resep nasi kuning resep ayam bakar resep puding coklat resep nasi goreng resep kue nastar resep bolu kukus resep puding brownies resep brownies kukus resep kue lapis resep opor ayam bumbu sate kue bolu cara membuat bakso cara membuat es krim resep rendang resep pancake resep ayam goreng resep ikan bakar cara membuat risoles
João Paulo de Almeida Magalhães - Crescimento acelerado só com recuperação dos outros paises

2009 . Ano 6 . Edição 52 - 05/07/2009

 

Por Annie Nielsen, do Rio de Janeiro

rd52not01img02

O Brasil precisa de um crescimento acelerado para recuperar o atraso dos últimos 40 anos, criar emprego e continuar a ter importância no Bric, o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Caso contrário, ficará para trás, porque os parceiros estão crescendo a taxas significativas. O alerta é do economista João Paulo de Almeida Magalhães que, nesta entrevista à Desafios do Desenvolvimento, recomenda a correção de dois erros fundamentais: a alta taxa de juros, que dificulta os investimentos e onera as contas públicas, e a sobrevalorização do câmbio, que leva o País a se especializar na exportação de commodities agrícolas e industriais. Crítico do pensamento neoliberal, Magalhães aponta a necessidade de intervenção do Estado na economia, defende o protecionismo temporário numa política de desenvolvimento de longo prazo e faz ressalvas à entrada de capital estrangeiro. "Se o País não tiver uma política correta de investimento, o capital estrangeiro chega aqui e expulsa o nacional, é o chamado crowding out", afirma.

Desafios O Brasil conseguirá retomar a trilha do desenvolvimento sustentado após a crise mundial?

Magalhães - É óbvio que vai conseguir. O problema é que o crescimento entre 1980 e 2005 foi insuficiente, apenas 2%, 3% ao ano. Nesses últimos anos melhorou um pouco e passou para 4%. Mas ainda é insuficiente, porque num período de 30 anos, após a Segunda Guerra Mundial, crescemos 7% na média. Os países asiáticos vêm crescendo nessa faixa há praticamente 30 anos. Assim, vamos voltar a crescer mediocremente como aconteceu nesses últimos 30 anos.

Desafios - Por que é tão certo que o País voltará a crescer, mesmo que mediocremente?

Magalhães - Por uma questão muito simples, o crescimento é uma situação normal em todo o mundo. Não há país que não cresça. E esta crise, como toda crise, vai desaparecer. A de 1929, que foi a pior delas, levou dez anos para de fato passar e permitir que os países recuperassem a vida anterior. Esta talvez leve menos porque os governos nunca tiveram tanta ação corretiva como agora.

Desafios - Muitos analistas dizem que o Brasil sairá da crise antes de outros países, sobretudo os do primeiro mundo. Que vantagem o Brasil pode tirar disso, se de fato se recuperar primeiro?

Magalhães - O Brasil poderá sair antes sim. No entanto, se quiser recuperar o crescimento acelerado, só conseguirá fazê-lo quando os países desenvolvidos também se recuperarem. Muitos acham que sair antes da crise é uma grande glória, porém, temos de comparar o Brasil, que faz parte do Bric (grupo das quatro grandes economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China) com os outros integrantes do grupo. Se o Brasil não mudar seu comportamento e crescer, acabará ficando de fora. Nos últimos 30 anos, a China cresceu (ao ano) cerca de 9% a 11%; a Índia, em torno de 7% nos últimos 20 anos; e a Rússia, 7%, nos últimos 10 anos. Nós, nos últimos quatro, só crescemos 4%. Portanto, temos de tomar muito cuidado para nos mantermos entre os Bric. Caso tenhamos sucesso, poderemos sair fortalecidos e adaptados a uma nova política. As discussões lá em Ecaterimburgo, na Rússia, focalizaram muito a necessidade de revisão dos organismos internacionais. Isso é extremamente importante, porque os estatutos e as ações do FMI, com a variação internacional do comércio, têm sido desfavoráveis ao desenvolvimento econômico. As regras do jogo são feitas com base no interesse dos países desenvolvidos. Se o Brasil se sair fortalecido entre os países que formam o Bric, poderá contribuir para modificar essa situação.

