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Consumo - Ainda distante de um mercado de massa

2007 . Ano 4 . Edição 35 - 10/9/2007

Jorge Luiz de Souza, de São Paulo

As famílias brasileiras estão gastando menos com alimentação e vestuário por causa da queda dos preços e, com isso,podem melhorar sua habitação e utilizar mais serviços urbanos. E, em menor envergadura, os mais pobres começam a elevar seu consumo de bens duráveis - eletroeletrônicos,mobiliário, casa e automóvel. As estatísticas que revelam isso são as seguintes: os 50% mais pobres passaram a responder por 17% dos gastos totais das famílias nas regiões metropolitanas em 2002- 2003,ante 16% em 1995-1996 e 15% em 1987-1988. São avanços, entretanto,ainda muito lentos,porque o grosso do consumo segue concentrado nas classes mais ricas.

"Esse dado não significa que não tenha ocorrido uma universalização na posse de duráveis - televisão,geladeira,máquina de lavar roupas, telefone celular,aparelho de som, videocassete e DVD -, mas sim há uma clara segmentação desse mercado, com os produtos das classes ricas bem distintos dos adquiridos pelas mais pobres. Há um mercado com poder de aquisição de segunda linha de eletroeletrônicos e não de produtos com maior conteúdo tecnológico.Então,o mercado consumidor que poderia dar dinamismo para uma oferta industrial de maior conteúdo tecnológico continua muito restrito.Daí a dificuldade de se criar um mercado de massa no país", diz Fernando Gaiger, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Segundo o pesquisador,"precisamos aumentar o poder de compra para generalizar alguns consumos de bens duráveis que poderiam dar uma escala ainda maior para pronossa indústria, permitiriam internalizar alguns segmentos industriais que utilizam muitos componentes importados, em função de que, na nossa indústria, o dinamismo está concentrado em uma faixa muito restrita da população.O Brasil tem tamanho. Falta renda". Ele é um dos 45 autores dos 29 artigos que compõem o livro "Gasto e consumo das famílias brasileiras contemporâneas" - todos eles pesquisadores do Ipea e de instituições como a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),Universidade Federal de Viçosa (UFV),Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para elaborar essa nova abordagem estatística, eles tiveram acesso aos dados individualizados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POFs) realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São três POFs.A primeira é de 1987-1988, a segunda é de 1995- 1996 (ambas abrangendo apenas 11 áreas metropolitanas) e a terceira é de 2002- 2003 (com abrangência nacional).Antes disso, o IBGE havia realizado o Estudo Nacional de Despesas Familiares (Endef), de 1974-1975.Os artigos analisam as alterações nos perfis de consumo e a partição dos mercados de bens e serviços segundo os estratos de renda. Há estudos específicos sobre alimentação,habitação, transporte, saúde, educação, cultura e bens duráveis, e outros sobre especificidades de gastos decorrentes de idade e gênero,como sobre as mulheres, sobre os efeitos da sua maior inserção no mercado de trabalho.

ESPRAIAMENTO Segundo Gaiger, a faixa dos 20% seguintes aos 50% mais pobres, que respondia por 15% dos gastos totais das famílias nas regiões metropolitanas nas pesquisas de 1987/1988 e de 1995/1996, elevou sua participação para 19% na de 2002/2003.Além disso, nas pesquisas de 1987/1988 e 1995/1996, os 30% mais ricos eram responsáveis por 83% do mercado de duráveis e, em 2002/2003, essa mesma fatia passou a ser responsável por 75%, o que revela uma menor concentração, principalmente nos bens eletroeletrônicos e automóveis."Não há dúvida de que essa desconcentração se relaciona à melhoria do crédito e a uma queda nos preços", acrescenta.

Considerando apenas as regiões metropolitanas, áreas que podem ser comparadas porque foram cobertas pelas três pesquisas,"o pouquinho de queda de desigualdade que a gente começa a assistir já se manifesta no espraiamento de alguns mercados de consumo", diz.Uma contribuição para diminuir as desigualdades, diz ele, é ter crescido a despesa com impostos, principalmente nas faixas mais ricas,"o que,na minha opinião, é bom".O pesquisador acrescenta que a tributação é uma das novidades presentes nesses trabalhos. "O Imposto de Renda (IR) se tornou mais efetivo. Nós temos um IR bem progressivo, assim como em muitos países desenvolvidos, embora com pequeno montante na estrutura tributária. O problema é a nossa base tributada, que é muito pequena. Já o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), por exemplo, não é progressivo, é um tributo neutro, o que é uma coisa muito ruim".

