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Paulo Cunha - Foco no crescimento

2005. Ano 2 . Edição 13 - 1/8/2005

Se a China e a Índia mantiverem o ritmo atual de crescimento do consumo, simplesmente não vão caber no mundo.

Por Andréa Wolffenbüttel, de São Paulo

O engenheiro Paulo Cunha é um dos mais bem-sucedidos empresários do país. Há 24 anos à frente do grupo Ultra, ele comanda um conglomerado que fatura mais de 4 bilhões de reais por ano e conta com 6,7 mil funcionários. Nesta entrevista, Cunha explica como vê a situação econômica do Brasil diante dos desafios mundiais e quais as perspectivas para a petroquímica nacional. Sem medo de ferir suscetibilidades, ele se mantém fiel à sua máxima de que é preciso resolver os problemas sociais, mas o mote tem de ser a riqueza, e não a pobreza.

"O fato é que o Estado existe, não funciona, gasta errado e não serve para nada. É como as escolas que existem e só servem para guardar as crianças durante três horas por dia"

Desafios - O senhor é muito atuante em organizações empresariais, tais como o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Quais os assuntos mais presentes durante os "cafezinhos" desses grupos?
Cunha - Uma coisa que nos preocupa é a evolução da economia mundial e o futuro do Brasil. Antes pensávamos que nossa indústria teria de competir com a Europa e com os Estados Unidos. Hoje percebemos que os bichos-papões chamam-se China, Índia e Ásia, uma produção imensa e que tendem a tornar-se o grande centro industrial do mundo. Se a China e a Índia mantiverem o ritmo atual de crescimento do padrão de consumo, simplesmente não vão caber no mundo. Não vai haver petróleo suficiente, não vai haver cobre suficiente, não vai haver matéria-prima suficiente para sustentar a demanda. E, como esses países, pelo jeito, não vão parar de crescer, outros países terão de desembarcar desse mundo, terão de regredir a padrões de consumo africanos, porque não haverá riqueza suficiente para todos. Essa é uma questão real.

Desafios - Dentro desse contexto, quais as perspectivas para o Brasil?
Cunha - Muito sombrias. O Brasil precisa voltar a crescer urgentemente e não estamos minimamente construindo as condições para que isso aconteça. Repare no seguinte: de 1900 a 1973, o Brasil foi o campeão mundial de crescimento econômico. Ninguém cresceu mais do que o nós, e olha que isso não é tarefa simples. Durante esse período tivemos duas guerras mundiais, a Grande Depressão e várias crises sistêmicas internacionais. Em 1930 tivemos a revolução. Tivemos o suicídio de um presidente, a renúncia de outro, o parlamentarismo, o movimento militar, isto é, tivemos o diabo a quatro aqui dentro e, no entanto, o Brasil crescia. De 80 para cá, a equação se inverte, e nós, que éramos o primeiro em crescimento no mundo, passamos a ser o 93º. O que aconteceu está longe de ser explicado por essas questões simplistas que têm sido citadas, como as que dizem que a culpa é das crises externas, que a culpa é dos juros, a culpa é da inflação. Se há um responsável individual por esse processo é a única coisa anômala que passou a acontecer: a administração do Brasil se tornou muito ineficiente. Manter a máquina do governo passou a ser muito caro. O que consumia ao redor de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) hoje custa 40%. Gastamos 40% do PIB para manter uma máquina que tem se mostrado ineficiente, que permite o surgimento de blocos de dificuldades em setores como educação, saúde e segurança pública. É o que chamo de integral do erro. Esses processos vão se acumulando, se acumulando, e este governo, que custa 40% do PIB - não estou me referindo cronologicamente, ao atual governo, mas ao modelo -, não tem funcionalidade. Os problemas continuam aumentando e, obviamente, esse é um processo que, a olho nu, inibe o crescimento.

Desafios - Há 20 anos tínhamos taxas de analfabetismo vergonhosas. O senhor acha que problemas como educação e saúde já foram melhor geridos do que hoje?
Cunha - Recentemente, fizemos um diagnóstico da educação em São Paulo e constatamos o seguinte: o município de São Paulo tem 1.000 escolas e 1 milhão de alunos. Elas abrem às 7 da manhã e fecham no final da tarde e não há crianças fora da escola, o que já é uma coisa importante, pois se universalizou o acesso à educação. Em contrapartida, as crianças ficam três horas e meia lá dentro e não passam de duas horas e meia dentro da sala de aula, o que é claramente insuficiente para a formação de cada uma. No final de oito anos elas saem da escola praticamente tão ignorantes quanto entraram. E para isso gastamos 3 bilhões de reais todos os anos. Isso é a disfuncionalidade do nosso Estado. A escola pública já foi melhor, já produziu ensino de melhor qualidade. Repare que esse é um processo terrível e ocorre também na saúde. Eu sei que a demanda por saúde hoje é um processo caríssimo, porque as tecnologias modernas de medicina têm um alto preço, mas de qualquer maneira o sistema, é notório, desperdiça quantidades enormes de dinheiro. O que acontece é que os recursos da nação são canalizados na direção de grandes áreas de ineficiência e, portanto, não estão produzindo eficiência do outro lado.

