Radar aborda formação profissional e mercado de trabalho

Radar aborda formação profissional e mercado de trabalho

A 32ª edição do boletim foi publicada nesta quinta-feira, dia 8 de maio

Mesmo sendo o Brasil um dos países que mais formam graduados em educação no mundo, não há indícios de excesso de oferta desses profissionais no mercado de trabalho. Esta é a principal conclusão de um dos três artigos da 32ª edição boletim Radar: tecnologia, produção e comércio exterior, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) nesta quinta-feira, 8 de maio. O estudo Subsídios e proposições preliminares para um debate sobre o magistério da educação básica no Brasil, de autoria do técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto Paulo Meyer, Carolina Andrade Silva e Paulo Henrique Dourado da Silva, explora três das questões centrais no debate sobre a docência na educação básica: titulação adequada, precarização dos vínculos de trabalho e baixa atratividade financeira da carreira.

A análise mostra que, por meio dos cursos especiais de formação pedagógica, a questão da adequação da titulação encontrar-se-ia, em grande parte, contornada. Para esta questão, os autores sugerem uma política de adequação de titulação, realocando os profissionais em disciplinas para as quais sejam habilitados ou provendo-lhes uma complementação pedagógica para que se habilitem nas disciplinas com maior carência docente. O trabalho ressalta, ainda, que um problema maior seria a quantidade de docentes temporários ou terceirizados. Em física e em química, a proporção dos docentes em regência de classe que são terceirizados ou com vínculos temporários nas redes estaduais de ensino médio superam os 40%. 

Por fim, os autores indicam os baixos salários, o pouco reconhecimento da carreira docente e a falta de plano de carreira como barreiras ao recrutamento e retenção de bons profissionais nas redes de ensino. “Em alguns aspectos, porém, os empregos docentes exibem bom desempenho trabalhista”, apontou Paulo Meyer. Pela análise feita, em um ranking multivariado do desempenho de 48 carreiras universitárias no mercado de trabalho, as áreas da Educação aparecem como a quarta carreira com menor jornada semanal média, oitava com maior taxa de ocupação e 13ª no quesito cobertura previdenciária.

Médicos
O Radar 32 também traçou um panorama do mercado de trabalho para os profissionais da medicina no país. Elaborado com base na Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (Rais/MTE) e na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE), o estudo Escassez de Médicos no Brasil: análise de alguns indicadores econômicos buscou identificar e mensurar a carência destes profissionais, justamente em um momento em que a questão ganhou um novo contorno, com a decisão do Governo Federal de instituir o programa Mais Médicos.


As pesquisadoras Luciana Mendes Santos Servo e Roberta da Silva Vieira calcularam alguns indicadores ligados à suposta escassez de profissionais em âmbito nacional, como os relacionados à remuneração, carga horária e oferta de cursos de graduação. Os indicadores, tanto na Rais quanto na PNAD, apontam para a mesma conclusão: a existência de escassez do profissional médico. Ao final, os resultados foram analisados à luz das políticas públicas propostas até o momento, e foram indicadas novas questões de pesquisa ligadas ao tema.

Engenharias
O segundo artigo da publicação (A questão da disponibilidade de engenheiros no Brasil dos anos 2000), dos técnicos de Planejamento e Pesquisa do Ipea Paulo Meyer, Aguinaldo Nogueira Maciente, Divonzir Arthur Gusso, Bruno César Araújo e Rafael Henrique Moraes Pereira, mostra que os setores da construção civil, indústria extrativa mineral, serviços industriais de utilidade pública, indústria de transformação e administração pública são os que apresentam escassez relativa de profissionais da engenharia. O artigo levanta questões estruturais que repercutem nas possibilidades de expansão, com qualidade, da formação profissional no campo das ciências, da tecnologia, das engenharias e da matemática (CTEM).

De acordo com Paulo Meyer, os dados agregados não sinalizam escassez, porque quase 60% do emprego formal no Brasil está em setores menos demandantes de trabalho de Engenharia – serviços, comércio e agropecuária, extração vegetal. “Dadas as tendências recentes de formação profissional, de emprego e de crescimento econômico, parece até mais provável, nos próximos anos, a ocorrência com mais frequência de situações de excesso que de carência desse tipo de trabalhador”, concluiu.

Leia o boletim Radar nº 32