Por Marcos Hecksher
Após cinco meses consecutivos de encolhimento do mercado de trabalho brasileiro entre fevereiro e julho de 2020, agosto e setembro registraram os primeiros movimentos de recuperação parcial do número total de postos de trabalho. Esta nota busca estimar qual fração da queda sem precedentes causada pela pandemia de Covid-19 foi revertida até setembro, distinguindo as trajetórias de diferentes posições na ocupação e setores de atividade.
A reversão em agosto da tendência do nível de ocupação é observada em duas bases provenientes do IBGE: a
PNAD Covid-19 e as séries da PNAD Contínua mensalizadas. O nível de ocupação caiu de 54,4% em fevereiro para 46,1% em julho na PNAD Contínua mensalizada, uma queda que corresponde a 8,3% da população de 14 anos ou mais, o que equivalente a uma perda de 14,1 milhões de postos de trabalho. O nível de ocupação estimado pela PNAD Covid-19 é mais alto, mas as tendências são parecidas nas duas pesquisas. De julho a setembro, na PNAD Covid-19, o nível de ocupação subiu 0,7 ponto percentual (p.p.) e a população ocupada aumentou em 1,5 milhão de pessoas. Essa alta dos últimos dois meses corresponderia a uma recuperação de 10,3% do que foi perdido nos cinco meses anteriores.
A combinação da PNAD Contínua de fevereiro a maio com a PNAD Covid-19 de maio em diante permite desagregar a evolução da população ocupada e mostrar quais tipos de emprego fecharam mais vagas, quais interromperam a queda e começaram a reabrir vagas primeiro e quais estão mais distantes do patamar pré-pandemia. O destaque – mais impactado até que o setor de serviços domésticos, que acumula uma perda de 32,1% entre fevereiro e setembro – é o grupo de alojamento e alimentação, cujas vagas foram reduzidas em 34,5%, passando a empregar menos de dois terços de sua força de trabalho pré-pandemia. Como na maioria dos casos, o fundo do poço do setor foi atingido em julho (-35,7%), mas sua recuperação nos dois meses seguintes ainda é muito modesta.