Desafios - Será possível para o Brasil ter um ritmo de crescimento em patamares compatíveis com a necessidade de criar emprego e renda para a população, num momento em que seus principais parceiros comerciais estão em recessão?

Magalhães - Enquanto houver recessão, temos de evitar ao máximo o aumento do desemprego. Precisamos garantir emprego a toda essa população nova que aparece no mercado. Os cálculos do João Saboya e do Roberto Cavalcanti Albuquerque indicam que só teremos esse cenário se crescermos 4% e 6% ao ano, respectivamente. No entanto, na média desses últimos anos, o Brasil não chegou a 3%. Além disso, segundo um relatório encomendado pelo Banco Mundial a 19 economistas de renome, dois dos quais foram até agraciados com o prêmio Nobel de Economia, o Brasil só conseguirá eliminar o atraso dos últimos 40 anos se o produto per capita crescer 5,3%. Se incluirmos nesse produto per capita um pouco do crescimento da população, o Brasil terá de crescer entre 6,5% e 7% ao ano. Aí fica a pergunta: isso é possível? É possível porque nós já crescemos nesse ritmo durante 30 anos. E os países asiáticos vêm crescendo nesse ritmo. Também não podemos esquecer que as tensões que surgem na forma do aumento da população de rua, da criminalidade e das favelas geram uma situação quase insustentável. Então, não é só possível crescer a 7% ao ano como também necessário.

Desafios - Como fica a visão neoliberal no Brasil após a crise?

Magalhães - No meu livro O que fazer depois da crise: a contribuição do desenvolvimentismo keynesiano, argumento que o Brasil tem que oferecer uma estratégia alternativa à neoliberal com justificação científica. Até o momento, os economistas brasileiros se limitaram a criticar a estratégia neoliberal apenas porque ela havia dado errado. Houve um crescimento de 2,5% durante 25 anos, agora está em torno de 4%, qualquer das duas porcentagens é insuficiente. Se fizermos exatamente o que vinha sendo feito até agora, sem nenhuma justificação, tudo permanecerá igual. Após o "Consenso de Washington", vieram as críticas pelo fato de as medidas neoliberais preconizadas terem fracassado e apareceu o consenso de Washington ampliado. Segundo essa vertente, o consenso original estava certo, mas faltavam as instituições. Portanto, precisamos voltar a ter o neoliberalismo de antes, mas com a presença das instituições. Essa tese tem sido refutada por mim, pelo Bresser- Pereira e o Yoshiaki Nakano, mas não adianta refutar sem apresentar uma teoria alternativa. Tem de haver uma justificação técnica, uma justificação teórica da diferença entre crescimento retardatário das economias emergentes e o crescimento da economia dos atuais países desenvolvidos.

Desafios - Até quando será necessário manter políticas intervencionistas no Brasil? E nos EUA e na Europa?

Magalhães - Primeiro é necessário fazer uma distinção entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Nos Estados Unidos e na Europa, a necessidade de ação do governo é relativamente pequena. Se o governo desses países garantir equilíbrio cambial, fiscal e monetário, a economia deverá andar bem. No Brasil, precisamos fazer mais do que isso. Aliás, a excessiva preocupação do governo brasileiro em garantir o equilíbrio fiscal, cambial e monetário pode até ter consequências negativas. Um país que está crescendo de forma acelerada para eliminar seu atraso econômico terá, por definição, tensões cambiais, fiscais e monetárias. Assim, o governo precisa tentar controlar essas tensões e não adotar medidas para que elas desapareçam. Se essas tensões são necessárias ao desenvolvimento, mas o governo toma medidas para fazê-las desaparecer, desaparece o desenvolvimento.

