Política cambial anula política tarifária brasileira

Política cambial anula política tarifária brasileira


Comunicado divulgado nessa quinta, 11, avalia os efeitos de desalinhamentos do câmbio no comércio externo

Disparidades cambiais entre países têm tornado ineficazes as proteções tarifárias acordadas no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio). Esta é uma das conclusões do Comunicado do Ipea no 106 - Impactos do câmbio nos instrumentos de comércio internacional: o caso das tarifas, divulgado nessa quinta-feira (11), no Gabinete da Presidência da República, em São Paulo.

Tomando como exemplos os casos de Brasil, China e Estados Unidos, o estudo aponta como a valorização da moeda brasileira (cerca de 30%), somada à depreciação dos câmbios norte-americano (-10%) e chinês (entre -20% e -30%), gera como efeito o aumento consistente das importações brasileiras, além de turbinar as exportações dos dois outros países.

“A política cambial tem um efeito importante de anular uma política de proteção tarifária a que o Brasil tem direito. É como se praticássemos tarifas negativas de importação”, explica Vera Thorstensen, professora da EESP-FGV e bolsista PNPD do Ipea. Ainda segundo Vera, o efeito prático é sentido na indústria, que passa a concorrer, por exemplo, não apenas com peças e componentes vindos de fora, mas com produtos acabados.

Guerra cambial e dumping
O estudo apresentado faz parte de uma pesquisa da Diretoria de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais (Dinte) do Instituto sobre regulação do comércio global. A partir da afirmação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que toda guerra cambial é uma guerra comercial, o foco do documento foi apontar que tipo de guerra seria essa e quais os instrumentos utilizados para travá-la.

“Estudamos tarifas e outros instrumentos de comércio. Todo um arsenal utilizado nos últimos 60 anos se tornou ineficaz por conta das desvalorizações e valorizações. Como o câmbio é responsabilidade do FMI e comércio, da OMC, e as duas casas não se falam, eles não estudam o efeito dessa nova realidade”, aponta Vera.

Ainda segundo a professora, todos os instrumentos de comércio têm de ser repensados, visto que os desalinhamentos cambiais têm se configurado como uma espécie de dumping, anulando direitos – de proteção tarifária – adquiridos ao longo dos anos. A apresentação do Comunicado do Ipea no 106 contou ainda com a participação dos técnicos de Planejamento e Pesquisa do Ipea Ivan Tiago Machado Oliveira e André Calixtre.

Leia a íntegra do Comunicado do Ipea nº 106

Veja os gráficos da apresentação do Comunicado do Ipea nº 106