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Jacob Palis Jr.: - Caçador de talentos

2004. Ano 1 . Edição 5 - 1/12/2004

O Brasil tem de valorizar os jovens talentos. Tem de descobri-los ainda no ensino fundamental e apostar neles.

por Ottoni Fernandes Jr. e Walter Clemente, do Rio de Janeiro

jacobpalisjr

Matemático do primeiro time internacional, que abandonou a engenharia ainda na década de 1960 para se dedicar ao estudo teórico de sistemas dinâmicos e à formação de novas competências científicas, aos 64 anos Jacob Palis Jr. mantém o ímpeto aventureiro e trabalha muito. É secretário-geral da Third World Academy of Sciences e pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro. É um dos cientistas brasileiros mais importantes da atualidade. Um dos responsáveis pela implantação das Olimpíadas de Matemática no país, ele diz que o Brasil tem muitas vantagens em relação a outros países, no que diz respeito ao desenvolvimento de trabalhos que requeiram matemática e física, mas que é preciso descobrir e cultivar talentos científicos.

Desafios - Por que a ciência ainda é tão pouco valorizada no Brasil?
Palis - Acho que é uma questão cultural. Só recentemente a ciência tomou forma no Brasil. É fato que tivemos heróis no passado, como Carlos Chagas, por exemplo. Mas a ciência propriamente dita começou a tomar corpo apenas nos anos 1930. Ao trazer cientistas europeus, a Universidade de São Paulo deu um passo muito importante. Mas o meio científico só pegou fogo mesmo na década de 1950, quando apareceram nomes de peso, como o de César Lattes. Por outro lado, a Argentina, já nos anos 20, tinha uma plêiade de cientistas de primeira linha. Era um país relativamente rico, com uma estrutura social mais harmônica e um nível de ensino muito mais desenvolvido do que o brasileiro.

Desafios - O que vale mais para fomentar a formação científica: investimentos ou iniciativas políticas?
Palis - Acho que investimento e política são necessários. Estou convencido de que o discurso da comunidade tem de mudar. O Brasil tem de valorizar os jovens talentos. Tem de descobri-los ainda no ensino fundamental e apostar neles: dar condições de trabalho, bolsas e assistência educacional. Não temos de imitar nem o sistema de ensino americano nem o europeu, mas assimilar as virtudes de ambos.

Desafios - Como um país em desenvolvimento pode criar competências em ciência e tecnologia de ponta? Existem exemplos a serem seguidos?
Palis - Acho que o exemplo americano ainda é muito importante. A Coréia conseguiu grandes vitórias. Os coreanos deram uma volta no atraso. Nos anos 1960 eles estavam muito atrás do Brasil, mas investiram maciçamente na formação de pessoal, institucionalizaram o ensino de tecnologia e fecharam foco na interação com a indústria. Investem também em pesquisa e Seul tem um instituto de física e matemática que está atraindo ótimos talentos.

Desafios - Existe possibilidade de o Brasil recuperar o tempo perdido?
Palis - Acho que sim. Sempre fui muito otimista. Quando voltei para o Brasil, em 1968, depois de terminar meu doutorado nos Estados Unidos, tinha um propósito, que dividia com alguns colegas: o de fazer com que o desenvolvimento das ciências se desse de forma sistemática no país. Queria que o pesquisador tivesse um bom ambiente de estudo, sem precisar viajar para o exterior para se doutorar. E o Impa tornou-se o espaço para 33 dos melhores pesquisadores do mundo, e para mais de uma dezena de jovens com bolsas especiais, que passaram a ser tratados com carinho em nosso berçário, com todas as condições para desenvolver um bom trabalho. Hoje o Impa tem 43 pesquisadores, todos na linha de frente. Mas ainda somos muito jovens. Precisamos reconhecer que a evolução foi fantástica nos últimos 40 anos, mas não ganhamos sequer um Prêmio Nobel, enquanto a Argentina já tem dois.

Desafios - Hoje o ensino de ciências vai mal no Brasil. As notas médias em exames de avaliação do ensino médio vêm caindo nos últimos anos. Por quê?
Palis - O país não se preparou para ampliar o sistema de ensino. Pagamos o preço do crescimento desordenado. Na década de 1960, os alunos de engenharia eram poucos, alguns de origem modesta, mas todos conhecidos entre si, conhecidos dos professores. Havia mais dedicação aos que chegavam. O ensino foi massificado e o preço pago pela expansão foi a queda de qualidade dos cursos e o desprestígio dos professores. Hoje o governo tem de perceber que não há como se manter no mercado globalizado se não fizer um grande esforço no desenvolvimento de competência nacional, que surge apenas de uma educação voltada para a criatividade. Precisamos de gente com capacidade de aprender e de criar coisas novas, em novos setores. Nos Estados Unidos, as pessoas dizem que os talentos são fundamentais. Um diretor da universidade de Princeton me disse que o melhor que eles têm são seus cérebros. Não há dúvidas quanto a isso. No Brasil, ainda estamos caminhando, com receio e certa timidez, para assumir essa necessidade.

Desafios - O que fazer com os talentos descobertos?
Palis - Talentos precisam ser desenvolvidos como num casulo, protegidos e incentivados. Acho impossível o país avançar sem isso. É importante criar sistemas que detectem os grandes talentos, certificando-os com testes e cursos. Essa dinâmica vale para todas as áreas, não apenas para a matemática. Vale para as ciências e as engenharias. O talento pode ser observado muito cedo.

Desafios - Quando o senhor descobriu seu talento?
Palis - O talento surgiu muito cedo, na infância. Com cinco anos eu ensinava aos colegas, tinha muita facilidade. Sempre fui bom aluno, mas nada em demasia.

