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Butantan desenvolve soro para tratamento contra o novo coronavírus
Solicitação de testes clínicos foi feita à Anvisa após cinco meses de pesquisas
Publicado em 12/03/2021 - Última modificação em 12/03/2021 às 21h40
O Instituto Butantan solicitou autorização à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar testes clínicos com um soro anti-SARS-CoV-2 desenvolvido para uso em ambiente hospitalar. Composto de anticorpos que reconhecem diferentes partes das proteínas do novo coronavírus, o soro foi desenvolvido em apenas cinco meses, a partir da inoculação em cavalos do vírus inativado por radiação.
Quando inoculados com o vírus, os equinos produzem anticorpos para combatê-lo, fazendo com que proteínas virais se multipliquem em seu plasma sanguíneo, que é extraído, processado e purificado para a fabricação de um soro com anticorpos que reconhecem as proteínas do vírus, impedindo-as de se replicarem no organismo.
Testes realizados com o soro no Instituto Butantan e no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) revelaram diminuição da carga viral em modelo animal, além de modulação da resposta inflamatória e preservação das estruturas pulmonares, com melhora estatisticamente significativa.
O soro é um produto policlonal, ou seja, seus anticorpos reconhecem o novo coronavírus de forma mais abrangente, o que é considerado uma vantagem no combate às suas novas variantes e sobre soros monoclonais já desenvolvidos, que utilizam como antígeno apenas a proteína da espícula do vírus.
De acordo com o Butantan, o soro pode ser especialmente importante para pacientes imunosuprimidos, transplantados ou em tratamento para câncer e doenças autoimunes, e como forma de prevenção em pessoas com comorbidades expostas ao vírus. A soroterapia poderá ser indicada a pacientes infectados em diferentes graus de intensidade da doença enquanto o vírus estiver no organismo.
Atualmente, testes avaliam sua capacidade de neutralizar as variantes em circulação, entre elas a cepa brasileira P.1, considerada mais contagiosa que as anteriores.
Busca por tratamentos
Diferentes estudos com medicamentos já usados para outras doenças ainda não demostraram capacidade de barrar o novo coronavírus, o que torna necessário desenvolver fármacos que tenham como alvo proteínas específicas do SARS-CoV-2.
Em fevereiro, pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, divulgaram um estudo com um medicamento antiviral experimental capaz de acelerar a recuperação de pacientes com a Covid-19.
Publicado na revista Lancet Respiratory Medicine, um estudo com a droga peginterferon-lambda buscou testar pessoas infectadas que não tinham sido hospitalizadas. Segundo o estudo, pacientes que receberam uma única injeção do medicamento elevaram em quatro vezes as chances de terem a infecção curada em sete dias.
Em outro estudo, publicado também em fevereiro na revista Nature, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte (EUA) relatam terem administrado a droga experimental EIDD-2801 em camundongos modificados com tecido de pulmão humano de 48 a 24 horas antes de eles serem expostos ao vírus, reduzindo mais de 25 mil vezes o número de partículas infecciosas no tecido pulmonar humano.
Segundo o artigo, a droga se mostrou capaz de interromper a proliferação do vírus em camundongos e prevenir sua entrada em células humanas, e o medicamento já começou a ser testado em humanos, em ensaios clínicos de fases 2 e 3.
Nos Estados Unidos, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) lideram iniciativas para o desenvolvimento de antivirais contra o novo coronavírus, mas, segundo declaração do diretor dos NIH Francis Collins ao jornal The New York Times, esses medicamentos não deverão estar em uso em tempo de combater a atual pandemia.
Atualmente, além dos NIH, entidades como a Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam como diretriz de tratamento o uso de remédios como o Remdesivir, principalmente em casos mais graves, de pacientes hospitalizados e entubados.
Em meio ao pior momento da pandemia no Brasil, a Anvisa também autorizou seu uso, a fim de impedir a replicação do vírus dentro das células e reduzir o tempo de recuperação, mas não a mortalidade, embora o medicamento ainda não esteja disponível no país.