Conjuntura em foco analisa o crescimento da economia e seus condicionantes

Conjuntura em foco analisa o crescimento da economia e seus condicionantes

 

Nova edição do boletim foi lançada na quinta-feira, no Rio de Janeiro 


A sustentabilidade de taxas significativamente mais elevadas de crescimento na economia brasileira depende de uma onda de investimentos desvinculados do desempenho do consumo corrente. Esta foi uma das conclusões apresentadas nesta quinta-feira, dia 23, durante o lançamento da 20ª edição do Conjuntura em Foco, no Rio de Janeiro. Assim, para que a economia brasileira possa alçar voos mais altos e duradouros, torna-se necessário criar um polo de dinamismo alternativo e complementar ao consumo para acelerar investimentos, em infraestrutura e logística, principalmente, sob coordenação do setor público e com participação do setor privado.

De acordo com o coordenador do Grupo de Análise e Previsões (GAP) da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea, Roberto Messenberg, "o crescimento de longo prazo depende de um processo sistemático de geração e difusão dos ganhos de produtividade no sistema econômico, o que somente será possível com a internalização da dinâmica dos investimentos portadores do progresso técnico”. Segundo ele, o crescimento que depende exclusivamente do consumo não é capaz de promover essa dinâmica, tornando-se muito mais sensível à ocorrência de choques eventuais, como uma brusca alteração de preços das commodities ou uma piora da conjuntura internacional.

Messenberg relacionou o atual cenário econômico brasileiro ao filme Quest for Fire (Guerra do Fogo), do cineasta francês Jean-Jacques Annaud. No longa, há 80 mil anos atrás, uma tribo local de "homens da caverna" acha um lastro de fogo e quer preservá-lo a todo custo, porque não domina o conhecimento sobre a produção da chama. Quando o fogo se esvai, a tribo começa a procurar desesperadamente por outro lastro produzido de forma acidental. Por analogia, Messenberg defende que a fragilidade das condições de vida da tribo causada pela falta de domínio sobre a produção do fogo é comparável à fragilidade das condições do crescimento da economia brasileira sem a internalização da dinâmica dos investimentos portadores do progresso tecnológico.

Neste sentido, Messenberg elogiou o recente pacote de concessão de rodovias e ferrovias anunciado pela presidenta Dilma Rousseff, lembrando, ainda, o nome do economista Ignácio Rangel, o qual, na década de 1980, já antevia os pontos críticos do atual panorama de crescimento econômico no Brasil, ao apontar para a necessidade da coordenação, pelo setor público, do processo de investimentos públicos e privados na economia.

Também presente à coletiva, o técnico de Planejamento e Pesquisa José Ronaldo de Castro Souza Júnior fez uma comparação analítica sobre o desempenho do crédito e o comportamento da inadimplência a partir dos anos 2000, nas economias dos EUA e do Brasil. Segundo Souza Júnior, um dos motivos da ocorrência da crise norte-americana no período anterior a 2007 foi a concessão irrestrita de crédito imobiliário a pessoas físicas, evolvendo, ainda, o direito de refinanciamento das aquisições dos imóveis a cotações continuamente crescentes.

Esse movimento acabou por resultar num processo insustentável de endividamento das famílias junto às instituições financeiras. Já no caso do Brasil, o crédito imobiliário encontra-se num patamar muito inferior ao que se poderia associar à crise ocorrida nos EUA. A esse respeito, ainda, o único indicador que poderia suscitar maior preocupação é o de comprometimento da renda das famílias com o serviço de suas dívidas. Não obstante, tal indicador tem se mantido estável, em torno de 22%, desde o segundo semestre de 2011. Por outro lado, dada a tendência de continuidade do cenário positivo para os níveis de emprego e de taxas de juros na economia brasileira, o comprometimento da renda das famílias com o serviço de suas dívidas aponta para uma trajetória declinante.

Leia a íntegra do Boletim Conjuntura em Foco número 20