Desafios - Mas essas são as únicas áreas de ineficiência?
Cunha - Claro que não. Eu vejo e costumo tocar num assunto que geralmente não se gosta de mencionar aqui no Brasil, mas, como sou filho de militar, vou falar. Acho que as nossas Forças Armadas não são muito caras em termos de percentual do PIB, mas em compensação não servem para nada. Você anda pelo Rio de Janeiro, vê o Forte de Copacabana, o Forte do Leme, da Urca, a Fortaleza da Laje, todos muito bonitos, mas não servem para nada. Na Baía da Guanabara, até pouco tempo, viam-se dois porta-aviões, que são máquinas de levar a guerra para a terra dos outros, o que nunca foi uma questão estratégica para o Brasil. Eles estão ali parados, custando dinheiro para serem mantidos. Aonde eu quero chegar? Na disfunção do Estado brasileiro. Temos esses navios, mas não temos uma guarda costeira para lidar com a questão do contrabando. O exército não tem uma guarda de fronteira no norte do país.

Desafios - O senhor está propondo acabar com as Forças Armadas?
Cunha - Acabar com as Forças Armadas? É evidente que não. Mas temos de transformar as Forças Armadas? É evidente que sim. Nós precisamos ter uma guarda de fronteiras, uma Marinha funcional para nossas necessidades, para nossa defesa. Temos de ter um Exército capaz de defender nossas fronteiras, de lidar com as questões estratégicas de nossa defesa hoje, em 2005, e não com fortes criados no começo do século XIX e que, a rigor, são muito decorativos, mas não servem para nada. E todos esses pontos de ineficência, no meu juízo, é que explicam o fato de estarmos caminhando para o 100º lugar em termos de crescimento econômico.

Desafios - E qual seria a solução?
Cunha - Olhar para fora e ver o que estão fazendo por lá. Nós temos de observar os aspectos bons e funcionais das economias que estão crescendo. Lá eles estruturaram o binômio mágico, que produziu o milagre econômico alemão do pós-guerra, que foi utilizado no Japão na década de 60 e agora está produzindo esse milagre na Ásia: câmbio alto e juro baixo. Exatamente o oposto do que a gente tem praticado aqui no Brasil, que é câmbio baixo e juro alto.

Desafios - O senhor está falando de economias profundamente reguladas pelo Estado. O senhor prega uma maior interferência do governo?
Cunha - Isso depende muito mais da eficácia do que do nível de intervenção, porque, quando se faz uma comparação com países que estão dando certo, percebe-se que lá a ação do Estado é sempre no sentido de promover o desenvolvimento e não de atrapalhar. A China é um país que partiu de um Estado central único e está operando um processo de descentralização econômica de imensa magnitude. A parte da economia que está crescendo está livre. Ela é orientada em determinados sentidos, como critérios geográficos de que regiões vão se desenvolver mais, mas a ação, a iniciativa, está solta. O que está centralizado é o aspecto macroeconômico, a questão do financiamento, por exemplo. E aqui também seria bom que o governo interferisse para criar crédito mais barato com prazos mais longos. Mas, na realidade, ele canaliza toda a poupança nacional na direção de seu próprio financiamento. Financiamento esse que é de grande liquidez, de altas taxas de juro e, até agora, de risco baixo.

Desafios - E como está a situação da indústria petroquímica especificamente?
Cunha - Com algumas indefinições no horizonte porque ainda não está clara a participação da Petrobras, que volta a interessar-se pelo setor, a participar e a fazer investimentos diretos na petroquímica. A implantação do setor petroquímico no Brasil seguiu a trajetória de muitos outros setores industriais, notadamente os escolhidos para substituição de importações. A política de incentivo propiciou o desenvolvimento de uma petroquímica que chegou a ser maior do que a da Inglaterra em termos de capacidade instalada e produção. Chegamos à década de 80 com o conjunto petroquímico mais moderno do mundo. Posteriormente, o Estado se afastou, houve o processo de privatização e hoje nós passamos por essa maturidade da petroquímica.

Desafios - O senhor diz que chegamos à década de 80 com o mais moderno parque petroquímico do mundo, porém o Brasil importa muitos produtos químicos e petroquímicos, sobretudo os mais refinados. Por quê?
Cunha - Importamos sim. Veja bem, a tecnologia da petroquímica normalmente está disponível. O Brasil, ao construir seu parque petroquímico, utilizou a tecnologia mais moderna que havia no mundo e continua operando essa tecnologia, mas não tem tido um papel importante na inovação, na criação de novas tecnologias. Precisamos aumentar o que gastamos em pesquisa e desenvolvimento, tanto por parte das empresas individualmente como do ponto de vista das organizações governamentais. Isso não existe no Brasil porque não há condições de amadurecimento do mercado para tal. Nosso mercado financeiro é um mercado incipiente e tem sido inóspito à instalação e ao desenvolvimento industrial brasileiro. Inóspito por quê? Porque temos as taxas de juro mais altas do mundo. Nós temos condições de financiamento muito duras, com prazos curtos e, portanto, antagônicas ao desenvolvimento. Por meio da nossa unidade no México tivemos acesso a crédito em condições civilizadas bem diferente da barbárie que impera por aqui. Essa é a raiz de todo o problema.

