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A verdadeira responsabilidade

* Por Luiz Gonzaga Bertelli

Responsabilidade social é um valor corporativo que não pode prescindir de bom planejamento e adequada avaliação de projetos, para que se obtenha a melhor relação custo-benefício - prática essa que permite otimizar os resultados atingidos com os sempre escassos investimentos, diante do tamanho das necessidades de milhões de brasileiros de baixa renda. Se esse parâmetro jamais é desconsiderado nas organizações bem sucedidas, pertençam elas à administração pública ou ao âmbito da iniciativa privada, com maior razão - eu ousaria dizer - deveria ser uma lei draconiana nas entidades do Terceiro Setor. Acontece que, para muita gente, esses princípios elementares da boa gestão ainda pouco ou nada têm a ver com as atividades das entidades que labutam para atenuar os graves problemas sociais em áreas marcadas pela ausência ou ineficácia da ação do governo ou das empresas.

Nada mais equivocado, dentro da moderna visão da importância e das características do Terceiro Setor, que vem sendo crescentemente marcado pela gestão altamente profissional (e, por isso mesmo, de elogiáveis resultados) de seus funcionários, até nos casos em que eles têm a sorte de contar com o apoio do exército, cada vez maior, dos voluntários que generosamente doam suas habilidades, seu tempo e seu dinheiro, para minorar as carências sociais.

Deixando de lado os casos denunciados de corrupção ou da inadmissível pilantropia - que, felizmente, não chegam a comprometer o trabalho e o apoio da sociedade às entidades filantrópicas sérias, transparentes e comprometidas com nobres missões -, é preciso manter acesa a consciência de que o desenvolvimento social e econômico é decorrência direta da escolaridade e do conhecimento acumulado pelo seu capital humano - essa riqueza formada pela qualidade da mão-de-obra e, hoje, reconhecida como o grande diferencial tanto para assegurar ao profissional um lugar ao sol no competitivo mercado de trabalho, quanto para alçar as nações a patamares dignos de distribuição de renda e sustentabilidade.

Sem desmerecer os efeitos imediatos dos programas sociais do governo, não pode deixar de causar preocupação as recentes pesquisas indicando que um em cada quatro brasileiros depende desse tipo de rendimento para sobreviver. Preocupação que se intensifica, em especial, entre os analistas do Terceiro Setor que, para usar a linguagem popular, preferem ensinar a pescar do que sempre dar peixe a quem tem fome. E isso, não se pode negar, só será obtido com oferta de educação de qualidade às novas gerações, preparando-as para atuar com ética e competência nos setores que escolherem para trabalhar.

Essas reflexões decorrem de um olhar mais atento ao tema escolhido para o X Seminário do Terceiro Setor, que aconteceu em agosto do ano passado no Teatro CIEE e reuniu especialistas para debater a grave crise do sistema público de saúde. Com as raras e honrosas exceções de praxe, a situação da saúde pública no Brasil é calamitosa, como revelam as greves que estão paralisando os hospitais em vários estados do Nordeste. Situação crítica que se deve não apenas à falta de dinheiro, mas também à má gestão dos recursos disponíveis - deficiência, aliás, que não afeta apenas esse setor e que decorre, entre outras razões, de um ensino descolado da realidade, no qual professores desmotivados fingem que ensinam e alunos fingem que aprendem.

As modernas entidades do Terceiro Setor, assim como as corporações de ponta, sabem que promover consistentes avanços na educação - essa condição básica de desenvolvimento sustentado -- não é tarefa apenas do governo, mas exige a colaboração de todos, principalmente num país como o Brasil, que coleciona avaliações extremamente negativas em desempenho dos estudantes e vergonhosas taxas de analfabetismo puro e funcional, que deprecia a qualidade do nosso capital humano.

Uma das mais eficazes parcerias na busca da qualidade na capacitação dos futuros profissionais encontra sua tradução no estágio, prática que alia, num esforço em favor do futuro, empresas dispostas a receber jovens para treinamento, escolas convencidas da importância de complementar o aprendizado acadêmico com a prática profissional e estudantes que não hesitam em somar a jornada do estágio às atividades escolares e, mais, que resistem às tentações do consumismo e dedicam boa parte da sua bolsa-auxílio para pagar os estudos e se manter na sala de aula.

É a experiência com a dura realidade de milhões de jovens esperançosos, vivenciada diuturnamente há mais de quatro décadas, que move o CIEE a alertar os responsáveis pelas políticas públicas e de assistência social para os riscos embutidos nas modificações à Lei do Estágio em vigor, que estão em tramitação no Congresso Nacional. Esses riscos nascem, em boa parte, do desconhecimento da importância do estágio para as carreiras dos novos talentos, por parte de alguns burocratas corporativistas que, a pretexto de coibir abusos (que existem, mas são raros e podem ser erradicados com a constante supervisão do estágio, como prova a ação do CIEE), querem fechar mais essa porta aos estudantes, que tanto se sacrificam na busca de conhecimentos e capacitação profissional. Uma porta bastante promissora, como autoridades poderiam descobrir se se dessem ao trabalho de ouvir empresas e estudantes: uma pesquisa indica que 64% dos estagiários conseguem efetivação. Além disso, uma enquete realizada com quase 7 mil estagiários revela que, com exceção de 18% (que preferem compras e lazer), os estagiários contam com a bolsa-auxílio para quitar a mensalidade e outras despesas escolares, ajudar a família e pagar transporte e refeição. Isso, enquanto aprendem a pescar.

*Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e diretor da Fiesp.

Fonte: A Notícia


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