais da mídia e monitora o que é publicado sobre o assunto.

Parece pouco, mas não é. Imagine que um governo resolva extinguir um programa de atendimento a crianças com algum tipo de doença especial. Enquanto a decisão fica longe de jornais, rádios e televisões, fica fácil conter as reclamações e deixar as vítimas sem benefícios. Basta uma denúncia na primeira página de jornal para que os órgãos competentes, como ministério público, conselhos de direitos da infância e adolescência, entidades da sociedade civil e a população em geral pressionem seus dirigentes por explicações aceitáveis para a mudança ou para que voltem atrás na decisão.

Mas a Andi não faz apenas denúncias. Desde 1990, quando entrou em vigor o Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca), meninos e meninas ganharam um extenso pacote de direitos. O antigo Código do Menor tinha uma postura meramente assistencialista e repressora, deixando crianças e adolescentes em uma situação secundária. Com o novo documento, passaram a sujeitos centrais, com direitos próprios e integrais. "Foi nesse momento que a Andi nasceu", explica Marcus Fuchs, diretor de planejamento da organização. "Percebemos que havia uma lacuna, que os jornalistas estavam alheios a um processo de transformação tão importante", diz a jornalista Âmbar de Barros, fundadora da Andi e, atualmente, coordenadora do escritório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, em inglês).

Naquela época, a estrutura se resumia a um telefone e muita habilidade para convencer repórteres e editores a darem atenção às novidades. Desde então, a organização cresceu de forma expressiva. Hoje, o orçamento anual está em torno de 2,3 milhões de reais, a equipe conta com 65 pessoas, entre funcionários, estagiários, voluntários e consultores, e pelo menos 35 parceiros nacionais e internacionais, alguns deles financiadores e outros cooperadores técnicos. Além da equipe fixa, são contratados consultores especializados em infância e adolescência. O conselho consultivo da entidade conta com pesos pesados da sociedade civil, entre eles Oded Grajew, fundador e presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, e Geraldinho Vieira, representante da Fundação Avina no Brasil.

Conscientização "O que fazemos pode ser dividido em três partes. Mobilizamos os veículos de imprensa, eletrônicos ou impressos, para publicarem notícias sobre os assuntos da infância; capacitamos jornalistas para que dominem cada vez mais os conceitos que envolvem o tema e também os especialistas em infância para que tenham um relacionamento produtivo com a mídia e, por fim, acompanhamos tudo o que é publicado em 60 jornais brasileiros sobre o assunto, para que possamos conhecer os itens ainda pouco abordados e agir", diz Fuchs.

Um trabalho desenvolvido pela agência com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre 2002 e 2003, é uma boa mostra daquilo que a Andi pode executar. A parceria surgiu a partir da constatação de que o trabalho infantil doméstico, diretamente ligado ao cotidiano de exploração da mão de obra de cerca de 500 mil crianças, estava ausente da mídia. "Decidimos que o objetivo não era somente mudar hábitos editoriais, mas também trazer à tona o assunto para a sociedade como um todo", diz Fuchs.

Para criar um debate público sobre o problema, as duas instituições elaboraram um projeto de grande porte, com duração de 17 meses e investimentos de 250 mil dólares, que envolvia uma série de ações, como a realização de oficinas e seminários de capacitação de jornalistas, a publicação do livro Crianças Invisíveis - O enfoque da imprensa sobre o Trabalho Infantil Doméstico e Outras Formas de Exploração - e a divulgação de boletins impressos com sugestões de pautas sobre o assunto. Merece destaque a ampla campanha de mídia, com participação da Fundação Abrinq, que veiculou anúncios sobre o combate ao trabalho infantil doméstico em canais de televisão, jornais, revistas e rádios de todo o país. A adesão dos veículos foi voluntária. Se o espaço destinado às peças publicitárias fosse pago, equivaleria 1,5 milhão de dólares, seis vezes o custo do projeto. Foram contabilizadas 483 matérias publicadas em 54 jornais entre agosto de 2002 e dezembro de 2003. "O resultado foi surpreendente, porque mobilizou vários atores sociais e também os cidadãos comuns, de um jeito eficaz e até então pouco conhecido por nós", diz Pedro Américo de Oliveira, coordenador nacional do Programa Internacional para a Erradicação do Trabalho Infantil da OIT. "Agora sabemos que a mídia é um segmento muito importante para fomentar o debate público e por isso vamos continuar a parceria em um novo projeto, direcionado para as piores formas de trabalho infantil".

