Decomposição da Taxa de Crescimento do PIB pelo Lado da Demanda: uma Metodologia Alternativa

CARTA DE CONJUNTURA Nº 30

Por José Bruno Fevereiro

As contribuições dos componentes da demanda para crescimento do PIB tradicionalmente utilizadas na análise de conjuntura econômica não fazem distinção entre a demanda que é suprida por bens e serviços produzidos domesticamente da que é atendida por importações. Como consequência, a soma das contribuições ao crescimento do PIB das variáveis de demanda como consumo das famílias, investimento e exportações invariavelmente difere da taxa de crescimento do PIB. Para reconcilia-las, tradicionalmente calcula-se uma contribuição das importações que é descontada da soma das contribuições das variáveis de demanda. Consideramos, no entanto, que esse procedimento é inadequado e acaba muitas vezes levando a uma interpretação equivocada de que as importações reduzem o PIB. Na realidade, esquece-se que, assim como o PIB, as importações são de fato uma variável de oferta. Logo, em uma análise pelo lado da demanda tem-se que o crescimento desta também tende a resultar em um crescimento das importações. Em resumo, ao contrário das intepretações dadas a elas, as contribuições associadas a cada componente da demanda final calculadas na metodologia convencional são, na realidade, contribuições ao crescimento da oferta total, i.e. PIB + importações.

Entendemos que uma análise mais correta do crescimento do PIB pelo lado da demanda deve levar em consideração que o crescimento da demanda final só contribui positivamente para o crescimento do PIB caso esse aumento seja produzido por bens e serviços produzidos domesticamente. Portanto, para o cálculo correto das efetivas contribuições de cada componente da demanda agregada essa Nota Técnica apresenta uma metodologia alternativa em que o conteúdo doméstico e importado de cada componente da demanda final são calculados, a partir das matrizes insumo-produto (MIPs) e das tabelas de recursos e usos, para o período de 2001 a 2015.

Os resultados para 2015 apontam que a queda de -3,8% do PIB pode ser explicada, na realidade, pela contribuição de -1,72 p.p. do consumo das famílias (ao invés de -2,49 p.p. pela metodologia convencional), de -0,13 p.p. do consumo do governo (ao invés de -0,20 p.p.), de -2,72 p.p. da formação bruta de capital fixo (ao invés de -3,82 p.p.) e de 0,73 p.p. das exportações (ao invés de 0,68 p.p.). Outra forma de compreender o que é feito na metodologia proposta é que a contribuição imputada as importações no método convencional (-1,99 p.p. em 2015) é distribuída pelos diferentes componentes da demanda de acordo com os, respectivos, coeficientes de conteúdo importado calculados a partir das MIPs. Em suma, as contribuições menos negativas dos componentes da demanda interna obtidos para 2015 pela metodologia proposta revelam que parte considerável da queda da demanda se deu na demanda por bens e serviços de origem importados.

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