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João Paulo dos Reis Velloso - O encontro de formações diversas

2011 . Ano 8 . Edição 69 - 21/11/2011

Foto: Sidney Murrieta
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Gilberto Costa– de Brasília

Fundador do Ipea e ex-Ministro dos governos Médici e Geisel conta detalhes do surgimento do Instituto e da formulação do II Plano Nacional de Desenvolvimento, no início dos anos 1970. Para ele, o desenvolvimento é a única maneira de tirar as pessoas da pobreza

Em julho de 1964, três meses após o golpe militar, João Paulo dos Reis Velloso recebeu um telegrama do então ministro do Planejamento, Roberto Campos, chamando-o para conversar. Um convite foi feito: organizar um novo órgão, chamado Escritório de Pesquisa Econômica Aplicada (Epea). Velloso era um jovem economista que acabara de voltar de um mestrado de dois anos na Universidade de Yale, nos Estados Unidos.

Auxiliado apenas por uma secretária, ele logo começou a trabalhar. A primeira tarefa do órgão, lembra ele, era razoavelmente complexa: revisar o Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg). A ideia, inspirada nos escritos do economista espanhol Salvador de Madariaga (1886-1978), era fazer um “planejamento para impulsionar as forças criativas do mercado”, recorda Velloso. Segundo ele, isso nada tinha a ver, em tempo de perseguição a comunistas, com a Gopslan, sigla russa para o comitê soviético de economia planificada.

O Epea logo deixaria de ser um escritório e, com aumento da equipe, se transformaria em um instituto, o Ipea. A ideia de planejamento sempre norteou a atividade pública de Reis Velloso, que completou 80 anos em julho. Além do Paeg, ele esteve à frente da elaboração da primeira e da segunda edição do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), criados em 1972 e 1974, respectivamente. Os PNDs visavam criar no país uma indústria de bens de produção moderna, completando a cadeia produtiva instalada no país. A concepção dos planos baseava-se em diagnósticos do Ipea, que, entre outras coisas, antecipava a grande chance de o País se converter de importador a competitivo fornecedor mundial de insumos industrias básicos nas áreas siderúrgica, petroquímica, de celulose e papel e de metais não ferrosos.

Na entrevista publicada a seguir, o fundador do Ipea fala da história do instituto e das perspectivas para a economia brasileira.

 Foto: Sidney Murrieta
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Desafios - Como foi o início do Ipea como centro de excelência, nos anos 1960, apesar da inexistência no Brasil de cursos de pós-graduação em Economia?

Reis Velloso - As dificuldades iniciais foram superadas com alguns economistas brasileiros que estavam voltando de universidades do exterior, como eu. Sempre tivemos a ideia de que economia aplicada não era a reprodução de uma instituição acadêmica. As pessoas vinham para cá já sabendo que tínhamos de preparar documentos para o planejamento. Tínhamos dois valores: liberdade de criação e de pensamento. Assim, fizemos diagnósticos da economia brasileira. O levantamento da indústria foi feito por Arthur Candal e dois assistentes recém-formados, Pedro Malan e Regis Bonelli, todos de esquerda. Não havia medo de ideias. Outra diretriz era “nós temos que recrutar onde for possível”. Fizemos um convênio com a Universidade de Berkeley [EUA]. Chegaram cinco ou seis economistas e ficaram no Ipea. O Albert Fishlow veio para o Brasil dessa forma. Ao mesmo tempo, nós íamos caçando os brasileiros e mandando para o exterior para fazer pós-graduação e voltar para trabalhar no Ipea.

Desafios - O que os estrangeiros achavam de interessante no Brasil, a ponto de deixarem seus países?

Reis Velloso - Eles ficavam algum tempo aqui porque sabiam que virariam brasilianistas, como foi o caso do Fishlow. Ele acabou de publicar um livro sobre o país. Havia um interesse pelo Brasil e o Ipea era o lugar onde eles podiam fazer pesquisa e escrever, na ideia de trabalhar para o planejamento. Naqueles diagnósticos setoriais todos atuaram, cada um na sua especialidade. Eles davam expediente no Ipea, aprendiam a língua e ensinavam jovens economistas brasileiros a fazer pesquisa.

Desafios - Que importância teve a existência do Ipea para a formação do campo acadêmico de Economia no Brasil?

