Seminário sobre trabalho reuniu especialistas no Ipea

Seminário sobre trabalho reuniu especialistas no Ipea

Palestrantes do Brasil, França e México discutiram em Brasília crise, organizações e oportunidades de trabalho
  

A Diretoria de Estudos, Cooperação Técnica e Políticas Internacionais (Dicod) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) promoveu nesta terça-feira, dia 27, o seminário Trabalho em Debate: Crise e Oportunidades, que reuniu especialistas do Brasil, França e México para debaterem organizações, democracia, desenvolvimento e equidade em torno do trabalho.

Na parte da manhã, o evento contou com a presença do sociólogo francês Jean-Louis Laville, um dos responsáveis pela elaboração do conceito de economia solidária. "A questão que se coloca hoje é como é possível articular ação cidadã preocupada com igualdade e preservação do meio ambiente e ações do poder público", afirmou Laville, que falou sobre as perspectivas da economia solidária e defendeu o desenvolvimento sustentável.

O representante da Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, Maurício Sardá de Faria, falou sobre autogestão, lembrando que aqueles que a criticam devem estar "em grande dificuldade" depois da recente crise econômica. "A economia solidária permite que se aspire a um novo projeto civilizatório. Os formuladores de políticas públicas de Estado para economia solidária precisam pensar em condições gerais de produção assim como pensaram para a implementação do capitalismo", declarou.

Outro participante da mesa, o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Jorge Abrahão, disse que no Brasil houve afirmação, embora tardia, do estado social. Segundo Abrahão, a questão tributária ainda é um dos maiores obstáculos para que haja mais avanços sociais no País.

Desenvolvimento e equidade

"O mundo é interdependente, mas a interdependência é desigual porque existe uma hierarquia. Nós, que somos o pólo mais fraco, temos que construir nosso modelo a partir da nossa realidade". A afirmação foi feita pelo economista e professor da Universidade Federal de Uberlândia Niemeyer Almeida Filho, um dos palestrantes da parte da tarde do seminário.       

Niemeyer foi contemplado com uma bolsa para estudar o desenvolvimento do País no programa Cátedras Ipea para o Desenvolvimento. Ele escolheu como patrono o mineiro Ruy Mauro Marini, um dos principais pensadores da teoria da dependência, que fez parte dos debates do desenvolvimento econômico nos anos 50 e 60. A pesquisa se enquadra no pensamento da inserção internacional autônoma, que é um dos sete eixos do Ipea.

O especialista mexicano Carlos Salas, que apresentou o tema Desenvolvimento e equidade junto com Niemeyer e o francês François Xavier Merrien, mostrou que dependência de seu país a uma estrutura econômica montada de acordo com o modelo estadunidense não gerou progressos na busca para a equidade. Antes da crise, segundo Salas, entre 2006 e 2008, a proporção de pobres cresceu 10% no México.

As empresas maquiladoras, que trabalham como montadoras de multinacionais e atuam nas zonas de livre comércio mexicanas, além de não pagarem impostos, contam com mão-de-obra barata em jornada de trabalho intensificada. Salas acredita que é preciso implementar mudanças no modelo de acumulação do capital e na política econômica em seu País.

O francês Merrien fez um histórico de como os organismos internacionais trabalharam com o conceito de desenvolvimento e de como o conceito de equidade se encaixou a partir dos anos 70. Na visão desse professor da Faculdade de Ciências Sociais e Políticas de Lausanne, Suíça, a teoria neoliberal do Estado mínimo é limitada pela falta de referências às políticas de emprego, às políticas cambiais mais justas no campo internacional, e mesmo às políticas mais justas de desenvolvimento.

Merrien alertou para os efeitos das políticas caritativas e filantrópicas na África subsariana, de se tornarem crescentes e criarem um sistema de dependência. "Mais de 50% da África subariana depende da ajuda internacional e sofreu o crescimento do setor informal para a busca da sobrevivência", ressaltou.

O debatedor da mesa, diretor da Dicod Mário Lisboa Theodoro, afirmou ser inadmissível que o Brasil tenha o mesmo nível de pobreza dos países mais pobres do mundo. "Apesar do grande desenvolvimento do século XX, o Brasil não resolveu a questão da desigualdade por não ter conseguido acabar com os modelos que perpetuam essa desigualdade", disse. Para ele, o modelo agrário e o escravocrata se reproduziram na sociedade. "A classe média" exemplificou, "está acostumada a um padrão de serviços com mão-de-obra muito barata, como as domésticas."  A mudança no país, na visão do professor, extrapola o âmbito econômico para o político. "Como quebrar este círculo vicioso de produzir pobres? Queremos mudar? Queremos igualdade?", questionou.