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Reaquecimento - Para onde vamos?- Brasil precisa ocupar novos espaços na economia mundial

2009 . Ano 6 . Edição 53 - 3/08/2009

Economia começa a entrar no eixo

Por Gilson Luiz Euzébio, de Brasília

E agora? É hora de curar as feridas e definir o rumo a seguir, num ambiente completamente novo, no qual as grandes potências econômicas, que davam as cartas do jogo, estão no centro da crise. E os países emergentes, um pouco arranhados, estão em melhor situação


O Brasil está deixando para trás a crise que abalou a economia mundial, a partir de setembro do ano passado, com o estouro da bolha do crédito nos Estados Unidos. É verdade que a crise deixou sequelas na economia brasileira, que ainda não recuperou os postos de trabalho perdidos nem os estragos na produção industrial. Mas o simples fato de voltar a crescer, mesmo que lentamente, traz um alívio. Afinal, o país ensaia uma nova trajetória de recuperação, com a retomada da geração de emprego, renda e da produção, enquanto as economias centrais ainda estão mergulhadas na recessão econômica. E isso desperta o interesse do capital estrangeiro e também pode abrir um leque de oportunidades competitivas para o Brasil. A dúvida é se o país saberá aproveitar a onda.

"É momento para as empresas brasileiras darem um salto", afirma Cláudio Gastal, diretor presidente do Movimento Brasil Competitivo (MBC), que defende a imediata retomada dos investimentos públicos e privados para que o país esteja bem posicionado quando houver o reaquecimento da economia mundial. Se tiver investimento em inovação e competitividade, o Brasil pode ter uma vantagem competitiva, diz ele. Para isso, segundo ele, é preciso também melhorar a articulação entre o setor público e privado, evitar que a eleição de 2010 influencie tanto na dinâmica econômica. No rol de iniciativas, ele inclui também a reforma tributária e da legislação trabalhista, assunto constante na pauta da indústria. Atendidas essas condições, ele acredita que as empresas brasileiras podem transformar a crise em oportunidade e dar um "salto de competitividade no mercado externo".

"A crise é uma oportunidade para o Brasil", afirma Antônio Sérgio Martins Mello, diretor de Relações Institucionais da Fiat Automóveis e ex-secretário do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Ele acredita que a crise provocará o deslocamento de parte da produção dos países desenvolvidos para as economias periféricas, principalmente para os países emergentes, como o Brasil, Índia, China, Turquia e outros países da América Latina e Europa Oriental. "Há uma tendência de a produção ser transferida para os países periféricos, e os países emergentes terão um impulso muito forte nessa saída da crise, especialmente aqueles que estão estruturados", afirma Mello. O Brasil, segundo ele, tem uma grande vantagem, porque recebeu muito investimento nos últimos anos e as empresas instalaram aqui núcleos de desenvolvimento de tecnologia. No caso do setor automotivo, indústrias de diversos países se instalaram no Brasil. Se o mercado interno crescer para absorver quatro milhões de unidades, o setor pode produzir cinco milhões de veículos no Brasil e exportar o restante, afi rma Mello. Segundo ele, com esse volume de produção, a indústria ganhará competitividade de escala. Outra vantagem da indústria automobilística brasileira, afirma ele, é a base industrial: "Temos hoje uma indústria de autopeças que permite fazer quase 90% do carro aqui, especialmente o carro compacto. Isso é um outro fator que destaca a indústria brasileira".

"Não é uma vantagem automática", alerta Márcio Wohlers, diretor de Estudos Setoriais do Ipea. O Brasil precisa repensar a política industrial, já que a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) foi feita numa conjuntura de crescimento da economia mundial. "Por enquanto, o governo adotou medidas para salvar a lavoura, um tratamento de choque. E deu certo", comenta. É hora de administrar a saída da crise e definir rumos. "Estamos correndo o risco de sair da crise de maneira regressiva, com a perda nas exportações de produtos que agregam tecnologia", afirma. A política pública, segundo ele, tem que atuar para reduzir a incerteza dos investidores e direcionar o crescimento. "O setor privado tem aversão a risco", lembra. Por isso, o governo precisa trabalhar para aumentar a institucionalidade. O ideal, defende ele, é ter como objetivo a recuperação do espaço perdido pelo país no comércio internacional, comprar ativos no exterior e ter uma ação coordenada dos setores público e privado. Ao mesmo tempo, o Brasil deve trabalhar para expandir sua liderança em setores que já domina, como agribusiness, carne, papel e celulose. Com uma política bem planejada, o país poderá conquistar novos espaços na economia internacional.

