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Quênia está ajudando outros países da África a explorar energia geotérmica

País está entre os maiores produtores dessa energia do mundo e vem oferecendo suporte técnico aos vizinhos para que eles também desenvolvam seu potencial geotérmico

Rodrigo Andrade

O Quênia está ajudando outros países da África a identificar áreas de exploração de energia geotérmica, gerada a partir do calor proveniente do interior da Terra. O país atualmente ocupa o sétimo lugar na lista de maiores produtores dessa energia no mundo e há décadas vem explorando esse recurso natural — a energia geotérmica responde por 47% da produção total de energia do país, percentual que não para de crescer.

O primeiro poço geotérmico do Quênia foi perfurado ainda na década de 1950. Em 1981, o país tinha sua primeira usina de energia geotérmica. Atualmente, o Quênia dispõe de duas usinas, a de Olkaria, na cidade de Naivasha, a aproximadamente 93 quilômetros da capital Nairóbi, e outra em Eburru, próxima ao vulcão Ol Doinyo Eburru. Juntas, elas geram até 963 megawatts de eletricidade quando operando em potência máxima.

O país deve inaugurar ainda este ano uma usina de 35 megawatts mais ao norte, no campo geotérmico de Menengai, e tem outra em desenvolvimento.

O único outro produtor de energia geotérmica na África, a Etiópia, iniciou sua produção em 1998 e tem uma capacidade instalada de apenas 7,5 megawatts. No entanto, o interesse regional por essa fonte de energia está crescendo, especialmente porque a África trabalha para garantir acesso universal à energia até 2030, de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ONU) — quase 43% da população do continente, o equivalente a cerca de 600 milhões de pessoas, não tem acesso à eletricidade.

A energia geotérmica é uma opção interessante porque é abundante na região, graças ao Grande Vale do Rift da África Orienta, que traz calor para a superfície. Assim como outras energias renováveis, a geotérmica não emite dióxido de carbono (CO2) e, portanto, não contribui com o efeito estufa. Além disso, está disponível dia e noite, não dependendo de sol, vento ou chuva, de modo que é capaz de gerar eletricidade com menos impacto ambiental e custo menor do que o exigido pelos combustíveis fósseis (petróleo e carvão, por exemplo).

O problema é que a instalação dessas usinas requer muito dinheiro e conhecimento especializado — e, como qualquer projeto de desenvolvimento, pode ter custos sociais, como o deslocamento de pessoas de suas terras.

Mesmo com o conhecimento técnico adequado, porém, pode levar vários anos para que esses países passem da exploração à produção de energia geotérmica — após a perfuração de um poço, pode levar até uma década ou mais para que uma usina de energia esteja funcionando. As restrições de financiamento também podem ser uma barreira.

Dada a sua experiência nessa área, o Quênia está ajudando seus vizinhos a desenvolverem suas capacidades de exploração de energia geotérmica. “Estamos oferecendo suporte técnico aos países da região, ajudando-os a desenvolver seu potencial geotérmico”, disse ao ScienceNews Anna Mwangi, geofísica sênior da Companhia de Geração de Energia do Quênia (KenGen), órgão governamental responsável pela operação da usina de Olkaria.

A KenGen vem liderando a exploração geotérmica em vários países próximos. Além das perfurações feitas na Etiópia e em Djibuti, está empreendendo estudos de superfície para identificar potenciais recursos geotérmicos no Sudão, em Uganda, em Ruanda, na Tanzânia, em Zâmbia e nas ilhas Comores ao largo da costa de Moçambique.

Também em colaboração com o Programa de Treinamento Geotérmico, com sede na Islândia, e a Empresa de Desenvolvimento Geotérmico do Quênia, a KenGen está investindo no treinamento de estudantes universitários, profissionais de energia e funcionários de governos de países da África Oriental na área de exploração e desenvolvimento de recursos geotérmicos, bem como financiamento de usinas e gerenciamento.

Com a ajuda do Banco Mundial, o Quênia está montando ainda o Centro de Excelência Geotérmica, que treinará profissionais na região quando for inaugurado em alguns anos.

A América Latina também tem um enorme potencial geotérmico que representa cerca de 15% do total da capacidade geotérmica mundial. As reservas estão espalhadas por países como Argentina, Chile, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, México e Nicarágua. Curiosamente, nos dois primeiros países a produção é considerada baixa ou nula. No Chile, os investimentos começaram na década de 1960, ao passo que no México já há quatro campos fornecendo energia. No Brasil, ainda faltam estudos que visem à exploração da energia geotérmica para geração de eletricidade.