Investimentos produtivos são vitais ao crescimento

Investimentos produtivos são vitais ao crescimento

Dependência de comércio de commodities e pequena participação das manufaturas no comercio externo preocupam

A falta de competitividade da indústria no Brasil é um fator de preocupação para o Grupo de Análise e Previsões do Ipea (GAP), conforme a apresentação do boletim Conjuntura em Foco, primeira edição de 2012, nesta quarta-feira (15), no auditório do Instituto no Rio de Janeiro. De acordo com o coordenador do GAP, Roberto Messenberg, a concentração das exportações brasileiras em commodities e o pequeno volume de participação dos produtos manufaturados no comércio externo são sinais de falta de dinamismo da indústria doméstica e de obstáculos à trajetória do crescimento econômico sustentável no país.

Enquanto a fatia de exportações de commodities aumentou de 29,3% para 36% da pauta total, entre 2005 e 2011, a venda de produtos industrializados caiu de 55,1% para 47,8%. Em 2010, o Brasil respondeu por apenas 0,69% do volume mundial das vendas externas de manufaturados, cinco anos depois de ter atingido o pico de 0,81% (em 2005). Para técnicos do GAP, os números podem indicar prejuízos recorrentes da indústria doméstica no médio e no longo prazo.

Messenberg iniciou a apresentação fazendo referência ao filme “A noite dos desesperados” (They shoot horses, don’t they?), do diretor americano Sydney Pollack, “O filme retrata uma situação ultrajante para pessoas envolvidas num concurso de dança e, na verdade, funciona como metáfora para descrever uma situação que a maioria dos analistas do mercado financeiro considera de normalidade para o funcionamento do mercado de trabalho”. O coordenador do GAP criticou a visão destes analistas que propõem medidas de restrição da demanda agregada para que a atual taxa de desemprego no mercado de trabalho (6% em 2011), considerada insustentável, retorne a patamares relativamente mais altos, condizentes com a situação “de normalidade” aludida acima.

O pesquisador defendeu também o aumento do ritmo dos investimentos produtivos na economia com a participação ativa do setor público. Para o economista, o governo precisa consolidar um arranjo de política econômica, no bojo de uma estratégia fiscal, que proporcione um ambiente favorável ao desempenho da indústria. Para ele, no Brasil, o empresariado não olha exclusivamente para os sinais transitórios de mercado na hora de definir os planos de investimentos, mas, principalmente, para os sinais mais permanentes emitidos pelo setor público. "Pode ser diretamente através do investimento público, ou através de parcerias público-privadas, ou ainda por meio de concessões ao setor privado. O importante é que a taxa agregada de investimentos cresça de forma acentuada na economia", ressaltou Messenberg.

De acordo com o pesquisador, a economia brasileira está progredindo e, embora a taxa de investimentos ainda se encontre num nível inferior a 20% do Produto Interno Bruto (PIB), deve atingir algo como 25% do PIB nos próximos cinco anos: “Acho que estamos progredindo. Não foi por acaso que o mercado financeiro criticou o Banco Central (BC) quando este começou a fazer a coisa certa", disse Messenberg, referindo-se ao momento em que o BC reduziu a taxa de juros no ano passado, na contramão dos anseios do mercado financeiro. O coordenador do GAP também defendeu a criação de mecanismos de financiamento doméstico como forma de garantir maior autonomia das empresas domésticas na captação de recursos. “A gente não pode ficar dependendo exclusivamente do capital de longo prazo do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] e de captações lá fora [no exterior]. Isso pode avançar”.

Leia a primeira edição de 2012 do boletim Conjuntura em Foco.