O princípio que serve como base para o conjunto de ações implementadas pela organização nos últimos 13 anos tem origem em um conceito utilizado nos estudos da comunicação, chamado agenda setting, ou agendamento, em português. Em linhas gerais, é uma hipótese comprovada empiricamente de que a agenda pública é pautada pelo conteúdo veiculado pelos meios de comunicação. Isso não significa que a mídia é capaz de determinar o que as pessoas pensam, mas que tem uma alta eficiência em criar debates e gerar conseqüências a partir daquilo que publica. Ao mesmo tempo, transmite informações fundamentais para a criação de repertório do leitor em diversas áreas, como saúde, educação, direitos, entre outras. "A Andi tem, simultaneamente, um caráter de fonte de informação, de educadora, mobilizadora e de movimento social", diz a pesquisadora Fabiana Pereira, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP).

Valorização Mas não basta publicar fatos para que os direitos das crianças sejam respeitados e valorizados. É preciso que os acontecimentos sejam tratados com uma abordagem positiva, evitando expor os personagens de forma inapropriada e incluindo a contextualização dos problemas, como falta de políticas públicas, por exemplo, além da divulgação de alternativas de solução. Reportagens sobre o desenvolvimento nessa faixa etária também são úteis, pois disseminam informações para as famílias e para os profissionais que lidam diretamente com esse público. "Por isso, é importante trabalhar a qualificação técnica dos profissionais da imprensa e também daquelas pessoas que dão as entrevistas a eles", lembra Fuchs.

O modelo de capacitação desenvolvido pela Andi envolve diferentes ferramentas de divulgação. Sempre que é convidada, a organização realiza oficinas dentro das redações. Ainda, esporadicamente, desenvolve encontros especiais entre profissionais da área da infância e jornalistas, para aproximá-los e propiciar a troca mútua de conhecimentos. As publicações também são bastante utilizadas. Entre elas, está a coleção Mídia e Mobilização Social, lançada em 2003, em parceria com o Unicef, e que apresenta dados estatísticos sobre o tratamento que os jornais dão a determinados temas relevantes, os principais conceitos técnicos e sugestões de abordagem editorial. Os estudantes de jornalismo não ficam de fora. Além dos livros, com conteúdo acadêmico, foi criado na agência um setor para estreitar laços com as universidades e fomentar pesquisas que relacionem comunicação e infância.

Cartilha O acompanhamento das notícias publicadas é feito por uma equipe de 21 pessoas e envolve a utilização de um moderno sistema de captura eletrônica das matérias e arquivamento em um banco de dados, que possibilita vários cruzamentos de informações e levantamentos estatísticos. Diariamente, tudo é lido, arquivado e contabilizado. São 25 diferentes temas ligados à infância. Dessa forma, é possível saber quantas reportagens sobre educação, saúde, esportes, entre outros, foram veiculadas. As informações servem para todos os projetos da organização.

Foi a metodologia de trabalho fincada no tripé mobilização, capacitação e monitoramento que ganhou os louros em Nova Déli e vem atraindo especialistas nacionais e de vários cantos do mundo, interessados em conhecer de perto as atividades e os produtos desenvolvidos. Neste ano, o Unicef e o Instituto WCF, instituição global fundada pela rainha Sílvia, da Suécia, voltada para o combate aos crimes de abuso e exploração sexual contra crianças, realizaram eventos internacionais em Brasília para que alguns dos líderes de outros países pudessem conhecer a organização. "Temos que ser cada vez mais poliglotas", brinca Fuchs, que nos dois últimos anos conseguiu a proeza de aprender espanhol e inglês, além do alemão, que já domina desde pequeno, para cumprir a apertada agenda de visitas e viagens.

Tanto interesse levou ao surgimento de duas redes, uma nacional e outra internacional, compostas por Ongs que aplicam a mesma metodologia de trabalho em outras capitais ou países. Fuchs conta que a Rede Andi Brasil foi criada há quatro anos. Hoje conta com 10 entidades parceiras, além da agência. O movimento decorreu de um processo de avaliação, por parte do conselho consultivo, de que era preciso ampliar o raio de atuação para o interior do Brasil, não com filiais, mas com parcerias fortes com organizações da sociedade civil que manifestassem interesse. No caso da Rede Andi América Latina, da qual fazem parte oito países, foi possível desenvolver um processo mais rápido e consolidado a partir da experiência anterior. As duas redes possuem um conselho gestor autônomo e, embora todas tenham um compromisso firmado em contrato para aplicar os métodos desenvolvidos, tomam decisões independentes em matéria de administração e rumos futuros.

