Estudo aponta diminuição nos postos de trabalho em 2015

Estudo aponta diminuição nos postos de trabalho em 2015

Os jovens foram os mais afetados pelo desemprego e informalidade no país


O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou nesta terça- feira, 10, em Brasília, a 60ª edição do Boletim Mercado de Trabalho (BMT). O estudo traça um panorama geral do mercado de trabalho brasileiro em 2015 com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Pnad-C/IBGE), no contexto de seu desempenho nos últimos anos. Complementarmente, foram utilizadas as informações da Pesquisa do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS).

De acordo com a análise feita, do ponto de vista quantitativo, a geração de postos de trabalho diminuiu, bem como a qualidade dos postos tem piorado nos últimos meses, ao menos nas dimensões captadas pelo rendimento e pela informalidade. “O valor médio das taxas de desemprego trimestrais em 2015 foi de 8,50%, enquanto em 2014 foi de 6,80%. Vale destacar que a maior variação da taxa de desemprego ocorreu no primeiro trimestre de 2015, passando de 6,50%, no quarto trimestre de 2014, para 8%, no primeiro trimestre de 2015, um aumento de 1,5 ponto percentual (p.p.). Nos demais trimestres de 2015 observam-se aumentos sucessivos na taxa de desemprego, de 0,4 p.p., 0,6 p.p. e 0,1 p.p. respectivamente. Essa sucessão de aumentos leva a taxa de desemprego a encerrar o ano em 9,0%, o que representa uma elevação de 2,50 p.p. em relação ao quarto trimestre de 2014”, mostra o estudo.

A conclusão mais preocupante é que não parece haver indícios de que o processo esteja perdendo fôlego, de modo a oferecer perspectiva de reversão de tendência no futuro imediato. Ressalta-se ainda o movimento de subida na taxa de participação, que afeta de maneira mais pronunciada os indivíduos que não são chefes de família, entre eles os jovens, que se sobressaem, considerando-se as tendências ascendentes com intensidades destacadas no desemprego e na informalidade.

“O que a gente vê hoje, analisando os últimos dados da Pnad Contínua, é que o jovem tem sofrido com o aumento do desemprego. Observa-se também que, por conta de perdas de rendimento ou até mesmo de emprego do chefe de família, outro membro do domicílio venha tentar compensar essa perda de bem estar e deixe alguma outra atividade para buscar emprego”, disse o coordenador de Trabalho e Renda do Instituto, Carlos Henrique Leite Corseuil, durante o lançamento.

Aspectos ocupacionais
A seção Nota Técnica traz, inicialmente, o texto Mudanças na demanda por diferentes tipos de atividades no mercado de trabalho brasileiro entre 1985 e 2002, elaborada por Jadir Soares Junior e Bruno Funchal. A análise mostra um aumento na demanda por atividades não rotineiras analíticas e interativas e a redução na demanda por atividades rotineiras manuais, conforme previsto pelo modelo. Aponta, ainda, um aumento na demanda por atividades rotineiras cognitivas. As causas dessas mudanças podem ser atribuídas à disseminação dos computadores no mercado de trabalho.

O artigo A composição do emprego sob a ótica das competências e habilidades ocupacionais, do técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea Agnaldo Nogueira Maciente, destaca a composição do emprego no Brasil, normalmente empreendida de acordo com informações demográficas dos trabalhadores ou de informações relativas à sua escolaridade ou ocupação. A pesquisa parte de uma ótica alternativa, que identifica as competências e habilidades dos trabalhadores, os requisitos e as tarefas ocupacionais. Os resultados gerais indicam que o Brasil possui mão de obra empregada em ocupações que utilizam mais intensivamente habilidades secretariais, ligadas a atividades administrativas, às habilidades físicas e motoras e para a gestão de conflitos, ao conhecimento em matemática, e às habilidades em transportes e em trabalho em equipe.

De autoria de Mauricio Cortez Reis, o artigo Uma descrição das ocupações no Brasil a partir de informações sobre atividades normalmente desempenhadas pelos trabalhadores aponta como os dados da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO, 2010) podem ser utilizados para caracterizar as ocupações no Brasil. O autor mostra que esse tipo de caracterização das ocupações pelo tipo de tarefa pode ajudar no melhor entendimento de questões relevantes para ao mercado de trabalho brasileiro, como aquelas relacionadas com a desigualdade de rendimentos e as mudanças na estrutura ocupacional do emprego, os diferenciais de rendimentos entre grupos, a transferência de capital humano entre ocupações, entre outros.

Direitos trabalhistas

Na seção Políticas em Foco, o estudo Efeitos da Ampliação dos Direitos Trabalhistas Sobre as Condições de Trabalho das Empregadas Domésticas, de autoria dos pesquisadores Joana Simões, Ana Luiza de Holanda Barbosa e Guilherme Hirata, analisa se a EC nº 72 gerou impactos na formalização, na jornada de trabalho e nos salários das empregadas domésticas, bem como identifica outros efeitos sobre a atividade profissional. Entre os resultados obtidos, está o de que a legislação impactou de forma distinta as empregadas domésticas mensalistas e diaristas. No caso das mensalistas, observou-se um aumento na formalização e na redução da jornada de trabalho, mas não no salário. Além disso, cresceu o número de diaristas, fato que pode estar associado à substituição da empregada mensalista por diarista.

O segundo artigo, escrito por André Gambier e José Valente, traça essencialmente um perfil dos pescadores artesanais no Brasil, público-alvo da modalidade de seguro-desemprego conhecida por seguro defeso, buscando compreender a adequação desse instrumento de política ao seu público-alvo.

Por fim, na seção Economia solidária e políticas públicas, o texto Finanças solidárias com base em bancos comunitários de desenvolvimento:explorando os dados do diagnóstico no Nordeste do Brasil, de autoria de Leonardo Prates, Ariadne Scalfoni Rigo e Richard Andrade, apresenta resultados referentes a uma pesquisa junto a 26 Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs). O artigo aborda questões como articulações e parcerias, órgãos de gestão, mecanismos de controle social, linhas de crédito, circulação de moedas sociais e instrumentos para o alcance da população mais pobre, com vistas a amenizar a situação de exclusão financeira em que se encontram.

Já o trabalho de Sandro Pereira Silva e Leandro Marcondes Carneiro, Análise da informações do mapeamento de economia solidária para empreendimentos de finanças solidárias, explora distintas dimensões organizativas e operativas dessas iniciativas, dividindo as análises, para fins de comparação, entre os três principais tipos de empreendimentos de finanças solidárias (EFS): bancos comunitários, cooperativas de crédito e fundos rotativos.

O último estudo, Os fundos rotativos solidários no Brasil: uma perspectiva a partir do mapeamento dos fundos 2011-2012, de Simaia Santos Barreto, debate as condições gerais acerca da dinâmica de organização e funcionamento dos bancos comunitários de desenvolvimento da região Nordeste do Brasil. A partir de dados de uma pesquisa nacional sobre fundos rotativos, a autora enfatizou a relação dos FRS como elementos potencializadores de políticas públicas de desenvolvimento local.

Queda na ocupação e rendimento reflete em redução da massa salarial

Acesse o Boletim Mercado de Trabalho nº 60

Vídeo: Veja o comentário do coordenador Carlos Henrique Corseuil sobre o mercado de trabalho

Vídeo: Confira a matéria com os principais dados do 60° Boletim Mercado de Trabalho (BMT)