O otimismo refletiu no Índice de Confiança do Empresário Industrial, divulgado em julho pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com a pesquisa, a confiança dos industriais brasileiros chegou a 58,2 pontos, 8,8 pontos acima do índice registrado no primeiro trimestre. Assim, o empresariado volta ao mesmo patamar de confiança vigente em julho do ano passado, antes da crise econômica. Para a CNI, o resultado de julho confirma "a reversão das expectativas negativas e anuncia a recuperação da atividade industrial", e indica a possibilidade de retomada dos investimentos e de aumento da produção. Pequenas, médias e grandes empresas, todas estão mais confiantes no futuro da economia brasileira. O Sensor Econômico, um indicador feito pelo Ipea com base em 115 entidades empresariais e dos trabalhadores, também registrou melhora nas expectativas no mês de junho. Entretanto, o resultado, demonstrou que empresários e trabalhadores ainda continuavam apreensivos quanto ao futuro da economia, embora bem menos do que nos meses anteriores.

As instituições financeiras também já incorporaram o otimismo em suas análises. O Unibanco, por exemplo, afirma, em boletim eletrônico, que "o reordenamento econômico mundial começa a apresentar alguns sinais interessantes para o Brasil": o aumento do fluxo de capitais ajudará a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) e a taxa básica de juros deve cair mais, já que a inflação está abaixo da meta do Banco Central. "No curto prazo, o Brasil está numa posição bastante vantajosa, porque a gente está com o setor externo mais ou menos estruturado, não temos grandes déficits em transações correntes como tínhamos no passado, o saldo da balança comercial é superior ao projetado", concorda Mansueto Facundo Almeida Júnior, técnico do Ipea e ex-coordenador da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Ele ressalta que a restrição externa foi o que "abortou o crescimento do país nas crises passadas". Além disso, mesmo com a queda de arrecadação e aumentos dos gastos em medidas anticíclicas, a dívida pública está controlada, enquanto a dívida dos países desenvolvidos está crescendo.

"O Brasil está numa situação muito mais vantajosa em relação aos outros da América latina e a vários do mundo", afirma. Como a pauta de exportação e a base de arrecadação são diversificadas, o Brasil sofreu menos os efeitos da crise, e a economia reagiu bem às medidas adotadas pelo governo. Redução de impostos para determinados setores, aumento do salário mínimo e dos benefícios previdenciários, ampliação do seguro desemprego e dos programas sociais ajudaram a sustentar a demanda e manter o nível de atividade econômica. A redução da taxa de juros pelo Banco Central vai reduzir a pressão dos gastos de rolagem da dívida pública, dando mais folga ao governo para investir. Tudo isso alimenta o clima de otimismo. O diretor da Fiat prevê que 2009 será um dos melhores anos da indústria automobilística no Brasil. Analistas de outros países também veem perspectiva positiva. "Os estrangeiros estão mais otimistas do que os brasileiros", afirma Almeida Júnior. A expectativa favorável ao Brasil é tão grande, no exterior, que Bresser Pereira, exministro da Administração, escreveu em sua coluna, na Folha de S.Paulo, que chega a ficar desconfiado.

