Por Maria Andréia Parente Lameiras e Leonardo Siqueira Vasconcelos
O mercado de trabalho foi muito afetado pela crise econômica recente, especialmente em 2015 e 2016. No entanto, mesmo nesse período mais crítico, a população ocupada mais escolarizada – com nível superior – continuou aumentando, enquanto todas as demais faixas de escolaridade sofreram perdas significativas.
Dentro dessa perspectiva, esta Nota Técnica tem por objetivo não apenas retratar a evolução dessa parcela da população mais escolarizada no mercado de trabalho brasileiro, mas também avaliar se, de fato, esses trabalhadores estão desenvolvendo atividades compatíveis com a sua especialização – ou se está ocorrendo uma subutilização dessa mão de obra mais graduada.
Os resultados mostram que, ainda que venha crescendo o número de trabalhadores com ensino superior no mercado de trabalho brasileiro, parte deste contingente não consegue obter uma função compatível com o seu grau de instrução. Logo, apesar de apresentar uma taxa de desemprego abaixo das demais categorias, mais de um terço dos indivíduos mais graduados está ocupando postos de emprego que não requerem o seu nível de conhecimento. Adicionalmente, os efeitos da crise econômica sobre o mercado de trabalho reforçaram ainda mais esse quadro, de modo que, no terceiro trimestre de 2018, de cada dez trabalhadores ocupados, quatro estavam em funções que prescindiam da sua qualificação. No caso dos mais jovens, o estudo revela que sua inserção nos segmentos de ocupação correspondentes com seu grau de instrução é ainda mais difícil. Se no fim de 2014 38% dos indivíduos de 24 a 35 anos, com ensino superior, possuíam empregos abaixo do seu nível de qualificação, no último trimestre este percentual já havia avançado para 44,2%.