Os efeitos da pandemia sobre os rendimentos do trabalho e o impacto do auxílio emergencial: os resultados dos microdados da PNAD Covid-19 de setembro

Sandro Sacchet de Carvalho

Os impactos da pandemia sobre os rendimentos de setembro podem ainda ser medidos pelas diferenças entre a renda média efetivamente recebida e a renda média habitualmente recebida. A análise dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Covid-19 de setembro revela que os rendimentos médios habitualmente recebidos foram de R$ 2.377, enquanto os efetivamente recebidos foram de R$ 2.154, ou seja, 90,6% dos rendimentos habituais, valor 1,2 ponto percentual (p.p.) acima do mês anterior. Os trabalhadores por conta própria receberam efetivamente apenas 78,8% do que habitualmente recebiam (contra 76,7% em agosto), tendo seus rendimentos efetivos médios alcançado R$ 1.531. Já os trabalhadores do setor privado sem carteira assinada receberam efetivamente 88,1% do habitual. Trabalhadores do setor privado com carteira e funcionários públicos, por sua vez, receberam efetivamente em média cerca de 95% do habitual.

De modo geral, seja por região, Unidade da Federação (UF), posição na ocupação ou grupos demográficos, as diferenças entre a renda efetiva e a habitual foram menores que em agosto, mas diminuíram em um ritmo menor que o apresentado no mês anterior, relativamente a julho.

Os dados mostram que 6% dos domicílios (cerca de 4,1 milhões) sobreviveram apenas com os rendimentos recebidos do auxílio emergencial (AE), proporção ligeiramente menor que em agosto. A proporção de domicílios exclusivamente dependentes do AE foi significativamente maior no Nordeste, ultrapassando os 12% no Piauí, na Bahia e no Maranhão.

Além disso, em média, após considerar o AE, a renda domiciliar ultrapassou em 4% a que seria observada com os rendimentos do trabalho habituais. Esse impacto foi maior entre os domicílios de renda baixa, em que, após o AE, os rendimentos atingiram 133% do que seriam com as rendas habituais. Entretanto, o aumento médio na renda domiciliar em virtude do AE foi um pouco menor que no mês anterior (R$ 392 contra R$ 401), já captando a redução do valor do AE que se iniciou no final de setembro.

Os microdados da PNAD Covid-19 de setembro nos permitem avaliar que o AE foi suficiente para superar em 54,5% a perda da massa salarial entre os que permaneceram ocupados, um acréscimo de 13,5 p.p. em relação ao mês anterior. Os dados da pesquisa são claros em mostrar, por meio da faixa de renda ou da região, que o papel do AE na compensação da renda perdida em virtude da pandemia foi proporcionalmente maior que no mês anterior, principalmente nos domicílios de baixa renda. Isso se deve, principalmente, ao fato de diferenças entre as rendas efetivas e habituais continuarem a diminuir de forma mais acentuada entre aqueles que foram mais atingidos, uma vez que o total dos desembolsos do auxílio captados pela PNAD Covid-19 caiu de R$ 28,80 bilhões em agosto para R$ 28,15 bilhões em setembro.

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