Reis Velloso - O Ipea era como um ímã, tinha poder de atração, mostrava as oportunidades que existiam para quem fizesse pós-graduação. As pessoas inicialmente iam para o exterior. Com a reforma universitária de 1978, foram criados os centros regionais de pós-graduação. Não fazia sentido mais mandar para o exterior.

Desafios - O senhor se considera fiador da liberdade interna do Ipea em um momento em que não havia liberdade no país?

Reis Velloso - Eu sempre fui franco atirador, nunca me filiei a correntes nem dentro da economia, e nem na área política. Nós não tínhamos medo de ideias. Tudo que se desejava funcionou, isso o [Roberto] Campos segurou e depois eu também garanti. O pensamento era o seguinte: nós só tínhamos que prestar contas ao presidente da República. O Ipea foi transformado em fundação e tinha carreira própria. Eu me lembro que o chefe de gabinete militar do governo Geisel [general Hugo Abreu] veio falar comigo, pois havia ciumeiras e reclamações na área militar. O motivo era que o Ipea tinha carreira própria, aprovada por portaria do presidente da República. Eu respondi ao general, “se o senhor quiser o senhor fala com o presidente da República. Mas tem o seguinte: ou o Ipea mantém a carreira própria ou eu não sou mais ministro”. Todos os economistas do MDB trabalhavam no Ipea. Por quê? Porque tinham liberdade de pensamento e porque ganhavam bem.

Desafios - Mas não houve momentos em que a situação de restrições políticas atrapalhou o Ipea? O Albert Fishlow, por exemplo, volta para os Estados Unidos depois do AI-5.

Reis Velloso - Já estava terminado o convênio que tínhamos com a Universidade de Berkeley. Ele depois escreveu um artigo que deu origem à grande discussão sobre distribuição de renda no Brasil. O [Carlos] Langoni escreveu um livro contra o ponto de vista do Fishlow. Na verdade, os dois estavam com razão. Porque tinha havido achatamento de salários sim. O Langoni tinha razão por causa da importância do capital humano. A última palavra coube ao Samuel Morley, também do grupo de Berkeley [autor de Poverty and Inequality in Latin America]. Ele escreveu que o problema não era propriamente de educação. O Brasil fez sua industrialização com os analfabetos que vinham do Nordeste para o Rio e para São Paulo... Quando saiu o I PND, o primeiro artigo contra era de dois economistas do Ipea, Pedro Malan e Regis Bonelli. Eu não dei resposta, poderia parecer que eu estava querendo prevalecer da minha condição.

Foto: Sidney Murrieta

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Desafios - O fato de estar sob um regime fechado favorecia o planejamento? Se o momento fosse de normalidade democrática, o Ipea seria o mesmo?

Reis Velloso - Acho que sim, porque o [Roberto] Campos era um liberal. Ele já tinha trabalhado no governo Juscelino com o Lucas Lopes [equipe que elaborou o Plano de Metas], fez um plano de estabilização que JK jogou na lata do lixo... Ele teve a ideia e eu executei no meu estilo. Para saber do Planejamento sob o Roberto Campos leia a síntese do Paeg. Não tem coisa mais liberal. Foi escrita pelo Og Leme, que fez pós-graduação na Universidade de Chicago, onde tinha um pessoal monetarista. A minha universidade, de Yale, estava de outro lado. Para mim, o grande mestre era o [James] Tobin, um liberal no sentido americano, que quer dizer progressista avançado. No Ipea, pessoas com formação diversa se encontravam.

Desafios - Na sua opinião esse tipo de embate ainda existe? Reis Velloso - Muito atenuado, mas existe sim. Hoje não há mais as high ideologies, só existem as soft ideologies, tudo amenizado.

Reis Velloso - Muito atenuado, mas existe sim. Hoje não há mais as high ideologies, só existem as soft ideologies, tudo amenizado.

Desafios - Há quem aponte que no momento da redemocratização o planejamento perdeu importância. Por que isso aconteceu?

