Economia Mundial

Carta de Conjuntura Nº 35

Por Paulo Mansur Levy

Esta segunda seção da Carta de Conjuntura Nº 35 avalia que o cenário externo foi relativamente favorável à economia brasileira no último trimestre. Embora ainda com alguma instabilidade, os sinais da atividade econômica apontam para um crescimento sincronizado entre os principais países/regiões do mundo: EUA, União Europeia, China e, até mesmo, Japão. Esse movimento apoia-se em políticas monetárias ainda acomodativas e em políticas fiscais moderadamente expansionistas. A inflação acelerou nos EUA e na Área do Euro (AE), sobretudo pelo efeito do aumento do preço de commodities, em especial do petróleo. Contudo, há sinais de acomodação desses preços nos últimos meses. Ainda assim, as medidas de inflação subjacentes, embora se aproximando das metas dos respectivos bancos centrais, tendem a desacelerar nos próximos meses. Nessa perspectiva, espera-se que a normalização da política monetária avance gradualmente nos EUA, enquanto na AE e no Japão ela seguiria expansionista, ainda que com sinalizações de mudança no caso europeu.

Eventuais instabilidades no período estiveram relacionadas a incertezas de natureza política. Nos Estados Unidos, a nova administração promoveu mudanças na política externa e enfrentou dificuldades internas no Congresso e frente à imprensa e à opinião pública. Como parte do otimismo que prevaleceu após as últimas eleições deveu-se à expectativa de implementação de medidas de desregulamentação econômica (do sistema financeiro e da saúde, por exemplo), de uma reforma tributária e de aumento dos gastos públicos em infraestrutura, estes percalços tendem a reverter parcialmente as expectativas positivas iniciais. Por outro lado, a retórica agressiva em relação ao comércio exterior e à necessidade de medidas protecionistas por enquanto não se materializou em medidas concretas além do abandono da Iniciativa do Pacífico (TPP na sigla em inglês) e de uma proposta de rediscussão dos termos do NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio). Na Europa, as eleições na Holanda e na França, onde candidatos de centro foram vitoriosos, reduziram o risco de que partidos radicais anti União Europeia viessem a assumir o poder, minando assim ainda mais a força econômica e política do bloco.

Vale notar que, ao longo de 2016, a economia mundial passou por choques relativamente intensos – forte instabilidade financeira na China no primeiro trimestre, votação sobre a saída do Reino Unido da União Europeia em junho e eleição de Donald Trump nos EUA em novembro – sem que se tenha observado, como em momentos anteriores da trajetória pós-crise, uma perda muito forte de dinamismo. Isso significa maior resiliência e, portanto, perspectiva mais sólida de continuidade do crescimento à medida que o aumento do apetite pelo risco – expresso, por exemplo, no aumento dos fluxos de capital para países emergentes – estimule os investimentos.

Acesse o texto completo



------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Fale com o autor

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *