Carta de Conjuntura Nº 31
Por Paulo Mansur Levy
A economia mundial apresentou um cenário relativamente neutro ao longo dos últimos dois meses. Do ponto de vista do crescimento e da atividade econômica, o quadro é de recuperação moderada nos EUA vis-à-vis o fraco desempenho do primeiro trimestre; de manutenção de uma trajetória de expansão também moderada na Área do Euro; e de incertezas na China. Os países desenvolvidos, talvez à exceção dos EUA, ainda se deparam com pressões deflacionárias relevantes e suas políticas monetárias têm se mantido expansionistas ou neutras, o mesmo acontecendo com as políticas fiscais.
Nos EUA, os dados de crescimento do primeiro trimestre foram revistos de 0,5% na primeira estimativa para 1,1% na variação trimestral dessazonalizada e anualizada. Os dados do segundo trimestre já disponíveis apontam para uma aceleração dessa taxa, para o intervalo entre 2,5% e 3%, mas os dados relativos à atividade econômica têm se mostrado bastante voláteis. A expectativa de aceleração do crescimento norte-americano, ainda que modesta, decorre principalmente do comportamento do consumo das famílias e do setor de construção residencial, enquanto os investimentos não-residenciais registraram forte queda no primeiro trimestre, sem apresentar perspectiva mais sólida de recuperação a curto prazo. Na Área do Euro, a recuperação do crescimento manteve o ritmo moderado do ano passado e, além disso, recebeu novos estímulos a partir da reafirmação pelo Banco Central Europeu da política monetária expansionista. Não obstante, a inflação permanece extremamente baixa, colocando em questão a sustentabilidade do processo, — ainda mais diante da perspectiva de saída do Reino Unido da União Europeia, como comentado a seguir. Na China, por seu turno, as perspectivas para a atividade econômica voltaram a ficar nubladas em maio, após uma sinalização positiva em abril. A forte desaceleração dos investimentos voltou a colocar em destaque as dificuldades de uma convergência gradual e controlada do crescimento, especialmente pelo efeito do elevado endividamento acumulado pelas empresas e governos locais nos últimos anos.
Do ponto de vista dos mercados financeiros, a tensão aumentou ao longo de maio e junho com a aproximação da data do plebiscito, que acabou por decidir pela saída do Reino Unido da União Europeia. Na perspectiva dos países emergentes, a aversão ao risco e, por consequência, os fluxos de capital, foram afetados pelo Brexit desde o início de junho, mas, ao longo de abril e maio, ambos foram relativamente favoráveis a esses países. Destaca-se a valorização das moedas nacionais e a continuidade da recuperação dos preços de commodities, seja pelo quadro geral ligeiramente mais positivo em comparação ao início do ano, seja por fatores específicos, em particular o efeito de condições climáticas potencialmente adversas sobre os preços de produtos agrícolas.
A perspectiva da saída do Reino Unido da União Europeia, mesmo que prevista para ocorrer em dois anos e em condições ainda a serem definidas, trouxe novas incertezas aos mercados, que desde o plebiscito têm se mostrado bastante voláteis. Espera-se que o próprio Reino Unido seja o principal país a ser negativamente afetado pela decisão, tanto pelo canal do comércio internacional quanto pelo dos fluxos de capital, vindo em segundo lugar os países da União Europeia. Alguma instabilidade já pode ser observada no mercado financeiro britânico, ensejando a reação do Banco da Inglaterra, no sentido de aliviar medidas de natureza regulatória que estavam sendo implantadas. Na medida em que os efeitos do Brexit forem combatidos por políticas ainda mais expansionistas nos países desenvolvidos, isso pode eventualmente favorecer os países emergentes. Assim, por exemplo, com a percepção de que o cenário de incertezas levará a uma postura mais cautelosa pelo Federal Reserve, a taxa de juros do título do Tesouro norte-americano de 10 anos caiu de 1,73% ao ano na véspera do plebiscito para 1,4% ao ano no início de julho, indicando que a liquidez internacional tende a se manter elevada.
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