Center for Research on Science, Technology and Society

Um artigo publicado em julho na MIT Technology Review avalia a mudança na forma como o governo dos Estados Unidos passou a divulgar os dados sobre a pandemia de Covid-19 no país, após retirar do Centro de Controle de Doenças (CDC) a gestão dos dados sobre o novo coronavírus, inclusive determinando a remoção de seu site dos dados mais recentes sobre a pandemia.

Com a medida, um indicador crítico parou de ser compartilhado várias vezes por semana, deixando a sociedade norte-americana sem sua única fonte pública de dados agregados, que forneciam informações sobre a capacidade de cuidados intensivos e de leitos hospitalares do país. Contudo, após significativa pressão do público, os mapas e informações existentes voltaram a ser exibidos, embora o CDC tenha informado que os dados não serão mais atualizados. 

A alegação do governo norte-americano, diz o artigo, é de que o sistema do CDC seria inadequado, e que a coleta de dados precisaria ser simplificada. A partir da medida, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS) passou a instruir os hospitais a relatar seus dados para um novo sistema, chamado HHS Protect.

De acordo com a Covid Exit Strategy, instituição independente formada por especialistas em saúde pública e que monitora como o combate à pandemia está sendo feito em cada estado do país, embora sejam informações de domínio público, a nova fonte de dados ainda não foi amplamente divulgada.

O texto relata que documentos vazados revelaram que os dados do HHS, exclusivamente em poder do governo, são minuciosamente detalhados, incluindo mapas locais, indicadores sobre robustez dos testes e recomendações específicas, o que tem gerado preocupação em diferentes setores, visto não estarem mais sob responsabilidade do CDC, uma entidade historicamente reconhecida.

Com base na Lei de Dados do Governo Aberto, a Codiv Exit Strategy defende que o HHS torne os dados acessíveis a cientistas e jornalistas de dados. Essa lei trata os dados como um ativo estratégico e os torna abertos por padrão, reconhecendo que os conjuntos de dados coletados pelo governo são pagos pelos contribuintes e devem ser a eles disponibilizados.

Assinado por Ryan Panchadsaram, co-fundador da Codiv Exit Strategy e ex-vice-diretor de tecnologia dos Estados Unidos, o artigo afirma que o país ficou para trás na resposta à crise provocada pelo novo coronavírus não apenas na questão dos EPIs, máscaras e testes, mas também no tratamento de dados.

Como exemplo dessa defasagem, o artigo destaca que, em março, quando a crise se desenrolava no país, um grupo de voluntários iniciou o COVID Tracking Project, a fim de agregar dados sobre o novo coronavírus de todos os 50 sites estaduais em uma única planilha do Google, configurando-se como única fonte pública nacional de informações sobre casos e testes. Apenas dois meses depois o CDC começou a compartilhar dados por meio de seu próprio painel, enfatiza no texto Panchadsaram.

Para se ter uma dimensão da importância de iniciativas como essa, ele ressalta que, na plataforma de pesquisa Google Scholar, os dados do CDC são citados 30 vezes, e cerca de 10.000 vezes nos resultados de pesquisa do Google, enquanto os dados do COVID Tracking Project são citados 299 vezes e aproximadamente 2 milhões de vezes nas duas plataformas, respectivamente.

Para o autor, compartilhar dados confiáveis ​​é uma das intervenções mais econômicas e eficazes para enfrentar a pandemia, sendo cada vez mais necessário que todos os dados sejam compartilhados com o público. “O esforço necessário para derrotar a pandemia não é apenas uma resposta federal, mas envolve todas as esferas de poder, incluindo os locais e comunitários. Os dados não são um assunto partidário ou uma reserva burocrática, mas uma confiança pública e um recurso público”, diz.