Desenvolvimento econômico passa por estímulo à indústria

Desenvolvimento econômico passa por estímulo à indústria

 

Desindustrialização ocorrida desde a década de 1990 foi danosa a diversos setores da economia brasileira

O desestímulo à indústria brasileira e seus reflexos para o desenvolvimento econômico foram o ponto alto da coletiva de imprensa sobre o boletim Conjuntura em Foco nº 18, elaborado pelo Grupo de Análise e Previsões (GAP) do Ipea e lançado no auditório da representação do Instituto no Rio de Janeiro. O coordenador do GAP, Roberto Messenberg, comparou os processos de desindustrialização observados na economia brasileira e nas economias avançadas a partir de dois aspectos distintivos. Nas economias avançadas, a queda dos pesos relativos da indústria, em termos de emprego e de produto, ocorre quando os respectivos níveis de renda per capita situam-se em patamares muito mais elevados do que no caso brasileiro. E, diferentemente do que passou a ocorrer na economia brasileira desde meados dos anos 1990, a queda de peso relativo das atividades manufatureiras nos países desenvolvidos não significou perda de dinamismo econômico; ao contrário, houve, em tais casos, crescimento contínuo da produtividade na indústria de transformação, responsável, em última instância, pela elevação sistemática dos níveis de renda per capita.

Messenberg também fez uma breve analogia do atual panorama econômico brasileiro com o filme Burn! (Queimada) do diretor italiano Gillo Pontecorvo. No longa, um agente inglês espalha ideias econômicas liberais entre escravos africanos da ilha Queimada (nas Antilhas) sob domínio português, incitando-os a uma revolução libertária, com vistas à instauração de uma "republiqueta de bananas" (na verdade, dependente das exportações de açúcar) conveniente aos interesses econômicos da Inglaterra. Tais interesses, evidentemente, não incluíam o desenvolvimento econômico nem a autonomia política do país emergente; sonhos, na verdade, dos revolucionários patriotas, duramente trazidos à realidade com a ilha em chamas financiadas pelo investimento direto estrangeiro. Messenberg fez uma analogia entre os bloqueios estrangeiros aos projetos de desenvolvimento econômico e social na ilha Queimada (pelas chamas) e no Brasil pelo Tsunami de capital estrangeiro que afoga a indústria doméstica.

“No filme, o capital estrangeiro, personificado por Marlon Brando, ateou chamas às possibilidades de desenvolvimento econômico e social de Queimada. No Brasil atual, o capital estrangeiro, na personificação dos analistas econômicos do mercado financeiro, deseja fazer a mesma coisa com a indústria doméstica, ao pressionar a política econômica contra os interesses do desenvolvimento, procurando influenciar os níveis da taxa de juros, da taxa de câmbio, dos gastos públicos e da alocação de recursos nos programas sociais" comentou. Nesse sentido, o economista ressaltou o peso da indústria para o desenvolvimento econômico brasileiro: “Com a morte da indústria, nos tornaremos, de fato, a ilha Queimada; cuja moeda no filme, internacionalmente forte, aliás, feita de ouro, curiosamente chamava-se reale.”

Fernando Augusto Mattos, professor e pesquisador da UFF, destacou que, nos anos 90, a política econômica da época era absolutamente convicta de que investimentos na indústria eram desnecessários para o desenvolvimento e para o crescimento econômicos, o que, segundo ele, está na raiz de nossos problemas de competitividade e dinamismo de hoje. Fernando também comentou a postura atual do governo. “O governo tem agido com medidas corretas, mas de fôlego curto. É preciso pensar em medidas de longo alcance, para o longo prazo”, disse.

Assistente do GAP, Renata Carvalho Silva apresentou alguns dados sobre as perdas de peso relativo e de força da indústria no Brasil nos dois últimos anos. Na comparação entre 2010 e 2011, a variação acumulada no ano do PIB industrial caiu de 10,4% para 1,6%, e o ritmo de crescimento do consumo das famílias caiu de 6,9% para 4,1%, refletindo o enfraquecimento dos investimentos na indústria. Contudo, Renata apontou para um cenário melhor em 2012. “Os investimentos devem aumentar, principalmente no ramo da construção civil, onde há maiores perspectivas de expansão”.

Leia a íntegra do Boletim Conjuntura em Foco número 18