Desafios - Existe um limite para o governo intervir na economia?

Magalhães - Em países subdesenvolvidos, o governo tem que ter uma ação intervencionista. Depois do colapso da União Soviética, provou-se que o sistema de iniciativa privada é o melhor que existe. Então, o governo tem de agir através do mercado, ou seja, em vez de criar uma empresa pública, deve criar condições no setor para que apareça uma empresa privada. Se a empresa privada de um determinado setor não se mostra capaz de seguir adiante, o governo deve entrar em ação. Veja o caso da Embraer. Se o governo não tivesse entrado em ação, criado ensino voltado para a aviação, investido capital, desenvolvido tecnologia, a Embraer nem teria surgido.

No caso de países desenvolvidos a situação é diferente. Quando o governo de um país é capaz de garantir equilíbrio monetário, cambial e fiscal e um bem-estar social razoável, não precisa fazer mais nada, pode recuar.

Desafios - O que falta para o Brasil se desenvolver?

Magalhães - Podemos começar corrigindo os erros em curso. Dois erros que merecem atenção especial são as taxas de juros extremamente elevadas e a sobrevalorização do dólar. A taxa de juros continua elevada, o dólar melhorou um pouco, mas voltou a piorar.

A sobrevalorização do câmbio ocasiona uma tendência à especialização do Brasil em commodities agrícolas, como soja e café, e em commodities industriais, como aço e celulose. Ocorre que as commodities têm baixo valor adicionado por trabalhador, portanto, geram pouco PIB por trabalhador. Além disso, as commodities têm um crescimento lento. Vale ressaltar, porém, que esse crescimento lento não está ocorrendo no momento por causa dos asiáticos. Como eles não têm recursos naturais, geram um aumento na demanda por commodities. Mas essa situação não vai durar muito tempo porque se os recursos naturais não forem renováveis, cedo ou tarde desaparecerão. Se os recursos forem renováveis, como é o caso da agricultura, teremos algo na agricultura que os economistas chamam de baixa elasticidade de renda. Isso significa que se a China aumentar em dez vezes seu produto per capita, nem por isso o chinês tomará dez vezes mais café e comerá dez vezes mais carne. Assim, essa especialização em commodities não é interessante, porém, o país está caminhando nessa direção por erro de política econômica.

Com respeito aos juros, temos, em média, os mais altos do mundo. Essa situação dificulta os investimentos, pois vale mais a pena ter dinheiro que não corre risco depositado no Banco do Brasil do que investido. Além disso, esses juros atraem capital estrangeiro, a ponto de investidores pegarem dinheiro emprestado no Japão, onde os juros são baixos, para aplicar no Brasil, onde os juros são altos. Por fim, os juros altos oneram as contas públicas. Ou seja, os juros que o governo paga são dez vezes maiores do que as despesas com o Bolsa Família. Portanto, são dois erros a serem corrigidos. O governo precisa relançar uma política, uma estratégia de desenvolvimento diferente da estratégia neoliberal e, na minha definição dessa estratégia, o importante é o mercado.

rd52not01img03

"Um país que está crescendode forma acelerada para eliminar seu atraso econômico terá, por definição, tensões cambiais, fiscais e monetárias.Assim, o governo precisa tentar controlar essas tensões e não adotar medidas para que elas desapareçam"

 Desafios - Como seria essa nova estratégia focada no mercado?

Magalhães - Segundo a visão do FMI, do Banco Mundial e de outros organismos, o investimento estrangeiro é extremamente importante para o país. Nesse caso, é preciso aumentar as poupanças para alavancar os investimentos. Entretanto, um relatório do Banco Mundial e uma literatura recente mostraram que toda vez que há oportunidades de investimentos, a poupança sobe espontaneamente. Então, a minha tese é a seguinte: oportunidade de investimentos é mercado. Se o Brasil conseguir um mercado de tamanho e dinamismo satisfatórios, as poupanças surgirão. Não precisamos ficar correndo atrás de poupanças ou do capital estrangeiro e sim criar condições de mercado. Se o país não tiver uma política correta de investimento, o capital estrangeiro chega aqui e expulsa o nacional, é o chamado crowding out. No caso específico do Brasil, houve entradas consideráveis de capital estrangeiro nos últimos anos, sem que a taxa de investimento sobre o PIB se alterasse. Ou seja, o capital estrangeiro não contribuiu para o desenvolvimento do País.