A antropóloga Diana Nogueira de Oliveira Lima,professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trabalhou com pesquisa qualitativa e identificou que está ocorrendo "não apenas uma mudança nas escolhas da pauta de gastos,mas uma transformação na própria concepção do consumo. Antes, ele era exercido de forma mais discreta e agora é mais ostensivo. Isto é uma marca dos anos 1990. Novos hábitos trazem itens novos que classifico de consumo para a aparência,porque a aparência passa a ser importante também no campo profissional.Historicamente, era importante nos relacionamentos pessoais, mas hoje ganha outra dimensão e vira um instrumento de qualificação no mercado de trabalho".

Ela não considera,porém,que isso seja consumismo. "O próprio termo consumismo precisa ser repensado", diz,"porque ninguém se considera consumista. Apurei o que as pessoas estão comprando, como estão fazendo suas escolhas e como elas mesmas falam sobre seu grau de satisfação ou insatisfação.As pessoas têm uma oferta muito grande, a modernidade e a industrialização oferecem muitas opções.Mas isso é um consumismo patológico, excessivo? Não.O celular não é só um bem de distinção,mas também vem cobrir uma carência de telefonia, como o pedreiro que só vinha a receber pelo vizinho o recado de que havia um trabalho para ele quando já tinha perdido a oportunidade.Agora, consegue receber diretamente o chamado, além de poder ligar para a namorada."

ALIMENTAÇÃO A pesquisadora Sonia Rocha, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets),do Rio de Janeiro, diz que "ao fazer comparações com as regiões metropolitanas que tínhamos nas pesquisas anteriores, o que se vê é que há uma tendência robusta e sustentada de queda da participação da despesa alimentar na despesa global das famílias em todas as classes de renda e em todas as regiões. Normalmente, isso acontece quando há aumento de renda, mas nesse período não houve aumento de renda e,apesar disso,houve queda na participação dos alimentos no consumo. Então, foi por influência de mudanças na estrutura da família, na urbanização, na participação das mulheres no mercado de trabalho e, o que é muito importante, devido à queda dos preços dos produtos alimentares relativamente a outros bens".

Ela explica que não houve sacrifício na despesa com alimentação."Isso fica claro na abertura da pesquisa por produtos alimentares e seus aportes nutricionais", diz. Hoje, o item mais importante no consumo das famílias é habitação (que inclui aluguel,despesas de manutenção de domicílios, taxas e serviços públicos ligados aos domicílios), mas seu peso já diminuiu em relação a 1996. "Crescem educação e transporte, este muito ligado à urbanização, com aumento grande do transporte individual e do peso dos combustíveis, o que é uma coisa indesejável, uma vez que o transporte de massa não está desempenhando o papel que deveria desempenhar. E o peso da educação aumenta mesmo com o aumento dos gastos públicos com educação", diz.

VESTUÁRIO Além da queda do peso dos alimentos no orçamento doméstico,o peso do vestuário também caiu muito."Isto é recorrente em todas as POFs: uma queda constante do comprometimento do orçamento com gastos de alimentação e vestuário. Isto se deve em grande medida ao efeito preço",diz Gaiger."Com a queda dos preços, há um aumento da oferta alimentar e uma segmentação do mercado de alimentos. Então, a queda no comprometimento da renda com alimentação não é uma redução no total consumido, porque aumenta a gama de produtos.Outra coisa que se vê na alimentação não está ligada ao preço,mas ao próprio funcionamento da sociedade como um todo, com as mudanças na organização das famílias, a maior inserção das mulheres no mercado de trabalho, o crescimento das cidades e o aumento dos custos de transportes, com um aumento muito grande do consumo de alimentos fora de casa", diz.

Na POF de 1995-1996, de cada R$ 4 gastos com alimentação, na média R$ 1 era gasto fora de casa. Essa relação caiu de R$ 3 para R$ 1 em 2002-2003. Comparando as regiões metropolitanas, que dá para comparar nas três POFs, entre os 50% mais pobres, o comprometimento do orçamento familiar com alimentos caiu de 36% em 1987-1988 para 28% em 2002-2003. "Aí teve uma discussão: em que medida isso significa uma mudança na qualidade no consumo alimentar? O consumo físico é levantado intradomiciliar e, no caso da POF, se levanta o consumo físico, afora a aquisição.Fora de casa, não dá para fazer isso. Para a próxima pesquisa, o IBGE vai tentar estimar parte da composição nutricional que se realiza fora de casa.Mas, hoje em dia, há maior disponibilidade de aquisição alimentar fora."

