Acessibilidade urbana por ride-hailing e transporte público considerando o trade-off entre custo monetário e tempo de viagem

Resumo

Serviços de ride-hailing (transporte sob demanda por aplicativo) têm o potencial de expandir o acesso às oportunidades, mas os custos monetários desse modo de transporte podem limitar seus benefícios para a população de baixa renda. Este estudo examina como os serviços de ride-hailing podem influenciar desigualdades sociais e espaciais de acesso a oportunidades, considerando o trade-off entre custos monetários e tempos de viagens. Utilizando um ano de dados agregados de viagens da Uber no Rio de Janeiro em 2019 e um novo modelo de roteamento multiobjetivo, analisamos como serviços de ride-hailing podem melhorar o acesso a empregos quando utilizados tanto como único modo de transporte quanto de maneira integrada ao transporte público, realizando a conexão de primeira milha. Aplicamos medidas cumulativas de acessibilidade considerando múltiplas combinações de limites de tempos de viagem e de custos monetários para comparar as fronteiras de Pareto de acesso a empregos calculadas para cada uma das alternativas de transporte. Os resultados indicam que, em comparação com o transporte público, o ride-hailing pode expandir significativamente a acessibilidade tanto quando utilizado isoladamente em viagens relativamente curtas (entre dez e quarenta minutos), quanto para viagens de mais de trinta minutos quando usado de maneira integrada fazendo conexão de primeira milha com o transporte público. Em ambos os casos, as vantagens de acessibilidade do ride-hailing são restringidas em larga medida por custos monetários mais altos. Quando consideramos o impacto do custo tarifário sobre a renda da população, os benefícios de acessibilidade dos serviços de ride-hai¬ling limitam-se principalmente aos grupos de alta renda. Esses resultados sugerem que políticas públicas que busquem integrar serviços de transporte sob demanda com sistemas de transporte público dificilmente trarão benefícios às populações de baixa renda se não forem acompanhadas de alguma forma de desconto tarifário ou subsídio capaz de aliviar suas barreiras financeiras. Este estudo também mostra que levar em conta os trade-offs entre custos monetários e tempos de viagem pode influenciar de maneira significativa os resultados dos estudos de acessibilidade urbana e equidade, e que esses trade-offs deveriam ser considerados por pesquisas futuras.

Publicação
Texto para Discussão Ipea