No livro Os maus samaritanos, o economista de origem coreana Ha-Joon Chang afirma que o capital estrangeiro não pode ser visto apenas no curto prazo. Ele cita o caso de três empresas de importância internacional, Samsung, Nokia e Toyota, e diz que se os governos dos países dessas companhias não tivessem bloqueado o capital estrangeiro durante um tempo, elas sequer existiriam. Portanto, temos de ter capital estrangeiro dentro de uma estratégia correta de desenvolvimento. Sem isso, pode não ser positivo.

Desafios - Cite um erro e um acerto cometidos pelo governo.

Magalhães - O capital estrangeiro deve ser admitido no país dentro de uma estratégia geral de desenvolvimento e, em determinados casos, o governo deve evitar a entrada de capital estrangeiro enquanto não viabiliza empresas nacionais de setores importantes. Aqui no Brasil nós cometemos um erro clássico. As montadoras de automóveis são um setor extremamente importante na economia, e o Brasil tem montadoras em grandes quantidades, mas todas estrangeiras. Nós não temos um carro brasileiro. Num determinado momento, houve um cidadão brasileiro, o Gurgel, que lançou um carro brasileiro, mas não conseguiu levar o projeto adiante porque faltou apoio do governo.

Um acerto clássico foi a Embraer. Agora, temos de ter cuidado quando falamos de erros e acertos. Muita gente diz que a Embraer importa 80% dos insumos que ela usa nos aviões, mas isso eliminaestá perfeitamente correto. Ela importa 80% porque o Brasil tem uma indústria de componentes fraca. Quando o País chegar a um estágio mais avançado, importará só 60%.

Desafios - O senhor certa vez disse que mais importante que combater a inflação é assegurar o desenvolvimento. Mas existe alguma receita para manter a inflação sob controle?

Magalhães - A inflação não é tão malévola para o desenvolvimento como se diz. É possível ter um crescimento acelerado com inflação baixa. Ocorre que a maneira de controlar a inflação nos países subdesenvolvidos é diferente da empregada em países desenvolvidos. Segundo os economistas da PUC-RJ, que criaram o Plano Real, a inflação nos países subdesenvolvidos é inercial, ou seja, quando há aumento de preços, os sindicatos não são capazes de impor uma escala móvel de salário. Há aumento de preços o ano inteiro e reajustamento uma vez por ano. Assim, a inflação se torna inercial. Os salários e os preços aumentam indefinidamente. Em última análise, trata-se de uma disputa em torno da participação no PIB e entre empresas e trabalhadores. Outra tese defendida pelos economistas da PUC-RJ é que, no caso dos países subdesenvolvidos, não é o aumento da moeda que causa inflação, e sim a inflação que acarreta o aumento da moeda. Isso porque na disputa em torno do PIB, há aumento de salários e de preços. Se o governo não aumentar proporcionalmente a moeda, haverá uma crise de liquidez. Num país desenvolvido, simplesmente se aumenta a taxa de juros para evitar o aumento da moeda. Num país subdesenvolvido, você precisa ter, como se fez no Plano Real, uma política de rendimentos que faça com que as reivindicações sobre o PIB não somem mais que o PIB. Então o que está errado no Brasil é adotar a taxa de juros para conter a inflação. O que é necessário fazer é uma política de rendimentos como foi feita no Plano Real. Inclusive porque a taxa de juros atua contra o aumento excessivo da moeda. Além disso, se o aumento excessivo da moeda é efeito e não causa da inflação, esta não tem razão de ser.

rd52not01img04

"Com o PAC, um governo reconhece,pela primeira vez desde 1980, que há necessidade de intervenção sistemática do Estado para acelerar o desenvolvimento.Por outro lado, o PAC é limitado...não contém uma visão de longo prazo para o desenvolvimento do Brasil"

 Desafios - O protecionismo é aceitável?