Desafios - O senhor deixou a escola de engenharia em 1964 como o melhor aluno da universidade, depois de ter passado em primeiro lugar no vestibular. Recebeu vários convites para os melhores empregos que um engenheiro poderia ter naquela época, mas escolheu estudar sistemas dinâmicos. O que são esses sistemas?
Palis - Eu escolhi a matemática teórica porque sempre fui muito ambicioso. A minha aventura começou quando procurei por um matemático que havia visitado o Brasil, o doutor Steve Smale da Universidade de Columbia, em Nova York, que na época estava se transferindo para Berkeley. Fui estudar sistemas dinâmicos com ele. O assunto foi a coqueluche dos anos 1960 mas deixou de despertar interesse nos anos 1970 e 1980. Minha ousadia foi voltar ao tema em 1995, com outros instrumentos, mais sofisticados. A idéia dos sistemas dinâmicos consiste, fundamentalmente, em sempre olhar para o horizonte e usar o campo de vetores gerados pela equação diferencial por muito tempo, para dizer para onde vão as trajetórias no futuro. Podem-se criar modelos para tentar saber o comportamento das hipóteses no horizonte, depois de muitas interações, sem necessariamente resolver as equações. É uma idéia que vem de muito tempo, mas que foi pela primeira vez enunciada por Poincaré, no final do século XIX. Os sistemas dinâmicos podem servir para estudar a evolução de crescimento de populações. Servem também para a mecânica celeste. Podem ser usados na previsão do tempo.

Desafios - A autonomia das universidades brasileiras contribui para a integração da pesquisa com a necessidade da indústria de desenvolvimento de novas tecnologias?
Palis - Certamente, mas a autonomia exige credibilidade, uma credibilidade adquirida ao longo do tempo. E liderança forte. Coisas difíceis de se obter. Mas esse modelo da universidade presa, medíocre porque não pode gerir os seus recursos, é um impasse que precisa ser quebrado.

Desafios - Como criar uma relação harmônica entre a universidade e a comunidade? Como fazer as universidades trabalharem na pesquisa pura e também na inovação tecnológica?
Palis - A comunidade científica está convicta da necessidade de se integrar à indústria. A nossa linguagem mudou, mas é preciso estimular mais mudanças. A proposta de José Fernando Perez e Fernando Reinach, de liberar as empresas dos encargos trabalhistas pagos a cientistas doutores integrados em processos produtivos, mesmo que por tempo determinado, me parece muito boa. O Brasil continua temeroso em criar precedentes ou privilégios que se espalhem para todos os lados. Mas no caso do desenvolvimento científico, o número de pessoas envolvidas é muito pequeno. Tem de haver incentivo aos talentos, sempre com limites no tempo. A China usou esse modelo.

Desafios - A China é um exemplo a ser seguido?
Palis - É um exemplo melhor do que o da Coréia ou o do Japão. A China vai longe. Para o Brasil se modernizar, é preciso assumir uma linha de ação de fronteira. É exatamente o que a China está fazendo, embora de uma maneira nada democrática.

Desafios - Em que setores o Brasil tem vantagens relativas para crescer mais rápido? Em que ramos da indústria?
Palis - Em software, certamente. Temos uma base bem consolidada, que pode, com incentivos, trazer resultados em tempo recorde. O desenvolvimento que houve nos últimos anos no Brasil é surpreendente. Acho que se adotarmos uma política consistente de fomento por cinco ou dez anos, o Brasil terá indiscutível competência de ponta em software. Estou particularmente otimista porque já cheguei a pensar que seriam necessários trinta anos.

Mente brilhante e tranqüila

Talento precoce para as ciências, Jacob Palis Jr deixou Uberaba, em Minas Gerais, para fazer engenharia na antiga Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Formou-se em 1962 como melhor aluno da Universidade. Foi para os Estados Unidos em 1964 estudar na Universidade de Columbia, em Nova York, mas logo transferiu-se para a Universidade de Berkeley, na Califórnia, acompanhando seu orientador, o norte-americano Steve Smale.

Caçula dos cinco filhos de um libanês de origem grega, que mascateou pelo interior de São Paulo antes de se estabelecer em Uberaba com uma grande loja de tecidos, sapatos e roupas de cama e mesa, Palis aprendeu a jogar futebol e a dançar enquanto ensinava seus colegas a fazer contas. Fez o mestrado e o doutorado nos Estados Unidos em apenas três anos. Smale, seu orientador, tornou-se amigo do mineiro tranqüilo e espontâneo.

A curiosidade de Palis e seu fascínio pelas coisas da ciência o levaram a participar de pelo menos onze instituições acadêmicas em diferentes partes do mundo. Foi presidente da União Matemática Internacional de 1999 a 2002, vice-presidente do Conselho Internacional das Associações Científicas (ICSU), de 1996 a 1999, e membro do Conselho Estratégico e Científico do Collège de France.

Homem persuasivo e envolvente, o cientista foi orientador de 40 doutores em matemática, de onze países. Comprometido com a descoberta de novos talentos, trabalhou para lançar e consolidar o projeto da Olimpíada Brasileira de Matemática, que ajuda a despertar o gosto pela ciência e descobre jovens promissores.

Inquieto, Palis não dá sinais de querer se aposentar. Está sempre em busca de novos desafios. O último deles foi a coordenação, com o egípcio Ismail Serageldin, do relatório da InterAcademy Council sobre estratégias para desenvolvimento de recursos humanos em ciência e tecnologia no mundo, editado com o título Inventing a Better Future, em janeiro de 2004.
 
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