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Nova plataforma promete tornar compartilhamento de genomas de vírus mais fácil e justo

Lançado em fins de agosto, o Pathoplexus por enquanto oferece acesso a dados de quatro variedades de vírus

Rodrigo Andrade

Um novo banco de dados lançado no final de agosto promete impulsionar o compartilhamento de sequências genéticas de vírus conhecidos e emergentes de importância para a saúde pública entre grupos de pesquisa e fomentar novos estudos.

A plataforma, batizada de Pathoplexus, foi desenvolvida por um grupos de pesquisadores da Suíça. Oferece, por enquanto, acesso a dados de quatro variedades de vírus: o da febre hemorrágica da Crimeia-Congo, o do Nilo Ocidental e os do Ebola Sudão e Zaire. Os dados foram obtidos do GenBank, dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, um dos maiores repositórios existentes, que fornece acesso irrestrito a informações genômicas.

A ideia é que dados de outros patógenos sejam adicionados à nova plataforma à medida que os pesquisadores passem a usá-la com mais frequência — o que não será fácil.

Experiências passadas com o GenBank sugerem que essa prática tende a ser desafiadora. Muitos cientistas, especialmente aqueles de países de renda média, resistem à ideia de compartilhar seus dados, temendo que outros possam usá-los para publicar artigos científicos sem lhes dar o devido crédito.

Um repositório alternativo chamado GISAID, fruto de uma iniciativa científica global estabelecida em 2008, tentou resolver esse problema ao exigir que seus usuários se registrem, reconheçam os proprietários dos dados e se esforcem para colaborar com eles. O GISAID ganhou bastante popularidade durante a pandemia e hoje conta com aproximadamente 17 milhões de sequências do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e mais de 70 mil usuários cadastrados.

O Pathoplexus oferece algumas proteções aos usuários que compartilham suas sequências genéticas de vírus. Eles podem restringir como seus dados serão utilizados — como impedir que sejam usados em publicações científicas por até um ano sem sua permissão explícita, o que lhes daria tempo suficiente para publicar seus próprios trabalhos com os dados originais.

Os usuários também devem dar crédito aos proprietários dos dados em suas publicações. A ideia é construir uma comunidade onde os pesquisadores tenham confiança de que suas contribuições serão respeitadas e devidamente reconhecidas.

O Pathoplexus ainda não bloqueia indivíduos que violam esses e outros termos de uso, diferentemente do GISAID, que o faz em casos raros. Em vez disso, a plataforma promete abordar os periódicos para garantir que os dados sejam usados de acordo com as exigências feitas por seu proprietário no momento do compartilhamento.

Os usuários também podem continuar compartilhando suas sequências em bancos de dados locais. Na China, por exemplo, os pesquisadores tendem a publicar sequências de vírus emergentes em bancos de dados chineses. Para vírus já conhecidos, utilizam repositórios com coleções amplas.

Milhares de pessoas já visitaram a nova plataforma, que, até o momento, conta com 50 usuários cadastrados.