De fato, a situação brasileira é melhor do que a de muitos países, mas a recuperação tem como base o mercado interno e as exportações para a China. "O mercado interno tem limites", alerta Jorge Gerdau, presidente do Movimento Brasil Competitivo. O setor industrial, segundo ele, é dependente do mercado mundial, que absorve 25% da produção brasileira. "Enquanto a situação lá fora não melhorar nós vamos continuar sentindo", afirma. Segundo ele, a parte interna do Brasil "está indo muito bem", mas os setores exportadores ainda enfrentam dificuldade. "O que garantiu ao país reagir e começar a sinalizar a saída é a questão do mercado interno, que incorporou uma grande massa de consumidores", concorda Cláudio Gastal. A economia brasileira, ressalta ele, reagiu muito bem às medidas adotadas pelo governo, mas elas não são suficientes para assegurar o crescimento sustentado.

Investimentos - "Nosso problema é o setor industrial", constata Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea. Para ele, a economia está se equilibrando pela renda vinda do setor público, que assegurou o nível de atividade no setor de comércio e serviços. "A indústria sofreu um baque medonho", comenta. Houve uma "queda brutal" de investimentos no último trimestre do ano passado e no primeiro trimestre de 2009, associada à redução das exportações de produtos manufaturados. "Isso provocou a queda na produção industrial", explica. O saldo da balança comercial brasileira tem sido sustentado pela exportação de commodities, principalmente para a China. A retração da economia dos Estados Unidos e dos países da União Europeia atingiram diretamente a indústria, que dependia desses mercados.

A questão agora, para Messenberg, é "o que fazer com a indústria". Na década de 1930, com a crise do café no mercado internacional, o governo brasileiro comprou café para queimar. Assim, mantinha a renda do produtor. E também desvalorizou o câmbio. Desta vez, o governo adotou medidas para assegurar renda à população, mas manteve o câmbio valorizado, o que tira a competitividade da indústria. "Então, só o setor de serviços cresce, ele passa a comandar o crescimento da economia", explica. Além do câmbio, o setor industrial depende de crédito para investimentos, fornecido pelo governo, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo sistema financeiro internacional. Com a restrição do crédito internacional, houve queda nos investimentos.

"Cabe ao governo continuar baixando os juros e estimular a expansão do crédito", recomenda. No processo de recuperação da indústria, segundo ele, o investimento público é fundamental para sinalizar ao setor privado o rumo do crescimento econômico. Entretanto, o Brasil, embora disponha de recursos, enfrenta obstáculos burocráticos que travam os investimentos públicos. Messenberg sugere, além da desvalorização cambial, o aumento dos tributos para o setor de serviços e redução para o setor industrial.

A apreciação cambial, que tira a competitividade dos produtos brasileiros, é resultado da expectativa de sucesso do Brasil na administração da crise. "Como temos um cenário de crescimento, com juros relativamente altos, mercado interno, baixos juros nos países desenvolvidos, uma massa de ativos se desloca para o Brasil em busca de rendimentos mais altos", explica Marcos Antonio Macedo Cintra, técnico do Ipea. "A política econômica brasileira tem que lidar com isso agora, que é a consequência de sairmos na frente por um cenário positivo", acrescenta. O capital especulativo sai de outros países, que pagam juros próximos a zero, e vêm ganhar 8,75% no Brasil. Segundo Wohlers, a recente redução da taxa de juros pelo Banco Central revelou ineficiências da economia brasileira, "viciada em juros". As empresas têm agora que buscar retorno na atividade produtiva, e não mais no mercado financeiro. Para evitar a entrada de capital especulativo e a valorização da moeda nacional, Cintra diz que o Banco Central tem duas saídas: reduzir a taxa de juros, equiparando-a a dos outros países, ou taxar a entrada de capital de curto prazo. No início do Plano Real, lembra ele, o Brasil adotou medidas de controle, taxando o capital especulativo: "A política econômica terá que enfrentar isso". Até o início do próximo ano, ele prevê que as reservas internacionais cheguem aos US$ 300 bilhões. "Isso tem um custo", diz. Para esterilizar as reservas, o governo coloca papéis no mercado a 8,75% e recebe 0,25% com a aplicação dos recursos em títulos dos Estados Unidos. Esse custo fiscal tende a aumentar, porque a previsão é que, em 2014, o Brasil esteja exportando US$ 140 bilhões em álcool e petróleo.

