Carta de Conjuntura nº 31
Por Sandro Sacchet de Carvalho
No primeiro trimestre de 2016, as condições do mercado de trabalho permaneceram em ritmo acelerado de deterioração. A taxa de desemprego alcançou 11,2%, 3,2 pontos percentuais acima do observado no mesmo período do ano anterior. O setor populacional mais atingido pelo desemprego foram os jovens entre 14 e 24 anos tanto em termos absolutos como em termos relativos.
Desde o último trimestre de 2015, os dados da PNADC indicam que o aumento do desemprego foi causado majoritariamente pela queda da população ocupada, tendo sido reduzida a contribuição do aumento da população economicamente ativa (PEA). Por outro lado, o aumento do desemprego não tem sido ainda mais intenso, pois muitos trabalhadores têm tomado a iniciativa de se tornarem trabalhadores por conta-própria. A queda do número de trabalhadores formais (e também de empregados sem carteira) está sendo mais forte que a de ocupados, situação que se agravou no primeiro trimestre deste ano. De acordo com o CAGED, entre janeiro e março de 2016 foram encerradas mais de 320 mil vagas formais, contra cerca de 65 mil no mesmo período do ano passado.
Na comparação com o trimestre anterior, o rendimento real médio não apresentou um desempenho tão ruim quanto à ocupação, mantendo-se em patamar semelhante. Entretanto, na comparação com o ano anterior, o rendimento real já apresenta queda de mais de 3%. A PNADC mostra que a redução nos salários reais foi pior em setores que exigem menor qualificação, resultado corroborado pelo fato de que a queda dos rendimentos foi mais forte entre aqueles que recebem menos que o salário mínimo. Os rendimentos reais para quem recebe menos que o mínimo caíram cerca de 10% nos últimos 12 meses. Já o rendimento real do decil superior da distribuição de renda caiu 6,7% no último ano. Apenas o trabalhador que ganha exatamente o salário mínimo não apresentou perda real de rendimento. A queda generalizada nos rendimentos, somadas a queda na ocupação fizeram com que no trimestre entre fevereiro e abril de 2016, a massa salarial se situa-se em 173 bilhões de reais (em R$ de março de 2016), mesmo patamar que se encontrava há três anos.
Devido ao cenário macroeconômico atual, é provável que se observe a manutenção da queda do nível de ocupação, visto que esta tem sido causada principalmente pelo menor número de admissões. Se isso resultará em aceleração da taxa de desemprego, dependerá muito do comportamento da PEA. Se ela voltar a crescer como no primeiro semestre de 2015, o desemprego subirá no mesmo ritmo acelerado apresentado neste trimestre.
Desemprego dos jovens
Tendo em vista que o grupo dos jovens foi o mais afetado pelo aumento do desemprego, seu comportamento será analisado com mais detalhe. A taxa de desemprego entre os mais jovens (até 25 anos) aumentou quase 10 pontos percentuais em dois anos, de 16,8% no primeiro trimestre de 2014 para 26,36% no mesmo período deste ano. O gráfico 3 mostra como se divide a população entre 14 e 24 anos entre ocupados, desocupados, aqueles que só estudam e os chamados “nem-nem”, ou seja, aqueles que nem estudam nem participam da força de trabalho. A proporção de jovens ocupados vem caindo desde 2013 de acordo com a PNADC. Após atingir um pico de 44% no terceiro trimestre de 2012, os jovens ocupados eram apenas 37% no primeiro trimestre de 2016. No entanto, até 2015, essa queda na ocupação era refletida muito mais no aumento daqueles que apenas estudavam do que em qualquer elevação de desempregados. Os jovens que somente estudavam subiram de 35% em 2012 até 38,2% no último trimestre de 2014, e, desde o início da crise, recuaram novamente até 36,3% no início de 2016. Por outro lado, a proporção de jovens desocupados oscilava em torno de 8% até 2015, tendo subido aceleradamente desde então, alcançando 13,2% em 2016. Enquanto isso, a parcela de jovens nem-nem não mostrou qualquer tendência, tendo oscilado em torno de 13% durante todo o período.