Magalhães - O protecionismo foi a base da industrialização do Japão, Estados Unidos e Alemanha. Numa política de desenvolvimento de longo prazo, o protecionismo temporário é bem-vindo. Com o protecionismo, você cria competitividade imediata para a empresa nacional. Em segundo lugar, em vez de ter grandes gastos, você tem grandes receitas. Um país não pode abrir sua economia para outro país que tenha vantagens comparativas provisórias, como é o caso da China com seus baixos salários. Se abrirmos inteiramente para a China, ela acaba com a nossa indústria de sapato, vestuário, etc. Além disso, daqui a 20 anos, os salários da China estarão iguais aos nossos, e, por conseguinte, os preços dos produtos chineses igualmente mais altos.

Os neoliberais dizem que o protecionismo é uma second best (segunda melhor escolha dentro das possibilidades) em relação ao ataque ou à eliminação do custo Brasil. Custo Brasil é toda aquela ineficiência associada a uma economia subdesenvolvida: transporte, saúde e comunicações insatisfatórios, mão-de-obra desqualificada. Os neoliberais alegam que devemos atacar esses problemas. Mas tal argumento não tem sentido porque essas ineficiências são típicas do desenvolvimento econômico. Para acabar com esses males, tornase necessário um montante de investimentos que só países desenvolvidos são capazes de reunir. Se resolvermos eliminar o custo país, faremos grandes investimentos, e os resultados só aparecerão num prazo médio e longo. Além do mais, teremos grandes gastos. Então por que razão os neoliberais dizem que o protecionismo é um second best? A única explicação está na visão neoliberal segundo a qual o Estado não deve intervir em nada, visto que o combate do risco país em alguns países sequer é viável.

Desafios - O que o senhor acha do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)?

Magalhães - A grande contribuição do PAC é a seguinte: desde 1980, todo mundo aceita que o governo não deve se meter na economia, não deve ter estratégia de desenvolvimento, nem política industrial. Com o PAC, um governo reconhece pela primeira vez, desde 1980, que há necessidade de intervenção sistemática do Estado para acelerar o desenvolvimento. Por outro lado, o PAC é limitado. Se examinarmos bem, o objetivo do programa é fazer com que o segundo mandato do Lula tenha melhores resultados que o primeiro. Como o primeiro mandato do Lula foi igual ao do Fernando Henrique, criaram o PAC. Ocorre que o PAC não contém uma estratégia, uma visão de longo prazo para o desenvolvimento do Brasil. Vou dar um exemplo: o País teve uma estratégia primaz exportadora. Essa estratégia durou mais ou menos de 1875 até 1930. Teve um modelo de substituição de importações que durou de 1930 a 1980. O que vai se colocar no lugar dele? O governo hoje não tem uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo. É por isso que quando começa a haver uma especialização em commodities o governo não faz nada, porque não tem uma visão de longo prazo em economia.

Desafios - Como o senhor avalia as perspectivas de aplicação da renda a ser gerada pelo pré-sal?

Magalhães - Imediatamente após a descoberta do pré-sal, o presidente Lula anunciou a intenção de utilizar as receitas do novo campo petrolífero para melhorar o padrão de vida da população. Ora, isso é exatamente o que a Venezuela está fazendo. Ou seja, está com uma riqueza em dólar na forma de petróleo, e, em vez de usar essa riqueza para criar uma base econômica permanente, corre o risco de daqui a dez, vinte, trinta ou quarenta anos, quando acabar o petróleo, viver um caos. O Brasil tem condições melhores que a Venezuela, tem uma indústria maior e tal, porém, a receita do pré-sal deve ser utilizada para criar um desenvolvimento sustentável de longo prazo. Um desenvolvimento assim pode melhorar de forma permanente e constante o padrão de vida das populações.

