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Fiocruz firma acordo para construção de biofábrica de mosquitos com bactéria que impede a transmissão de doenças como dengue

Projeto prevê investimento de R$ 100 milhões; local da construção ainda será definido

Rodrigo Andrade

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a World Mosquito Program (WMP), da Universidade Monash, na Austrália, anunciaram em fins de março uma nova parceria para a construção de uma biofábrica capaz de produzir até 100 milhões de mosquitos da espécie Aedes aegypti por semana no Brasil.

A ideia é que eles sejam infectados com a bactéria Wolbachia e liberados nas cidades para que se reproduzam com A. aegypti locais, estabelecendo, aos poucos, uma nova população da espécie, infectada com a bactéria.

A Wolbachia está presente em cerca de 50% dos insetos, inclusive alguns mosquitos. No entanto, não é encontrada naturalmente no A. aegypti. Quando inserida nesse mosquito, impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela urbana se desenvolvam dentro dele, contribuindo para a redução da incidência dessas doenças nas regiões em os mosquitos foram soltos.

Os resultados da implementação da estratégia – conhecida como método Wolbachia – têm sido animadores. Um estudo publicado em 2021 na revista científica New England Journal of Medicine avaliou a incidência de dengue na cidade de Yogyakarta, na Indonésia, dois anos após a liberação de mosquitos infectados. Os resultados indicaram uma redução de 77% nos casos da doença em pessoas com idade entre 3 e 45 anos, e de 86% nas hospitalizações.

A tecnologia já foi introduzida em 11 países, entre eles o Brasil, considerado essencial para a validação da estratégia devido à alta incidência das enfermidades transmitidas pelo A. aegypti. Por aqui, os esforços de pesquisa são coordenados pela Fiocruz e abarcam cinco cidades: Rio de Janeiro, Niterói, Campo Grande, Belo Horizonte e Petrolina. Resultados preliminares obtidos em Niterói, e divulgados em 2021 pela WMP, indicam uma redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas áreas em que houve a intervenção.

A construção da biofábrica no Brasil prevê um investimento de R$ 100 milhões do WMP e do Instituto de Biologia Molecular do Paraná. O local da construção ainda será definido. A previsão é a de que ela entre em operação até 2024.

Além da construção da biofábrica, está previsto um aporte adicional de R$ 80 milhões para ampliação imediata do método outros estados e municípios, sendo R$ 50 milhões do WMP e R$ 30 milhões do Ministério da Saúde, por meio da Fiocruz.

O Brasil foi o segundo país com a maior incidência de casos de dengue na América Latina em 2022, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgados em fins de março: 1104,5 para cada 100 mil habitantes. O país também foi o segundo a registrar o maior número de casos de chikungunya: 14,2 por 100 mil habitantes entre janeiro e março de 2023, com seis mortes confirmadas e outras 23 em investigação.