Rede No início de novembro, a Rede Andi América Latina realizou a reunião semestral do conselho gestor em Brasília. Durante quatro dias, foram discutidos temas como entrada de futuras organizações, planejamento para o próximo ano, avaliação do processo de implantação da rede e modelos de publicações a serem desenvolvidas em conjunto. Entre as decisões, ficou acertada a adesão ao grupo da Fundación Yupana, do Equador, a partir de janeiro. Eurídice Vasquez Oviedo, jornalista responsável pela Agência Pana, da Venezuela, foi uma das participantes do encontro. Segundo ela, o aspecto mais importante do relacionamento é a troca de experiências. "Como as ferramentas que temos que usar já foram testadas pela Andi, nos sentimos seguros em colocá-las em prática; a novidade fica por conta dos conhecimentos sobre a realidade das crianças e dos adolescentes na América Latina e como podemos mudar essa situação", diz. Há alguns meses, as agências da Venezuela, Costa Rica e Guatemala iniciaram um intercâmbio mais intenso de informações e já planejaram algumas ações conjuntas de mobilizações temáticas de jornalistas.

Para viabilizar a transmissão da metodologia e garantir a qualidade dos trabalhos no longo prazo, foi necessário sistematizar, em forma de manuais, cada tarefa realizada. O jeito de trabalhar foi então repassado durante encontros de treinamento, visitas de técnicos da Andi, contatos constantes via telefone e internet, o que também propicia monitoramento sobre o andamento das iniciativas. "Precisamos agora consolidar a experiência com a região para, só então, pensarmos em atender aos convites de ampliar a rede para outras regiões do mundo", diz Fuchs. Organizações de países como Marrocos, Espanha e África do Sul já oficializaram interesse em aplicar as atividades da agência.

Do ponto de vista administrativo, há um caminho cheio de desafios a ser percorrido, embora bons passos tenham sido dados. As contas são auditadas pela Trevisan Auditores e Consultores. A iniciativa ganhou, por duas vezes, o Prêmio Bem Eficiente, conferido pelo site Filantropia às 50 organizações sociais que melhor desempenham suas atividades com transparência e profissionalismo. "Precisamos agora aprimorar mais ainda a gestão para que ela se torne tão eficaz quanto as nossas ações voltadas para a criança e o adolescente", diz o diretor. Ele se refere às demandas que vão surgindo à medida que uma instituição vai ganhando porte, funcionários, consultores, novos parceiros e passa a exercer papéis mais amplos. Os planejamentos internos precisam ser feitos de forma mais detalhada, o campo dos recursos humanos precisa de mais agilidade e capacidade financeira e, principalmente, a captação de recursos necessita de um novo estilo. "Até agora, apresentávamos projetos isolados aos potenciais financiadores; mas isso não tem sido suficiente para toda a nossa demanda de custeio, que está muito alta", declara. A idéia é criar um plano de ações integrado ao orçamento total da entidade, para encontrar novas formas de sustentabilidade.

Se o esforço tem valido a pena? Em 1996, pouco mais de 10 mil notícias sobre infância e adolescência foram divulgadas em 50 jornais. No ano passado, esse número subiu para 105 mil e, em 2004, deve ficar por volta dos 140 mil. "O tema já está na agenda pública, agora a meta é qualificar mais essa cobertura", diz Fuchs. Antônia Amélia da Conceição, que trabalha há dez anos na Andi, no monitoramento da mídia, testemunhou esse movimento. "Quando entrei aqui, o que saía nos jornais era muito fraco perto do que sai hoje; adoro meu trabalho porque sinto que estou contribuindo para um futuro melhor".

Empreendimentos inéditos como a Andi colocam o Brasil entre os líderes sociais globais. Outras duas organizações nacionais, o Saúde Criança Renascer, do Rio de Janeiro, e a Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente, da Bahia, também já foram destacados pelo Prêmio Japão, da Global Development Network. A tecnologia da agência começa a migrar para outras áreas. Já existe, hoje, a Agência de Notícias da Aids. Indígenas e entidades de direitos humanos já possuem embriões de organizações similares. Como diz Pedro Américo de Oliveira, da OIT, "as excelências nacionais no âmbito social representam o caráter criativo do movimento social brasileiro, com alto grau de sofisticação, originalidade e resultados". Uma amostra de que aqui, em se plantando tudo dá.

*Com Pedro Ivo Alcântara

 
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