"Se estamos sofrendo essa avalanche de capital externo, que provoca a valorização da taxa de câmbio, é um problema de grande monta", alerta Cintra. Com a perda de competitividade devido ao câmbio valorizado, o risco é o Brasil se tornar um exportador de produtos primários, dependente da China. "É preciso cuidado da política industrial", alerta. "O nosso crescimento de exportação hoje está muito ligado à China, e nossa pauta está ficando concentrada em poucos produtos. Isso causa certa preocupação", acrescenta Mansueto Facundo de Almeida Júnior. Para ele, no curto prazo, isso não é problema, mas não está claro ainda como o país vai lidar com a situação, de forma a recuperar as exportações de produtos manufaturados e diversificar os mercados compradores.

A educação é outro sério entrave ao desenvolvimento econômico do Brasil no longo prazo. Embora tenha avançado na universalização do acesso à educação, o Brasil está em desvantagem em comparação com os outros países que formam o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). "Todos esses países fomentam muito a indústria, a inovação, têm universidades bem melhores do que as brasileiras", comenta Almeida Júnior. Segundo ele, apenas duas universidades brasileiras, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Campinas (Unicamp), estão no ranking das 200 melhores universidades do mundo, mesmo assim no fim da lista. O Brasil não tem nenhuma universidade de tecnologia entre as 50 melhores do mundo, enquanto a China tem oito e a Índia, cinco. "Esses países têm um grupo de elite de universidades de tecnologia e engenharia que a gente não tem", afirma. Além disso, Coreia do Sul, China e Índia são os países que mais mandam estudantes para os Estados Unidos.

Outra distorção é que o Brasil incentiva a formação de advogados em detrimento das carreiras de tecnologia e de engenharia. Enquanto um engenheiro no serviço público ganha R$ 4,8 mil, um advogado entra ganhando mais que o dobro. Se o Brasil quiser desenvolver a indústria, com inovação e tecnologia, tem que valorizar os profissionais da área de engenharia e tecnologia, adverte Almeida Júnior. Ele ressalta que Coreia do Sul, China e Índia investem muito mais do que o Brasil em ciência e tecnologia.

Além de investir pouco em ciência e tecnologia, o Brasil perdeu a capacidade de investimento em obras. Hoje, segundo ele, o Brasil investe menos do que nos anos 1980, embora a carga tributária tenha subido de 25% do PIB para 36%. "O Estado era mais eficiente para investir", afirma. Nos últimos anos, o país desarticulou a política de investimentos e perdeu os profissionais que conheciam a máquina e davam agilidade ao processo de investimento. Paralelamente, foram criadas amarras muito rígidas, com o intuito de combater a corrupção, que inviabilizam o processo de investimento. Para ele, a Lei 8666, conhecida como Lei de Licitações, nada mais é do que uma tentativa de "controlar a corrupção travando o processo". E ainda tem a questão ambiental, motivo de frequentes conflitos.

O cenário de longo prazo, portanto, não é tão tranquilizador. "O mundo que vai sair daí (da crise) é um mundo que tem um consumo muito menor e mais competitivo. O Brasil ainda vai ter que fazer muita coisa para se posicionar nesse mundo", afirma Almeida Júnior. Para Messenberg, o que está em jogo é a ocupação estratégica de espaços no mercado mundial. E é preciso definir setores nos quais investir para ter competitividade quando houver a retomada do crescimento da economia mundial. A economia dos Estados Unidos vai ressurgir com força, aposta Messenberg: "Engana-se quem pensa que ela vai ficar como o Japão". Mas Cláudio Gastal acha que a queda no consumo nos Estados Unidos e nos países da União Europeia, de quase 40%, foi muito forte e dificilmente será recuperada. "Com certeza não vamos voltar aos patamares de consumo que tínhamos anteriormente", afirma. A saída, portanto, é acreditar no mercado interno e nas economias periféricas.

 
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