Desafios - O governo tem usado mecanismos fiscais para incentivar a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico. O senhor acha que esse é o melhor instrumento?
Cunha - Acho que esse é um instrumento adequado, mas o crescimento é a solução para a geração de tecnologia e para a modernização produtiva. O governo tem de ser austero e gerar crescimento. Ao produzir o crescimento, muitas dessas peças se encaixam no lugar. As empresas que acharam canais para crescer via mercado externo são empresas que têm tecnologia. A Embraer é um caso típico, é um bebê de proveta do governo, nasceu dentro do laboratório do Estado, foi criada e gradativamente desmamada, cresceu, atingiu a maturidade e hoje disputa em pé de igualdade o mercado mundial com líderes tecnológicos. Esse processo, que também aconteceu em outras poucas áreas da indústria brasileira, como a siderúrgica e a de papel e celulose, agora precisa voltar a acontecer.

Desafios - O senhor mencionou a volta da Petrobras ao setor petroquímico. Como o senhor vê esse retorno?
Cunha - Essa é uma história gozada porque o monopólio da Petrobras foi funcional para o estabelecimento de vários setores industriais, inclusive o petroquímico. Em determinado momento o governo achou que a Petrobras deveria se afastar. Foi quebrado o monopólio através de uma lei, com a idéia de que se promovesse uma competição interna, mas na prática continuou o monopólio físico. Na realidade, essa é uma decisão muito grande, que acabou sendo tomada pela metade. Não era muito pra valer. Mudaram a lei, mas continuou tudo como estava antes. Não foi uma decisão discutida como deveria ser. Eu não acho que seja mau ou bom o monopólio em si, depende do que se quer fazer. Parece-me que não há alternativas para o setor se a Petrobras não voltar, porque na prática ela tem o monopólio da matéria-prima, então é natural que queira expandir-se. Agora a Petrobras está retomando uma autonomia de gestão, diversificando suas atividades, com gás, energia elétrica, e voltou a ter ambições dentro da petroquímica. Nós propusemos à Petrobras uma parceria para a instalação de uma refinaria adaptada à matéria-prima nacional. Partiremos de uma molécula mais barata e vamos obter produtos com a mesma qualidade.

Desafios - Por que essa adaptação não foi feita antes?
Cunha - Porque não fizemos as coisas no tempo certo. As refinarias foram construídas antes de se achar o óleo no Brasil. Agora está na hora de usar esse óleo. Isso não é um processo simples, é muito complexo.

Desafios - Qual a sua opinião sobre a ligação da Petrobras com a Bolívia, por meio do gasoduto Brasil-Bolívia?
Cunha - Essa parceria foi meio forçada. Foi uma decisão mais política e me parece que não havia necessidade real de fazer isso. Pendurar o abastecimento energético de parte da indústria brasileira num cano que sai da Bolívia é muito arriscado. Não custa nada para um índio quíchua fechar a válvula do lado de lá. Existem questões geopolíticas que deveriam ter sido mais consideradas. Nos Estados Unidos, quando eles fazem um cano desses, estão sempre pensando na frota de guerra e na sua Força Aérea. Eu acho que aqui no Brasil nós também temos de pensar assim.

Trabalho com paixão

A vida do engenheiro mecânico Paulo Guilherme Aguiar Cunha se confunde com a história do grupo Ultra. Carioca, ele iniciou a carreira na Petrobras, mas em 1967, quando tinha 28 anos de idade, foi convidado pela família Igel, fundadora do grupo Ultra, a mudar-se para São Paulo e compor a equipe responsável pelo ingresso da companhia no ramo da petroquímica. Desde então, Cunha aumentou suas responsabilidades dentro da organização até chegar à presidência, em 1981, e hoje detém 8% das ações da empresa. Ao longo dos anos, conseguiu impor seu estilo austero de gestão a todo o grupo e costuma dizer que, para dar certo, é preciso fazer mais, melhor e mais barato.

É preciso acordar mais cedo e dormir mais tarde do que a concorrência, mas acima de tudo é necessário trabalhar com paixão. Já declarou uma vez que a receita de seu sucesso é pensar grande, mas agir passo a passo e contar histórias para engajar cada funcionário nos objetivos da companhia. Além de dedicar-se ao grupo Ultra, Cunha participa de diversas outras entidades. É vice-presidente da Associação Brasileira de Indústrias Químicas (Abiquim), membro do Conselho de Orientação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e membro do Conselho Superior de Economia e do Conselho Consultivo da Indústria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Tudo isso é uma forma de mostrar que se sente responsável não só pelos rumos de sua empresa, mas também do setor petroquímico e do país. Recentemente aceitou participar de um grupo de 20 empresários que se propuseram a dar idéias para melhorar o ensino público municipal em São Paulo.

 
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