Reis Velloso - Nós temos que ver a coisa da perspectiva histórica. Há duas coisas: planejamento e desenvolvimento, ou planejamento para o desenvolvimento. É por isso que eu cito sempre Salvador de Madariaga naquele livro Planejamento para a Liberdade. Ele é reconhecido como um liberal. O Brasil teve uma geração que nunca viu o país crescer em termos de renda per capita, mas houve transformação. Fez-se o Plano Real, que transformou o combate à inflação em um valor social. Hoje ninguém no Brasil quer saber de ter altas taxas de inflação. O combate à inflação é um valor social. Eu acho que o desenvolvimento e o planejamento também devem ser valores sociais. Nós precisamos de crescimento e desenvolvimento econômico, para ter um modelo que seja grande gerador de emprego, que evite o subemprego, o mercado informal. Essa é a única forma de tirar as pessoas da pobreza.

Desafios - Isso está acontecendo?

Reis Velloso – Nós temos de ter a preocupação com a geração de bons empregos para que as pessoas não precisem recorrer ao mercado informal, que ainda é muito grande no Brasil.

Desafios - O senhor avalia que a inflação esvaziou o planejamento nos anos 1980? Ou seja, não havia como fazer planejamento naquelas condições?

Reis Velloso - Aquela inflação bárbara desconstruiu todo o modelo de planejamento, programação e investimento que havia no Brasil e destruiu instituições. Até o know-how de crescimento nós perdemos. Nós anos 1990, houve transformações como a adoção de métodos gerenciais, a abertura econômica, a entrada de mais capital estrangeiro. Apesar disso, ficamos na dúvida hamletiana “podemos ou não ter política de competitividade?”; “podemos ou não ter política industrial ativa?”. Assim chegamos aos anos 2000 sem crescer a uma taxa razoável.

Foto: Sidney Murrieta

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Desafios - Qual a contribuição do Ipea para o II PND?

Reis Velloso - O II PND foi escrito por mim lá na SQS 114 [então uma quadra de apartamentos funcionais em Brasília]. Eu passava lá os fins de semana, escrevendo o plano com base em ideias minhas, mas usando os documentos que tinha recebido do Ipea e com alguns subsídios do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. O Ipea tinha duas funções. A primeira, na pesquisa que era aplicada, o pessoal às vezes dizia horrores do governo. Ninguém estabeleceu limites. E havia ainda um pedaço do Ipea que recebia algumas encomendas de trabalho sabendo que isso era um subsídio para algum planejamento, também com total liberdade. Eu acho que assim deve ser. Ainda hoje, eu leio os trabalhos do Ipea para escrever sobre alguns assuntos.

Desafios - O senhor no ano passado escreveu a introdução do livro editado pelo Ipea sobre a controvérsia do planejamento da economia brasileira. O debate dos anos 1940 entre o engenheiro e ex-ministro da Fazenda Eugênio Gudin e o também engenheiro e empresário Roberto Simonsen, sobre qual seria a vocação brasileira: aproveitar o potencial agrícola ou ter uma indústria que produzisse para substituir a importação. Hoje o Brasil tem o seu crescimento capitaneado pelo agronegócio e, segundo alguns empresários e economistas, sofre um processo de desindustrialização. Olhando de 2011, quem o senhor acha que estava certo?

Reis Velloso - O Eugênio Gudin era muito melhor economista do que o Roberto Simonsen. Simonsen era muito melhor estrategista do que o Gudin, que não acreditava em estratégia de desenvolvimento... O Brasil já tinha enveredado nos anos 1930 pelo caminho da industrialização, o que nos salvou de ter uma grande depressão verde e amarela. A indústria brasileira cresceu 10% ao ano de 1932 a 1939, enquanto que o PIB americano de 1939 era mais baixo que o de 1929. Teria sido um erro trágico o Brasil ter recuado. Pelo contrário, avançou graças a posições como as do Roberto Simonsen. Trazendo para os dias de hoje, a minha opinião é que temos que por o pingo no i. O Brasil tem uma grande dependência em relação às commodities agrícolas e também às commodities industriais. Mas a nossa agricultura não é um setor primário. Ela tem conteúdo médio ou alto de tecnologia. Usamos algo extremamente sofisticado chamado de agricultura de precisão. É o uso de ciências agroespaciais para os empreendimentos agrícolas. Quanto à industrialização, nós precisamos ter uma política industrial que inclusive abranja a competitividade interna. A indústria nos últimos anos cresceu menos que a agricultura, menos que os serviços. Perdeu participação no PIB. Em 1980, a participação da indústria de transformação era de 30%, hoje é de 18%. O País não está fazendo com que o a indústria se comporte como corredor de Olimpíada.

 
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