Gaiger explica que,"como houve essa migração muito grande para a alimentação fora de casa, fica parecendo que as pessoas diminuíram o consumo de cereais e de carne. Elas reduziram as quantidades consumidas em casa, mas não se sabe quanto disso agora está fora de casa.No volume físico, absoluto,observase o consumidor diminuindo as compras da casa, mas que tipo de alimentação está se fazendo fora? E o que cresceu dentro de casa? Cresceram água mineral, refrigerantes, legumes, açúcares, alimentos preparados e congelados. Esse crescimento é o lado positivo da história. O problema é que a alimentação fora de casa é tremendamente desbalanceada e hipercalórica".

HABITAÇÃO E quais são os gastos que ocuparam o lugar dos alimentos e do vestuário? A habitação cresceu muito em termos de importância no orçamento das famílias, pressionando todas as famílias, em função do efeito preço e da incorporação de alguns consumos,como o telefone,que passou a se universalizar.Habitação hoje é o primeiro item do consumo. Entre os 50% mais pobres, o comprometimento orçamentário com habitação era de 17% em 1987-1988 e passou para 22% em 2002-2003. Com os 50% mais ricos, subiu de 12% para 13%. "O pico foi em 1995-1996, mas os serviços de utilidade pública continuaram pressionando os orçamentos das famílias. E veja que parte dos gastos com telefone celular está computada nos itens cultura e entretenimento", diz o pesquisador.

TRANSPORTE Outro item que pressionou também foi transporte. "No caso das famílias mais pobres, em função do efeito preço do transporte urbano e com a ascensão do transporte privado individual.Nas famílias mais pobres, houve uma mudança no perfil do transporte público, com migração para o transporte alternativo (as vans), um pouco para o trem e o metrô, e, apesar dessa pressão orçamentária, houve migração para o transporte individual. Os mais pobres passaram a utilizar mais os transportes alternativos,mas também o transporte individual. Porém, isso não responde por toda a queda que se teve no transporte coletivo. Em certa medida, a pressão do preço no transporte coletivo levou a um crescimento do comprometimento orçamentário e a uma migração, mas há pessoas tendo que lançar mão de subterfúgios, como andar a pé ou de bicicleta, dados que a POF não consegue levantar", diz Gaiger. "Mas é impressionante como cai o número de passageiros no transporte coletivo."

EDUCAÇÃO Também cresceu o comprometimento orçamentário com educação, por dois fatores: o aumento dos preços dos colégios e o crescimento do ensino privado superior. "Evidentemente, esses dois efeitos concentraram-se nos mais ricos. Então, assistimos na educação a um aumento da desigualdade no consumo. Os ricos passaram a gastar ainda mais.Hoje, essa relação está de 24 vezes quando se compara os 20% mais ricos com os 20% mais pobres. E aí é importante verificar que a provisão pública é fundamental para que o orçamento dos mais pobres não seja tão pressionado. Se a provisão pública começar a sofrer muito e os mais pobres tiverem que lançar mão do ensino privado, isso vai ser muito ruim, porque tem uma pressão de preços das mensalidades muito grande", diz Gaiger.

Um dos estudos compara separadamente famílias que utilizam escola pública de todas as faixas de renda e as que usam a escola privada. Entre as da escola pública, o comprometimento orçamentário de pobres e ricos é o mesmo, com uma pressão por consumir outras coisas, como material escolar, muito menor na escola pública. Nas famílias que usam escola privada, os pobres têm um comprometimento orçamentário muito menor que o dos ricos."Então, existe claramente uma mesma escola pública e várias escolas particulares", diz. Outro estudo mostrou que entre as famílias cujos adultos têm alta escolaridade, sejam pobres ou ricos, cresce o comprometimento orçamentário com educação - a despeito da renda, as pessoas comprometem mais o seu orçamento quanto mais escolarizadas são. "O valor da educação está ligado ao seu grau de educação, e não somente à sua renda, apesar de as duas coisas estarem altamente correlacionadas", diz o pesquisador

SAÚDE Em função dos preços dos planos de saúde, cresceu o comprometimento orçamentário da classe média.Os índices de reajuste dos planos têm sido recorrentemente superiores aos da inflação. Mas o peso diminui para os mais pobres em função da consolidação da provisão pública de produtos de saúde,da política dos genéricos e da farmácia popular.Para as faixas de renda mais baixa, a provisão pública faz diferença. Segundo a professora Diana Nogueira,da UFRJ,"há coisas na vida que contribuem para o bem-estar para as quais não se precisa de dinheiro, e as redes de proteção públicas são fundamentais para o bem-estar, como em educação e saúde".

 
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