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China se torna o maior produtor de carros elétricos no mundo
Governo teve papel importante na consolidação dessa indústria no país, ajudando a sustentar a oferta de veículos elétricos e a demanda por eles
Publicado em 26/04/2023 - Última modificação em 27/04/2023 às 13h51
A China se tornou o maior produtor de veículos movidos por eletricidade (VEs) no mundo. Nos últimos dois anos, o número de unidades vendidas anualmente no país cresceu de 1,3 milhão para 6,8 milhões, fazendo de 2022 o oitavo ano consecutivo em que a China foi o maior mercado mundial de VEs. No mesmo período, os Estados Unidos venderam cerca de 800 mil unidades e o Brasil, pouco mais de 49,2 mil.
O domínio nesse setor não apenas deu à indústria automobilística chinesa um crescimento sustentado durante a pandemia, como também impulsionou o país em sua busca para se tornar um dos líderes mundiais em política climática.
O governo chinês teve papel importante na consolidação dessa indústria, ajudando a sustentar tanto a oferta de veículos elétricos quanto a demanda por eles. A partir de 2009, passou a conceder subsídios financeiros a empresas de VEs para produzirem ônibus, táxis e automóveis individuais — à época, menos de 500 unidades foram vendidas no país.
De 2009 a 2022, a China concedeu mais de US$ 29 bilhões em subsídios e incentivos fiscais para que suas empresas melhorassem seus veículos, tornando-os mais acessíveis a consumidores individuais. A estratégia deu certo: os 6,8 milhões de VEs vendidos no país em 2022 representaram mais de metade das vendas globais.
O governo chinês também ajudou as empresas domésticas a se manterem em seus primeiros anos de vida, por meio de contratos de aquisição. Caso da BYD Co., fundada em 2003. Por volta de 2010, antes de se popularizarem, os VEs já integravam parte do vasto sistema de transporte público do país. Em 2012, governo da cidade de Shenzhen comprou 500 carros elétricos da BYD para serem usados como táxis.
Enquanto isso, políticas locais encorajavam os indivíduos a substituírem seus veículos com motor a combustão interna por elétricos. Em Pequim, as placas dos carros são racionadas há mais de uma década. Leva-se anos ou milhares de dólares para conseguir uma para um carro a gasolina. Mas o processo foi dispensado para quem comprasse um VE.
Os governos locais também trabalharam em colaboração com empresas privadas para personalizar políticas que pudessem impulsionar seu crescimento. A BYD, fabricante chinesa que hoje desafia a californiana Tesla na produção de veículos elétricos, surgiu mantendo um relacionamento próximo com o governo de Shenzhen, primeira cidade no mundo a eletrificar completamente a sua frota de ônibus públicos.
O desenvolvimento da indústria chinesa de VEs, por sinal, está profundamente atrelado à ascensão da Tesla. Isso porque, ao distribuir subsídios, o governo chinês não se limitou apenas às empresas domésticas. Muitas companhias de outros países abriram filiais ou se mudaram para lá para aproveitar as subvenções, caso da Tesla.
Não por acaso, a China tornou-se parte indispensável da cadeia de suprimentos da gigante estadunidense. A Shanghai Gigafactory é hoje o centro de fabricação mais produtivo da Tesla, respondendo por mais da metade dos carros da empresa entregues em 2022.
Também pela primeira vez as empresas chinesas de veículos elétricos sentem que têm chance de expandir para fora da China. Algumas já estão entrando no mercado europeu e até pensando em ir para os Estados Unidos, apesar de seu mercado saturado e da delicada situação política entre os dois países. Os carros a gasolina chineses nunca poderiam ter sonhado com isso.