O governo está tomando uma série de medidas para melhorar a situação econômica do povo como o Bolsa Família. Entretanto, não está cuidando o suficiente do desenvolvimento no sentido de fazer o País crescer 7% ao ano. Segundo um trabalho recente do Roberto Cavalcanti Albuquerque, nas décadas de 1970 e 1980 não existia nenhuma dessas medidas sociais que foram adotadas pelos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula. No entanto, o desenvolvimento social foi mais elevado nesse período em que não havia políticas sociais, mas havia o crescimento acelerado, do que depois, com os governos Fernando Henrique e Lula. Isso não significa que devamos excluir as políticas sociais, apenas que o importante é o desenvolvimento econômico. Essas medidas sociais podem ser tomadas de imediato, mas para serem permanentes, devem estar baseadas numa política de desenvolvimento. Na prática, isso significa que o desenvolvimento tem que estar em torno de 7% ao ano.

Desafios - Em Desafios do desenvolvimento brasileiro, livro editado pelo Ipea com ensaios de conselheiros do Instituto, o senhor assina um artigo sobre macroeconomia e pleno emprego. Poderia nos dizer, em linhas gerais, qual é a sua tese nesse ensaio?

Magalhães - Bom, eu falo do emprego de longo prazo. Disse que, antes de mais nada, temos de evitar o desemprego. Existe o desemprego que se manifesta no setor informal. Para evitá-lo, precisamos fazer a economia crescer num ritmo capaz de empregar toda a mão de obra existente no mercado. Há também o risco de desemprego qualitativo. Ou seja, se nos especializamos em commodities agrícolas e industriais, talvez consigamos empregar todo mundo, mas essa situação não irá durar para sempre. O desemprego que resulta no setor informal decorre do crescimento insuficiente do PIB. O desemprego qualitativo resulta de uma política errada, que especializa o Brasil em commodities agrícolas e industriais. Nesse caso, mesmo que a maioria esteja empregada, a renda per capita e o salário do País será inferior à dos países desenvolvidos.

Desafios - Existem alguns setores da economia que merecem uma atenção especial?

Magalhães - Os setores de alta tecnologia merecem mais atenção. Setores de comunicação e informática não estão sendo devidamente cuidados no Brasil, e está provado que não se chega ao pleno desenvolvimento sem investimento pesado nesses setores.

Desafios - Como a criminalidade pode atrapalhar o desenvolvimento?

Magalhães - O problema da criminalidade é resultado da semiestagnação do Brasil nos últimos anos. De acordo com algumas avaliações, para todo mundo ter emprego, é necessário haver um crescimento de 4% a 6% ao ano do PIB. Mesmo na melhor hipótese de ser 4% ao ano, nós estaríamos apenas evitando o aumento do setor informal, o aumento do desemprego. Numa situação dessas, o cidadão não arranja emprego e vai ser camelô ou assaltante. A criminalidade, a população de rua, as favelas também aumentam em função dessas dificuldades.

Desafios - Como a educação pode ajudar o desenvolvimento?

Magalhães - A educação no Brasil está mal, precisa ser melhorada. Não que nossos gastos sejam pequenos, mas são mal administrados. Dizem que se o Brasil tiver educação, ele se desenvolverá, porém, a relação causal é oposta. Quando o País se desenvolve, facilita a educação. Evidentemente que a educação condiciona o desenvolvimento. Se não houver engenheiro suficiente, não haverá desenvolvimento algum.

 
Copyright © 2007 - DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação sem autorização.
Revista Desafios do Desenvolvimento - SBS, Quadra 01, Edifício BNDES, sala 1515 - Brasília - DF - Fone: (61) 2026-5334