Jessé Souza destaca a importância de o Brasil se conhecer

Jessé Souza destaca a importância de o Brasil se conhecer

O presidente do Ipea participou da Conversa sobre Justiça e Paz, em Brasília, na última segunda-feira


O presidente do Ipea, Jessé Souza, foi o convidado desta segunda-feira, 1º de junho, da Conversa sobre Justiça e Paz, um projeto da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília. Ele abordou o tema A família e as classes populares: o Brasil não conhece o Brasil, faz de conta. Em sua palestra, o presidente do Instituto enfatizou que há uma realidade invisível das classes. “O tema das classes é extremamente importante para que se entenda não só o que pode ser feito de melhoria para a capacitação do trabalhador brasileiro, mas porque a questão da desigualdade abismal é preterida no discurso político, reforçando o abandono das classes mais pobres”, alertou. Segundo Jessé, cerca de 30% dos brasileiros pertencem à classe média.

O presidente do Ipea também criticou a percepção economicista que define classe social apenas pela renda, mas não consegue esclarecê-la. “Reconhecer a classe por meio da renda, na verdade, é desconhecê-la, tornando a invisível. É importante conhecer essas classes e suas interrelações, e o Ipea é a instituição para fazer isso, com uma extraordinária inteligência montada em termos de ciências sociais”, disse o professor.

Jessé defendeu que é preciso conhecer o Brasil não só para o Estado poder atender melhor as classes menos favorecidas, mas também para a própria sociedade se conhecer, visto que o Estado não é capaz de resolver tudo. Em sua exposição, o presidente do Ipea analisou o pensamento de autores brasileiros como Gilberto Freyre, Sergio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Florestan Fernandes. Referindo-se a Santo Agostinho, ressaltou a diferença entre “religião mágica” e “religião ética”, sendo a última a que implica em uma noção expansiva de cidadania.

O secretário-geral da CNBB e bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília, Dom Leonardo Steiner, reforçou que, de fato, a sociedade brasileira não se conhece: “Só quem peregrina e anda nas nossas periferias sabe que é uma realidade muito sofrida e que há muito o que fazer. E, como disse o professor Jessé, não esperemos do Estado, porque o Estado também somos nós”. Compuseram a mesa ainda Agnaldo Portugal e José Marcio de Moura, integrantes da Comissão de Justiça e Paz.

Durante o evento, às 19h, o público teve a oportunidade de trocar opiniões e levantar questionamentos. Estiveram presentes ao auditório Dom José Freire Falcão, ao lado da Catedral Metropolitana, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores e ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, o chefe de Gabinete do Ipea e ex-ouvidor-geral da União, José Eduardo Elias Romão, além de professores da UnB, da Universidade Católica de Brasília, da Fiocruz, e representantes da Arquidiocese de Brasília e da Cáritas. O debate foi moderado pelo professor Agnaldo Portugal e transmitido pela TV Comunitária e pela Rádio Maria.