Por Maria Andréia P. Lameiras e Marcelo L. de Moraes
Os dados mais recentes revelam que o cenário inflacionário no país segue bastante pressionado, de modo que, nos últimos doze meses, terminados em outubro, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 10,7%. Nota-se, ainda, que essa aceleração da inflação vem sendo caracterizada por um aumento generalizado de preços, uma vez que os reajustes, inicialmente mais centrados nos bens e serviços administrados e nos alimentos no domicílio, estão se disseminando pelos demais segmentos da economia. Dentro desse contexto e levando-se em conta que a maior parte da alta inflacionária no ano já está contabilizada, as projeções de inflação do Grupo de Conjuntura do Ipea foram revistas para cima, de modo que as estimativas para o IPCA e para o INPC, em 2021, foram alteradas de 8,3% e 8,6% para 9,8% e 10,1%, respectivamente.
Para 2022, mesmo diante de um cenário que prevê desaceleração da inflação em todos os segmentos, há uma perspectiva de que o descompasso entre a oferta e a demanda de matérias-primas deva perdurar no primeiro trimestre. Além disso, o elevado nível da inflação corrente pode gerar algum tipo de inércia inflacionária na formação dos reajustes no próximo ano. Sendo assim, as previsões para o IPCA e o INPC também foram revistas para cima, avançando de 4,1% e 3,9% para 4,9% e 4,6%, respectivamente.
O recuo esperado da inflação, em 2022, está balizado na estimativa de acomodação dos preços do petróleo, ainda que em patamar elevado, combinada à baixa probabilidade de efeitos climáticos intensos e à projeção de um aumento de 7,8% da safra brasileira, que devem gerar uma pressão menor sobre combustíveis, energia elétrica e alimentos. Cabe notar que, apesar dos efeitos positivos sobre a demanda doméstica da retomada mais forte do mercado de trabalho e da implementação do Auxílio Brasil, as variações dos preços de bens e serviços no próximo ano devem ser atenuadas pela sinalização de continuidade da trajetória de alta dos juros. Ressalta-se, no entanto, que os riscos inflacionários, para o próximo ano, seguem associados, externamente, à possibilidade de novas acelerações de preços de commodities e, internamente, à percepção de alguma fragilidade fiscal, além da instabilidade política, oriunda do processo eleitoral, cujos efeitos podem desencadear um novo ciclo de desvalorização cambial.