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Índice de qualificação do trabalho agregado e desagregado por setores

Por Cristiano Da Costa Silva, Jose Ronaldo de C. Souza Jr. e Tarsylla da S. de G. Oliveira

Esta Nota atualiza as séries dos indicadores Ipea de qualificação da mão de obra, de contribuição do fator trabalho e do grau de ociosidade do capital humano até o segundo trimestre de 2022. São apresentados também novos indicadores setoriais do Ipea de Índice de Qualificação do Trabalho (IQT), que combinam informações de mercado de trabalho com dados de escolaridade e experiência.

Os resultados com a reponderação da PNAD Contínua corroboram as evidências encontradas na Nota anterior, indicando que os trabalhadores com menos qualificação foram relativamente mais afetados pela pandemia. Porém, as novas estimativas indicam que o impacto é menor que o calculado anteriormente, reduzindo o efeito composição no mercado de trabalho e o crescimento do IQT durante o período.

O afrouxamento das medidas restritivas e a consequente retomada do emprego presencial, especialmente no setor de serviços, favoreceu a demanda por mão de obra com baixa qualificação, o que explica a queda do IQT em 2021 e o crescimento precedente do índice em 2020 de aproximadamente 5,4 p.p. na base anual. Tanto as horas efetivamente trabalhadas quanto o Índice Ajustado de Contribuição do Fator Trabalho (IACFT) – variação nas horas trabalhadas ajustada à variação no IQT – fecharam 2021 acima do patamar registrado no último período pré-pandemia (2019T4).

No cômputo global, o IQT e o Índice de Horas Efetivamente Trabalhadas fecharam 2022T2, respectivamente, em um patamar 3,1% e 4,5% superior ao observado em 2019T4, de maneira que a contribuição efetiva do capital humano para a atividade econômica (IACFT) já se encontrava 7,4% acima do patamar pré-pandemia. Esses dados indicam a consolidação da recuperação e melhora no mercado de trabalho.​

Nesta Nota, foi incluída uma análise do IQT desagregada em doze subsetores com base na decomposição da atividade econômica adotada pelo IBGE no Sistema de Contas Nacionais Trimestrais. No período entre o pri- meiro trimestre de 2012 e o segundo trimestre de 2022, todos os subsetores demonstraram melhora efetiva na composição da população ocupada. Na comparação da evolução dos três grandes setores com o IQT agregado destacam-se os seguintes fatos: i) o setor agropecuário a partir do segundo trimestre de 2015 exibe trajetória inferior; ii) na indústria, três dos quatro subsetores apresentaram crescimento acima da média; e iii) no setor de serviços, apenas o subsetor de atividades de serviços obteve crescimento relativo superior ao nível do IQT agregado.

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Índice de qualidade do trabalho e suas implicações sobre a produtividade e a taxa de desocupação

Por Cristiano da C. Silva, José Ronaldo de C. Souza Jr. e Tarsylla da S. de G. Oliveira

Propomos nesta nota um novo indicador Ipea denominado Índice de Qualidade do Trabalho (IQT), que combina informações de mercado de trabalho com dados de escolaridade e experiência. Com base nesse indicador, analisamos as mudanças de composição do trabalho no Brasil de 2012 a 2020, que apresentam um viés de melhora mais acentuada nos momentos de crise econômica – período em que os trabalhadores menos qualificados estão mais expostos ao desemprego. A saída desses trabalhadores da força de trabalho pode resultar em um viés considerável na apuração de indicadores de ociosidade do fator trabalho, variável importante em estudos sobre produtividade – como também será mostrado nesta nota – e produto potencial.

Nossos resultados mostram um crescimento médio de 2,31% ao ano (a.a.) na qualidade da população ocupada (PO) no mercado de trabalho brasileiro durante o intervalo de 2012T2 até 2021T1 – por meio de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua), do IBGE. Estimativas contrafactuais indicam a acumulação de estoque de capital humano da população em idade ativa (PIA) como principal driver para essa evolução, indicando a importância de fatores estruturais.

Do ponto de vista cíclico, no período analisado, observamos que o efeito composição na PO contribuiu para o crescimento mais acelerado do IQT durante fases de recessão, com o índice crescendo no ritmo de: 2,7% a.a. na comparação entre o primeiro trimestre de 2014 e o quarto trimestre de 2016; e 11,9% a.a. na comparação entre o quarto trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2020. Já nas fases de expansão econômica, o crescimento médio ficou entre 0,90% a.a. e 1,5% a.a. – bem inferior às varrições dos períodos recessivos. Assim, concluímos que a participação relativa dos grupos demográficos mais qualificados aumentou em decorrência da maior perda líquida de vagas dos trabalhadores de baixa qualificação em períodos de turbulência econômica.

Avaliamos também o impacto do ajuste pela qualidade da PO sobre a produtividade total dos fatores (PTF) e a taxa de desocupação. As estimativas indicam que a PTF estimada da forma convencional (em que o fator trabalho é mensurado pelas horas efetivamente trabalhadas, sem correção por qualidade) superestima em 13,3 pontos percentuais (p.p.) o indicador no período analisado – quando comparado à PTF ajustada pela qualidade do trabalho. Contrariamente à medida convencional, sem ajuste pela qualidade, nossos resultados apontam para uma redução significativa na eficiência dos fatores de produção durante o período analisado.

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As evidências mostradas neste trabalho confirmam que o forte ajuste na composição da força de trabalho ocupada nos dois primeiros trimestres de 2020 – período em que os grupos demográficos com menor acumulação de experiência e educação foram relativamente mais afetados pela perda de emprego – explicam em grande parte o avanço observado pela PTF mensurada da forma convencional. Quando ajustamos a variação das horas efetivas trabalhadas pelo IQT, observamos uma queda da PTF de 0,4%, na comparação entre o primeiro trimestre de 2021 e o mesmo período do ano passado, contra um aumento de 3,6% na medida convencional de PTF – sem ajuste pelo IQT.

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